O cristão verdadeiro defende a vida, e dá da sua vida.
A fé se mostra mais nas
ações que nos ritos, orações e palavras. É isso que Jesus afirmara
na discussão com as autoridades religiosas em plena festa da dedicação do
Templo. Por isso, os chefes do Templo o questionam: “Até quando nos deixarás em
suspenso? Se tu és o Messias, o Cristo, dize-nos abertamente!” E Jesus retruca:
“Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu
Pai dão testemunho de mim” (Jo 10, 24-25).
Mas Jesus não deixa de
apresentar suas credenciais de Messias e enviado do Pai: são as ações que
realiza em favor da humanidade, especialmente em favor dos ‘últimos’ da escala social. E, no
debate com as autoridades, nega a legitimidade de uma fé que não tenha apoio
nas ações. Para ele, quem é solidário e compassivo está ao lado do ser humano e
também está com Deus. E quem está de alguma maneira contra o ser humano, mesmo
que invoque o nome de Deus e participe de ritos religiosos, está, de fato,
contra ele. Este é o critério que confere a autenticidade à nossa fé!
É neste mesmo contexto que
Jesus diz que dá a vida eterna ao seu rebanho, que ninguém o toma da sua mão.
Mas ser ovelha do rebanho de Jesus Cristo, implica em escutar sua Palavra,
aderir a ela e seguir seus passos; exige assumir sua ‘pró-existência’ como dinamismo
fundamental da vida. Crer nas obras que defendem e resgatam a dignidade humana
e multiplica-las é mais importante que crer na sua Palavra (cf. Jo 10,38). Crer
em Jesus significa prosseguir sua ação, entregar-se sem reservas à luta pelo
bem da humanidade.
A autenticidade da nossa fé
em Jesus não está na multiplicação de atividades desconexas e sem alma. O
denominador comum das múltiplas ações que expressam nossa fé é o amor, o
dinamismo básico e permanente que nos move no reconhecimento do outro como
outro, na afirmação da sua dignidade inviolável e na priorização das suas
necessidades, inclusive em detrimento das nossas. É o amor que faz da vida de
Jesus e da nossa uma existência ‘descentrada’,
uma vida voltada aos outros, aos pobres e necessitados. É o amor que
nos faz humanos, que nos dá à luz como pessoas.
É por isso que, deportado
na ilha de Patmos, João ‘visualiza’ a Igreja como uma imensa comunidade rede de
pessoas, impossível de ser quantificada, “de todas as nações, tribos e
línguas”. São as pessoas que deram suas vidas nas inúmeras lutas pela vida e
‘lavaram’ suas roupas num amor compassivo e solidário, como o Mestre Jesus. É
isso que as mantém de pé diante do Cordeiro, esse é o ‘culto’ que lhe prestam.
E Jesus enxuga suas lágrimas e as conduz às fontes de água viva.
O amor autêntico não
reconhece nenhum tipo de fronteira: ele derruba os muros levantados em nome da
religião, da raça, da classe, do sangue, dos interesses individuais. Porque
parte sempre do ‘outro’, o amor é o único dinamismo capaz de globalizar
verdadeiramente o mundo, sem excluir ninguém. É isso que testemunham Paulo e
Barnabé, quando abrem as fronteiras rígidas do judaísmo aos povos não-judeus. Experimentando
esta acolhida e respeito, os cristãos de origem não-judaica vivem uma grande
alegria, que nem a violenta perseguição movida por mentes medrosas e violentas
conseguem fazê-los voltar atrás.
Mas aqui precisamos lembrar
de novo que o amor não se resume a um princípio formal ou a um difuso sentimento
interior. Sendo uma opção fundamental e um horizonte iluminador e crítico, o
amor não existe fora das infinitas e pequenas ações que o encarnam na
realidade. Poderíamos dizer que o amor não existe em si mesmo, mas ‘vai sendo’
na imensa constelação de ações que afirmam e potencializam a vida e a dignidade
das pessoas, começando pelas que nos são próximas e chegando àquelas que
deslocamos para longe. O amor não é substantivo, mas verbo, ação!
Jesus de Nazaré,
Cordeiro de Deus e Bom Pastor! Através dos homens e mulheres que vivem a
vocação como serviço e compaixão fazes teu amor libertador chegar a todas as
gerações. Faz com que nossa palavra e nosso testemunho ajude a Boa Notícia do
teu Reino a chegar a todos os rincões da terra. Tu nos fizeste, nos chamaste e
somos teus. Como as mães, cujo dia hoje celebramos, possamos então realizar com
desvelo e criatividade a missão que nos confiaste, membros diferentes de um
único corpo no qual bate um único coração. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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