A Igreja é a ‘casa-de-Deus’, aberta a todos os povos.
Todas as
religiões se apresentam como caminhos que asseguram a salvação, a felicidade. E
esta oferta se ajusta à insaciável sede de vida e de plenitude que move o ser
humano. Os caminhos oferecidos se dividem em dois grupos: os que propõem a
saída de si mesmo para encontrar a plenitude nas realidades externas e
transcendentes; os que propõem e ensinam o mergulho em si mesmo e o
esquecimento das realidades externas, inclusive dos demais seres humanos.
Mas existe
uma terceira possibilidade, que está discretamente presente em algumas
religiões e é proposta por Jesus Cristo: Deus mesmo vem saciar nossa sede de
plenitude, eliminando a distância que nos separa e assusta, assumindo e
aperfeiçoando as realidades humanas e sociais. Jesus Cristo é sacramento de um
Deus humanizado e encarnado, servidor e libertador, próximo e presente no ser
humano que ama e sofre. “Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; meu Pai o
amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
O amor
autenticamente humano é o êxodo de si mesmo em direção a Deus e o advento de
Deus na carne humana. O que nos aproxima de Deus não é o muito saber, o grande
poder ou a ausência de sofrimento, mas o dinamismo de um amor que nos faz
loucos, apaixonados, pobres e servidores. As igrejas cristãs são chamadas a ser
famílias que vivem esta intensa paixão por Deus e pela humanidade e evitam a
tentação de assumir a função de delegadas de Deus, de enrijecer o sistema de
proibições e de usurpar o poder que só a Deus pertence.
Quando fala
das diversas moradas que existem no “lar” do Pai, e que ele vai para
preparar-nos um lugar, Jesus está se referindo à sua missão de afirmar nossa
condição de filhos/s e herdeiros/as de Deus. Hoje Jesus inverte esta lógica, e diz
que é Deus quem vem às comunidades que se organizam em seu nome delas sua
morada no mundo. Por isso, as comunidades precisam cultivar o amor, o diálogo,
o serviço e a abertura às necessidades do mundo. Uma Igreja fiel a Jesus Cristo
e aos tempos atuais, que aceita ser uma morada de Deus, deve ser uma Igreja
aberta e missionária.
A dificuldade
que Tiago e Pedro colocam a Paulo e Barnabé nasceu de numa atitude de fechamento
que os levou a identificar alguns costumes com o próprio Evangelho. Mas, graças
à liberdade de Paulo e de Barnabé, “que arriscaram a vida pelo nome de Nosso
Senhor Jesus Cristo”, Tiago e Pedro reconhecem e acolhem os “irmãos vindos do
paganismo” e não lhes impõem os costumes e normas que haviam aprendido do
judaísmo. Isso nos encoraja a sonhar com uma Igreja que não tenha medo de
dialogar com os diferentes grupos e movimentos sociais e culturais.
A propósito,
é bela a visão de João sobre a cidade santa, imagem da Igreja. Ela está cercada
por uma muralha que a protege das perseguições, mas tem portas e saídas por
todos os lados, e tem como alicerce o testemunho dos apóstolos; o esplendor que
a envolve não vem do saber ou do poder, mas da glória de Deus, do amor vivido
até às últimas consequências. Seu brilho não lhe pertence, nem lhe é dado pelos
poderosos, mas vem Cordeiro humilhado e martirizado, e a ele pertence. Esta
cidade dispensa templos e ritos, pois basta-lhe a força da divina Compaixão.
No cálido e
tenso ambiente da Ceia de despedida, Jesus diz que só o amor pode manifestar
claramente o que Deus é e o que Deus faz. Sabedor dos limites que acompanhariam
os discípulos e discípulas de todos os tempos, Jesus promete que não os deixa
órfãos e indefesos: ele envia o Espírito Santo, Consolador, Defensor e Mestre
que guia no seguimento dos seus passos. O Espírito é a fidelidade e a glória à
qual podemos aspirar. O amor praticado é mandamento de Jesus. O amor recebido e
proclamado é Evangelho. O amor testemunhado é esplendor e glória de Deus.
Jesus de Nazaré, profeta
corajoso e irmão amado! Que o teu Espírito nos ajude a entender e atualizar tua
ação libertadora e tua Palavra vivificadora; a reinventar tua ação em mil ações
que resgatam a dignidade de todo ser humano; a anunciar que estás presente
naqueles/as a quem não te envergonhas de chamar irmãos. Não permitas que a tua
Igreja dê as costas ao Espírito e se erga como muro defensivo, trono que manda
e sepultura que conserva restos mortais. Renova tua amada Igreja, abrindo
portas que acolhem os que chegam e nos envia em saída. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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