Ano A | 13ª
Semana Comum | Quarta-feira | Mateus 8,28-34
(05/07/2023)
Depois de atravessar o lago de Genesaré e acalmar a
tempestade que rugia no exterior e no interior dos discípulos, Jesus inaugura
sua missão em território não judeu, fortemente marcado pela presença do império
romano e do seu temido exército. E o faz não como um mero passeio turístico ou
uma cruzada religiosa ou cultural, mas para curar duas pessoas possuídas por
espíritos impuros, ou demônios. Esse é o primeiro “exorcismo” que Jesus realiza
em Mateus.
Para os povos antigos, a manifestação mais forte da
possessão era a completa perda da personalidade, a ponto de as pessoas não
falarem mais por si mesmas, mas manifestarem a vontade e a palavra da
“entidade” que as possuía. Normalmente, esse era o resultado da forte pressão
psíquica sob a qual viviam. Ao mesmo tempo, em Israel, tais pessoas eram
excluídas do convívio familiar e social, e viviam fisicamente e socialmente
marginalizadas.
A cena que nos ocupa, que parece uma clara sátira
contada por Jesus e pelas comunidades para desmoralizar a pretensa força
econômica, política e militar do império romano, nos apresenta Jesus
enfrentando decididamente e vencendo de forma rotunda as forças que oprimem o
povo. Inicialmente, os dois “possessos” se portam como animais ferozes, se
aproximam de Jesus aos gritos e ameaçando-o. Nas palavras e perguntas dos
espíritos maus ecoa o medo que os opressores tem de Jesus e sua ação
libertadora.
Jesus não responde aos protestos deles, e os
“demônios” acabam propondo um acordo: que Jesus permite que eles deixem os
homens e se abriguem nos porcos! Lembremos que o destacamento local do exército
romano tinha o porco no seu brasão... Jesus não concede nada, simplesmente
manda! Com isso, subverte e vence o poder imperial, e o impacto destrutivo da
sua ação abala o povo da aldeia, que sai ao seu encontro barrando sua entrada
no povoado.
Esta atitude do povo
local antecipa a resistência que lhe oporá mais tarde a elite religiosa do
templo! Tanto um como o outro preferem a falsa segurança do exército romano à
perigosa liberdade inaugurada por Jesus. Vivendo o dinamismo do Reino, Jesus e
seus discípulos ameaçam interesses e provocam conflitos!
Meditação:
· A
cena é uma espécie de sátira contra o império romano e a força do seu exército
em território palestino
· A
voz que fala pela boca das duas pessoas dominadas pelo demônio é a voz do medo
e a voz do exército romano
· Os porcos eram o símbolo da legião romana que atuava na Síria, e era fonte de renda para os invasores romanos
O povo da aldeia, mesmo conhecendo a dominação, prefere ficar com seus pequenos benefícios que acolher a presença de Jesus
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