sábado, 22 de julho de 2023

O Evangelho de cada dia (56)

Ano A | 16ª Semana Comum | Domingo | Mateus 13,24-43

(23/07/2023)

O zelo pelo projeto de Deus às vezes provoca em nós uma santa ira, e nosso desejo é pegar foices e facões e extirpar da sociedade a injustiça e da Igreja a ambiguidade, acusando pessoas e “cortando o mal pela raiz”. Esta seria uma solução relativamente fácil se o joio estivesse apenas fora de nós, nas estruturas, e se fôssemos pessoas incorruptíveis, sem ambivalências e sem contradições. Mas o integrismo costuma se mostrar burro, irracional e violento.

A propósito, Jesus propõe duas outras parábolas, nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda e do fermento ao arbusto frondoso e à massa levedada que produzem. Estas parábolas são uma resposta às perguntas que frequentemente nos fazemos: será que o amor, a ternura, a bondade e a compaixão não são ações insignificantes, pequenas e demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que nos contentar em ser sempre uma minoria que age apenas para reparar danos, sem nunca chegar à vitória plena?

Para os grandes Roma, de Jerusalém e de todos os centros de poder, inclusive Brasília, a semente ou o fermento do Reino de Deus é insignificante e não tem futuro. Não faltam pessoas e grupos que, em nome da eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte, centralizada e potente, capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a proposta de Jesus é outra: crer e confiar na força dos fracos, na fecundidade invencível do amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do testemunho.

A pergunta, porém, ressurge insistente: isso não é apenas romantismo inconsequente, sonho de adolescente? Jesus responde a este questionamento chamando nossa atenção para o mundo doméstico e feminino. Precisamos aprender da ação silenciosa, escondida e demorada do fermento que a cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria afirmar que a ação do fermento é ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do Reino de Deus precisa entrar em contato com a farinha, perder-se na massa, esperar.

Esta parábola do Reino completa o que naturalmente falta às anteriores. Cada parábola quer evidenciar um aspecto do dinamismo do Reino de Deus. Aquela do trigo e do joio e a outra da rede nos chamam à paciência e ao discernimento. A história da semente de mostarda nos ensina a confiança nos meios aparentemente pequenos e frágeis. E a parábola do fermento nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a gastar-se na ação de solapar as bases dos impérios que ameaçam, intimidam, excluem e matam.

 

Meditação:

·     Qual tem sido a força do testemunho de compaixão e solidariedade que vivemos em nosso ambiente familiar e comunitário?

·     Por onde começar para superar o pessimismo de quem pensa apenas no fracasso ou só acredita no poder das grandes iniciativas e instituições?

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