Ano A | 16ª
Semana Comum | Domingo | Mateus 13,24-43
(23/07/2023)
O zelo pelo projeto de Deus às vezes provoca em nós
uma santa ira, e nosso desejo é pegar foices e facões e extirpar da sociedade a
injustiça e da Igreja a ambiguidade, acusando pessoas e “cortando o mal pela
raiz”. Esta seria uma solução relativamente fácil se o joio estivesse apenas
fora de nós, nas estruturas, e se fôssemos pessoas incorruptíveis, sem
ambivalências e sem contradições. Mas o integrismo costuma se mostrar burro,
irracional e violento.
A propósito, Jesus propõe duas outras parábolas,
nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda e do fermento ao
arbusto frondoso e à massa levedada que produzem. Estas parábolas são uma
resposta às perguntas que frequentemente nos fazemos: será que o amor, a
ternura, a bondade e a compaixão não são ações insignificantes, pequenas e
demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que nos
contentar em ser sempre uma minoria que age apenas para reparar danos, sem
nunca chegar à vitória plena?
Para os grandes Roma, de Jerusalém e de todos os
centros de poder, inclusive Brasília, a semente ou o fermento do Reino de Deus
é insignificante e não tem futuro. Não faltam pessoas e grupos que, em nome da
eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte, centralizada e potente,
capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a proposta de
Jesus é outra: crer e confiar na força dos fracos, na fecundidade invencível do
amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do testemunho.
A pergunta, porém, ressurge insistente: isso não é
apenas romantismo inconsequente, sonho de adolescente? Jesus responde a este
questionamento chamando nossa atenção para o mundo doméstico e feminino.
Precisamos aprender da ação silenciosa, escondida e demorada do fermento que a
cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria afirmar que a ação do fermento é
ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do Reino de Deus precisa entrar em
contato com a farinha, perder-se na massa, esperar.
Esta parábola do Reino completa o que naturalmente
falta às anteriores. Cada parábola quer evidenciar um aspecto do dinamismo do
Reino de Deus. Aquela do trigo e do joio e a outra da rede nos chamam à
paciência e ao discernimento. A história da semente de mostarda nos ensina a
confiança nos meios aparentemente pequenos e frágeis. E a parábola do fermento
nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a gastar-se na ação de
solapar as bases dos impérios que ameaçam, intimidam, excluem e matam.
Meditação:
· Qual
tem sido a força do testemunho de compaixão e solidariedade que vivemos em
nosso ambiente familiar e comunitário?
· Por
onde começar para superar o pessimismo de quem pensa apenas no fracasso ou só
acredita no poder das grandes iniciativas e instituições?
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