Ano A | 15ª
Semana Comum | Sexta-feira | Mateus 12,1-8
(21/07/2023)
Nesta cena, aparentemente, a questão central que
Jesus discute com os fariseus parece ser a questão da obediência à Lei. Porém,
sobressai outra questão, mais importante: as leis e costumes que controlam a
comida e o acesso a ela. A recorrente menção do evangelista ao campo de trigo,
aos grãos e à fome, ao ato de comer, tanto dos discípulos como de Davi e seus
companheiros, não deixa dúvidas. O sistema econômico limita o direito dos
pobres à alimentação, e os fariseus agem para limitar aos discípulos o acesso
ao alimento. O império da legalidade impede a segurança alimentar do povo.
Temos visto como o ensinamento e a prática de Jesus
são alternativos, e confrontam e desafiam as leis e sistemas, e não apenas as
leis religiosas. Jesus revoluciona o papel da lei, do templo e a própria imagem
de Deus. Ele é o filho do homem, o Senhor, o enviado pelo Pai, para revelar e
realizar a sua vontade, anunciada nas escrituras, mas esvaziada pelo templo.
Deus é misericórdia, e de nós ele espera misericórdia, e não cultos vazios e
duros legalismos que penalizam os que já enfrentam tantas penas.
A misericórdia é a essência do relacionamento de
Deus com suas criaturas, é a forma da justiça divina na relação com o ser
humano, e praticá-la significa enfrentar e superar as práticas restritivas que
limitam ou impedem o acesso dos seus filhos e filhas aos direitos humanos
básicos, como a alimentação. A misericórdia é o dinamismo que brota da
internalização das misérias do próximo. É isso que Jesus faz, com a maior
liberdade, e fazem seus discípulos/as. A fome tem prioridade sobre as leis e
instituições.
Jesus questiona fortemente a interpretação
restritiva e fria das escrituras ensinada e praticada pelos fariseus, que se
mostram sempre tão corretos. Por duas vezes ele questiona: “Nunca lestes?” E adverte:
“Se tivesses compreendido o que significa...” na verdade, a leitura ou a
interpretação que fazem das escrituras é limitada e interesseira. Jesus é maior
que o templo e a lei, é a superação de ambos e a chave-de-leitura da verdadeira
religião. Para ele, a lei, o templo e o alimento pertencem a Deus, e crer é
fazê-los acessíveis a todos. Tudo isso e tudo o mais está abaixo do querer de
Deus.
Meditação:
· Você
identifica também hoje sinais de uso da fé para se dispensar da atenção à vida
das pessoas?
· E
o que dizer da economia liberal, que faz da comida, da água, da saúde e de tudo
o mais uma simples mercadoria, limitando o acesso de multidões a ela?
· Como
colocar em prática hoje, na sua família e na sua comunidade, a vontade de um
Deus que prioriza a misericórdia e não a lei, o culto e os sacrifícios?
Nenhum comentário:
Postar um comentário