sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 21.01.2024

A PAIXÃO QUE ANIMOU JESUS

Em rigor, Jesus não ensinou uma doutrina religiosa para os seus discípulos aprenderem e a difundirem corretamente. Pelo contrário, Jesus anuncia um acontecimento que pede para ser acolhido, pois pode mudar tudo. Ele já o está a experimentar: «Deus está a entrar na vida com a sua força salvadora. Temos de abrir espaço para ele».

Segundo o evangelho mais antigo, Jesus proclamava esta Boa Nova de Deus: «Cumpriu-se o prazo. Está próximo o reino de Deus. Convertei-vos e acreditai na Boa Nova». É um bom resumo da mensagem de Jesus: «Aproxima-se um tempo novo. Deus não nos quer deixar sozinhos diante dos nossos problemas e desafios. Ele quer construir junto conosco uma vida mais humana. Mudai a forma de pensar e agir. Vivei acreditando nesta Boa Notícia».

Os especialistas pensam que o que Jesus chama de «reino de Deus» é o coração da sua mensagem e a paixão que alimenta toda a sua vida. O surpreendente é que Jesus nunca explica diretamente em que consiste o reino de Deus. O que ele faz é sugerir em parábolas inesquecíveis como Deus age no mundo e como seria a vida se existissem pessoas que agissem como ele.

Para Jesus, o reino de Deus é a vida tal como Deus a quer construir. Esse era o fogo que levava dentro de si: como seria a vida no Império se em Roma reinasse Deus e não Tibério? Como mudariam as coisas se não se imitasse Tibério, que só procurava poder, riqueza e honra, mas se procurasse a Deus, que pede justiça e compaixão para os últimos?

Como seria a vida nas aldeias da Galileia se em Tiberíades reinasse Deus e não Antipas? Como mudaria tudo se toda a gente se parecesse não com os grandes latifundiários, que exploram os camponeses, mas com Deus, que os quer ver a comer e não a morrer de fome?

Para Jesus, o reino de Deus não é um sonho. É o projeto que Deus quer realizar no mundo. É o único objetivo que devem ter os seus seguidores. Como seria a Igreja se se dedicasse apenas a construir a vida como a quer Deus, e não como querem os donos do mundo?

Como seríamos nós, cristãos, se vivêssemos convertendo-nos ao reino de Deus? Como lutaríamos pelo «pão de cada dia» para cada ser humano? Como gritaríamos: «Venha o teu reino»?

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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