A fé não se mostra nas aparências, e um
cego não pode guiar outro cego | 453 | 26.08.24
| Mateus 23,13-22
No capítulo 23 do evangelho segundo
Mateus, o profeta Jesus instrui seus discípulos no caminho do Reino de Deus
criticando e desmascarando o modo de viver e ensinar a fé dos fariseus e
doutores da lei. Depois de pedir para que seus discípulos e discípulas não
sejam como eles (cf. 23,1-12), Jesus os enfrenta proclamando sete maldições ou
“ais” num tom claramente polêmico. No texto de hoje, temos as três primeiras
expressões dessa espécie de julgamento escatológico.
As duas primeiras maldições destacam o resultado danoso da
influência da elite religiosa sobre a vida do povo de Deus. Na primeira, eles
são deslegitimados porque não acolhem o Reino de Deus anunciado por Jesus e,
por seu ensino, impedem que outros entrem no seu dinamismo. E isso acontece
porque impõem sobre o povo o pesado fardo de leis e prescrições das quais
excluem a misericórdia, a justiça e a fé.
A segunda afirmação crítica também enfatiza o impacto
prejudicial da prática e do ensino religioso dos doutores da lei e dos fariseus
sobre outros. A razão é que eles não compreendem os propósitos ou a vontade de
Deus e, por isso, convertem as pessoas ao judaísmo, mas são incapazes de
apresentar a elas um caminho de vida coerente com a fé. Como eles não conseguem
ou se recusam a reconhecer em Jesus o enviado de Deus, acabam levando os
convertidos a fazerem o mesmo.
Na terceira maldição, Jesus muda o foco, que não é mais o
mal causado nos outros, mas a própria prática religiosa atabalhoada da elite do
judaísmo. Jesus inicia cada uma das duas críticas citando as próprias palavras
dos fariseus e escribas, e condena o mau uso da prática popular do juramento,
como um atalho para desviar das exigências da vontade de Deus. O juramento
também costuma esconder a falta de credibilidade e a enviesada de quem jura.
Jesus
ridiculariza as distinções casuísticas e arbitrárias, assim como as filigranas
do ensino dos fariseus e escribas, um ensino e uma prática que não têm nada a
ver com o Reino de Deus. Eles não passam de guias cegos que não fazem mais que
desencaminhar e colocar em risco a salvação de quem se deixa guiar por eles. Na
lógica do Reino de Deus não faz sentido distinguir entre juramentos que obrigam
e juramentos que não obrigam, pois Deus é um só, e está presente em tudo.
Meditação:
· Releia atentamente as três críticas de Jesus em
relação aos fariseus e doutores da lei, e procure entender exatamente o que
Jesus está reprovando neles
· Hipócritas são as pessoas que “recitam um
papel”, como os atores que representam um personagem, mas não são aquilo que
representam, e guias cegos são uma espécie de contrassenso e um perigo muito
sério
· Deixemos que Jesus avalie nossas práticas
religiosas e nosso ensino e pregação: será que não estão eivadas de hipocrisia,
de distinções sutis que mais atrapalham que ajudam? Será que não somos uma
espécie de guias cegos?
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