O milagre do pão para todos começa na
partilha do pouco que é meu| 432 | 05.08.24 | Mateus 14,13-21
Jesus não foi um milagreiro de ocasião, um curador
empenhado em realizar prodígios para fazer propaganda de si mesmo. Os seus
milagres são sinais que abrem uma brecha neste mundo de dominação e de
injustiças, e apontam já para uma realidade nova, meta final da caminhada
existencial e social do ser humano, que os evangelhos sinóticos denominam Reino
de Deus.
Concretamente, o milagre que conhecemos como “multiplicação
dos pães” (que deveria ser chamada “distribuição solidária de alimentos para
uma multidão faminta) é um sinal que nos convida a tomar consciência de que o
projeto de Jesus é alimentar os homens e mulheres e reuni-los numa fraternidade
real e universal, na qual todos saibam como partilhar o pouco ou o muito que
têm.
Para os cristãos, a fraternidade e a partilha não
são apenas duas exigências ao lado de tantas outras, mas a única maneira de
construir o reino do Pai neste mundo. Essa fraternidade pode ser mal-entendida,
se pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada
de mal, embora, concretamente, vivamos num um horizonte e egoísta, focados no
nosso próprio bem-estar.
Por ser sacramento e fermento de fraternidade, a
Igreja é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de
estreita fraternidade entre os homens e mulheres e entre os povos. Devemos
aprender a viver com um estilo mais fraterno, escutando as novas e velhas
necessidades do homem de hoje.
A luta pelo desarmamento, a proteção do meio
ambiente, a solidariedade com os famintos, a partilha com os desempregados, a
ajuda aos drogados, a preocupação com os idosos esquecidos são outras tantas
exigências para quem se entende irmão e quer multiplicar para todos o pão que
as pessoas necessitam para viver. Para os cristãos, o amor e a amizade não são
sentimentos, mas relações sociais.
O relato do evangelho de hoje nos lembra que não
podemos comer tranquilos o “nosso” pão e o “nosso” peixe enquanto junto a nós
há homens e mulheres ameaçados pela fome. Na verdade, nada é nosso! Tudo o que
temos foi confiado ao nosso cuidado para que não falte nada a ninguém. Os que
vivem tranquilos e satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós
de comer».
Meditação:
§ Acompanhe Jesus e os discípulos/as na sua
retirada para o deserto, alertado pelo martírio de João Batista
§ Veja a “procissão” de pessoas necessitadas que
os seguem, porque veem em Jesus o último porto e única esperança e note a
confusão dos discípulos, que não sabem o que fazer, e pedem que Jesus dê as
costas às pessoas famintas
§ O que significa, para você, sua família e sua
comunidade a ordem de Jesus: “Deem-lhes vocês mesmos de comer”, e como
poderíamos evitar o desperdício de alimentos em nossa própria casa, e
destiná-los a quem deles necessita?
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