Para ser bom e justo, não basta cumprir
os mandamentos! | 446 | 19.08.24 | Mateus 19,16-22
Nos últimos dias, estamos meditando trechos do
Evangelho nos quais Jesus nos apresenta o dinamismo inovador, transformador e
provocador do reino de Deus nos diversos campos das relações humanas: nas
relações entre as classes sociais, nas relações no interior das famílias, nas
relações entre homem e mulher, na relação com Deus e a religião, etc. Hoje, o foco
é a relação do discípulo com os bens.
Ao que parece, o jovem que aparece buscando Jesus
faz parte da elite religiosa e econômica de Israel. Ele tem muitos bens e,
conforme o que ele mesmo afirma, pratica fielmente os mandamentos, e isso desde
a mais tenra juventude. Está preocupado com a felicidade individual, trata
Jesus como os mestres da lei o tratavam, mas parece estar no caminho certo e
bem-intencionado. Ele pergunta a Jesus o que deve fazer de bom, ou como ser
bom.
Este jovem busca um caminho seguro para “possuir” a
vida eterna, e não para “deixar-se possuir” e conduzir por Deus e seu Reino.
Vida eterna equivale a perfeição ou justiça, a ser salvo, a entrar no Reino de
Deus. Jesus responde a ele sublinhando que não há nada (coisa) de bom, mas
apenas Alguém que é bom, e faz uma referência indireta ao que o profeta Miquéias
já havia dito (respeitar o direito, amar a felicidade e caminhar humildemente
com Deus: cf. 6,8) e aos mandamentos, enfatizando as relações justa e
equitativas com os irmãos.
Sem dar ouvidos à afirmação de Jesus, o jovem demonstra
que se considera bom e perfeito, escondendo que os muitos bens que possui
poderiam ser resultado de exploração e roubo. Mas, para Jesus, a prática dos
mandamentos não é suficiente para ser bom, e faz o jovem dar-se conta que lhe falta
a justiça e solidariedade com os pobres. Trata-se do amor que leva à partilha e
à restituição daquilo que por direito pertence aos necessitados, condição
essencial para seguir Jesus.
O jovem não está disposto a fazer isso, nem a caminhar com os demais
discípulos. Ele é possuído pelos bens que pensa possuir, não é livre, não é
bom, não ousa iniciar um caminho de despojamento e conversão. Na verdade, ele
não é capaz de considerar o reino de Deus como seu único tesouro. A riqueza o
sufocou, como os espinheiros sufocaram parte da semente (cf. Mt 13,22). E isso
ressoa como advertência quando caímos na tentação de considerarmo-nos juntos e
bons. Conversão, justiça, comunhão e alegria no cristão é missão de cada dia!
Meditação:
· Com que intenções você procura Jesus e a vida cristã? O desejo de
perfeição, de renovação total e profunda é o que move você?
· Como você se avalia em relação aos preceitos da Igreja? Você os
considera suficiente para ser bom, e se acha bom praticante?
· O que ainda impede você de entregar-se na aventura de criar novos
céus e nova terra, com Jesus e todos aqueles que o seguem?
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