Na comunidade-semente do Reino de Deus,
todos somos irmãos e aprendizes | 444 | 17.08.24
| Mateus 19,13-15
Do início ao fim dos seus relatos, os evangelistas
sublinham a atenção e a sensibilidade de Jesus para com as pessoas e grupos
sociais tratados como insignificantes e, por isso, mais vulneráveis.
Estrangeiros, mulheres, crianças e doentes representam muito bem esses grupos.
Mas aos próprios discípulos custa muito aceitar e assimilar essa maneira
revolucionária de ver as pessoas.
O episódio do evangelho de hoje ilustra isso na
relação com as crianças. Na sociedade de então, elas não tinham direitos,
deviam obedecer e se submeter, estavam à margem. Elas não tinham lugar numa
cultura patriarcal. Quando algumas pessoas, encorajadas pela compaixão de Jesus
com os fracos, levaram crianças para que ele as abençoasse, os discípulos interviram
e repreenderam-nas, pois viam as crianças como um incômodo. Eles reagiram dentro
do estreito no horizonte do patriarcalismo no qual haviam sido formados e
viviam.
Jesus censura duramente esta atitude dos
discípulos, e declara que o Reino de Deus pertence às crianças. Para Jesus, as
pessoas frágeis e marginalizadas, como são as crianças, nos ensinam e, por
isso, ele pede que seus discípulos sejamos como elas. Elas são uma metáfora do
autêntico e alegre seguimento de Jesus! E se elas participam do Reino de Deus,
obviamente devem ter um lugar também no interior da comunidade cristã. Não há
dúvida!
Como as pessoas que vêm de baixo e das margens
acolhem a mensagem do Reino e reconhecem Jesus como enviado do Pai, também os
discípulos devemos aceitar nossa condição de grupo socialmente marginalizado e
insignificante, mas alternativo e gerador de uma nova sociedade. Como o Reino
de Deus e as crianças, a comunidade dos discípulos e discípulas vive neste
mundo um caminho de transição para um futuro maduro e pleno.
Na comunidade sonhada e iniciada por Jesus, todos somos discípulos e
irmãos. Não há pai ou patriarca. Todos são iguais em dignidade, sem nenhuma
distinção. Os bispos do Brasil já diziam: a dignidade dos cristãos não está no
ministério (ordenado ou extraordinário) que exercem, mas na sua condição de
batizados e ungidos pelo Espírito Santo. Ser cristão é a razão da nossa alegria
e a fonte da nossa missão.
Meditação:
· Em que medida, como seguidores de Jesus, estamos
à margem das badalações, partilhando as lutas e esperanças das pessoas e grupos
sociais marginalizados e tratados como um incômodo?
· Ajudamos a abrir brechas para que essas pessoas
se encontrem com o Evangelho de Jesus e sejam socialmente reconhecidas?
· Como essas pessoas e grupos sociais são
acolhidas e tratadas em nossas comunidades cristãs e seus organismos e serviços
(litúrgicos, catequéticos, assistenciais)?
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