Quem é capaz de cuidar dos outros está
no caminho da vida eterna | 438 | 11.08.24 | João 6,41-51
A longa discussão
que Jesus mantém com seus discípulos e com as autoridades do judaísmo não é uma
simples catequese sobre sua presença real de Jesus nas espécies eucarísticas. O
que está em questão é o modo de conhecer e de agradar a Deus: Cumprindo leis de
forma mecânica? Obedecendo a um monte de princípios morais? Celebrando ritos à
margem das estradas da vida? Fixando a atenção numa hipotética vida após a
morte e desprezando os desafios da história?
Jesus se oferece como alimento que
desce continuamente do céu e assume a carnalidade das dores e sonhos humanos.
Ele não diz que é o pão que desceu do céu, mas o pão que desce
permanentemente do céu. “Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo
6,33). Tanto o verbo “descer” como o verbo “dar” estão no tempo presente e
referidos à missão libertadora de Jesus. “Descer” aponta para a diminuição, um
aspecto central na vida de Jesus e de quem o segue.
O alimento que faz a diferença e que
supera tanto o maná como a simples distribuição assistencialista de comida é a
encarnação do Filho de Deus, sua humanidade compassiva. Jesus não discute sua
origem divina ou humana, mas a sublinha nossa resistência em aceitar sua
encarnação redentora. A fé em Jesus e na eucaristia não são uma espécie de
“subida” a Deus, mas uma “descida” solidária ao encontro do ser humano. A
comunhão com as dores e alegrias, tristezas e angústias dos homens e mulheres do
nosso tempo é o único caminho que nos leva a Deus.
Jesus recorre aos profetas para
enfatizar que é isso que precisamos aprender. Dizendo que todos serão
discípulos de Deus, Jesus evita os estreitamentos ideológicos, étnicos ou
eclesiásticos, e afirma a universalidade do caminho da vida. Quem cuida da vida
dos outros está no caminho da vida eterna, e quem não aceita e não se engaja
nessa missão não é discípulo de Deus, fecha-se à sua voz. A questão central é
escutar a Palavra que Jesus nos diz mediante sua contínua descida.
Jesus também não
quer opor a força de vida da sua “descida” à insuficiência do maná. O povo
hebreu comeu do maná mas experimentou o malogro na realização do sonho, mas
isso não ocorreu por causa da qualidade do maná, mas da sua atitude, da
incapacidade de ouvir e obedecer a Deus. Aqui está a novidade de Jesus Cristo:
somente quem ouve sua Palavra e crê nele, quem se faz seu discípulo e se
alimenta da sua humanidade, chega à meta da travessia e alcança a terra
desejada e prometida.
Meditação:
·
Perceba
a força de cada expressão e de cada metáfora desta bela e densa catequese de
Jesus
·
Em que
medida, é Jesus e sua utopia que me alimentam, estimulam, guiam e sustentam?
·
Quando
participo da celebração da eucaristia, sou consciente da profundidade do que
acontece, que “comungar é tornar-se um perigo”?
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