A fé é a força dos fracos e está na
raiz das grandes mudanças | 434 | 07.08.24 | Mateus 15,21-28
O texto proposto para a meditação de hoje omite os
versículos que registram a explicação que Jesus oferece aos discípulos que o
interrogam sobre o sentido da parábola com a qual fala daquilo que realmente
torna a pessoa impura (v. 15-20). Depois da crítica aos mestres da lei e aos fariseus
e da instrução ao povo e aos discípulos, Jesus desembarca, com seus discípulos,
em pleno território pagão.
Ali Jesus é procurado por uma mulher desprezada e
marginalizada por ser pagã, por ser mulher, por ser estrangeira e por ser mãe
solteira, viúva ou abandonada pelo marido (pois não há nenhuma referência a
irmãos e marido). Essa mulher faz parte de um povo que a tradição judaica trata
como amaldiçoado por Deus, mas ela se aproxima de Jesus e pede sua ajuda em
favor de sua filha psiquicamente perturbada. É a primeira mulher a falar no
evangelho de Mateus!
Inicialmente, mesmo sendo invocado como filho de
Davi, o defensor ideal dos indefesos, Jesus não se importa com o grito da
mulher que pede socorro, e a trata no horizonte da ideologia da supremacia dos
judeus sobre os demais povos. Jesus dá a entender que foi enviado
prioritariamente aos judeus, e é isso que ele se sente obrigado a fazer. Ou
essa seria a ideologia que tentava os discípulos missionários na época em que
Mateus escreve seu evangelho?
Os discípulos querem se livrar da mulher, mas ela
não desiste, e questiona a ideologia do privilégio de Israel diante de Deus e
da supremacia diante dos demais povos! Então Jesus se dirige diretamente a ela,
mas para reforçar a prioridade do seu povo sobre os pagãos. E a mulher, que
surge na cena como uma pessoa frágil e necessitada, manifesta explicitamente
sua fé, se aventura a discutir teologia, e reinterpreta a afirmação excludente
de Jesus. Ela, que apareceu tímida, atreve-se a desobedecer às repreensões dos
discípulos e até a discutir com Jesus. Exemplo de uma espantosa consciência da
própria dignidade.
Jesus acaba reconhecendo na luta persistente daquela mulher contra a exclusão étnica e religiosa uma clara manifestação de fé. Esta fé produz frutos, e a necessidade daquela mulher é atendida. Graças à persistência de um personagem considerado excluído e tratado como inferior, o cristianismo se abriu aos diversos povos e suas culturas. Acolhamos agradecidos o testemunho inquieto das mulheres numa Igreja de ministros masculinos, e arregacemos as mangas para “desmasculinizar” a Igreja.
Meditação:
§ Participe da cena: o desembarque de Jesus, os
gritos da mulher, a indiferença de Jesus, a insistência da mulher e a reação de
Jesus
§ Será que também nossa Igreja ainda prioriza
setores privilegiados e descarta pessoas e grupos por preconceitos diversos?
§ Somos capazes de reconhecer na luta perseverante
e até raivosa de algumas pessoas e grupos sinais de fé aguerrida?
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