Ser discípulo de Jesus implica em participar da sua missão e do seu
destino | 456 | 29.08.24 | Marcos 6,17-29
A presença de João Batista nos
evangelhos evidencia seus vínculos com Jesus Cristo. Além de preparar os
caminhos para a missão de Jesus, o profeta do deserto e do rio Jordão antecipa em
si mesmo o desfecho da missão de Jesus. Suas posições claras contra os desvios
éticos do seu tempo, e a coragem com que enfrenta os poderosos de plantão,
valeram-lhe a perseguição, a prisão e a decapitação.
No texto de hoje, o protagonista é
Herodes. Ele é judeu, mas, como de resto todas as elites sociais e políticas,
cumpre a Lei da sua religião apenas quando lhe convém. Ele tem medo de Jesus, e
pensava que ele é uma espécie de reencarnação de João Batista, a quem havia
mandado matar. O delito de Herodes vai além do roubo da mulher do seu irmão e
da conivência com a morte de João Batista. A presença dos grandes da Galileia
na sua festa de aniversário revela a quem ele serve, e de quem depende.
Marcos nos apresenta uma caricatura
sarcástica de Herodes e das elites que o apoiam. As festas que promoviam davam
asas às paixões incontroláveis e aos seus caprichos assassinos. Entre eles, como
em toda a realeza, o casamento tinha fortes conotações de aliança para adquirir
sustentação política. O juramento ou promessa de Herodes à filha da sua
concubina revela o modo escuso como as elites tomam suas decisões políticas:
matam para salvar a própria honra.
Diante de Herodes e seus acólitos, João
não se intimida, nem se cala, mas não é um homem apenas preocupado com o culto
ou com a moralidade dos costumes. Uma leitura atenta dos evangelhos nos mostra
um profeta engajado num movimento de mudança, no corte raso das instituições
que encobrem ou sustentam injustiças e violências, e numa partilha radical. É
nesse horizonte que ele enfrenta Herodes.
Marcos
situa a narração do martírio de João Batista no capítulo 6 do seu evangelho,
onde a discussão é sobre a identidade de Jesus. Com isso, o evangelista evidencia
o destino de todo aquele que anuncia e testemunha uma nova ordem social e
religiosa. E, além de uma antecipação do destino de Jesus, o destino de João Batista
soa aos discípulos de todos os tempos e latitudes como um forte alerta.
Meditação:
· Retome calmamente a cena, desde o seu início até
seu desfecho, observando com atenção a trama que leva à execução do profeta
· Perceba a força política, social e religiosa da
atuação corajosa de João Batista, profeta da Judeia que estende sua missão à
Galileia
· Como você e sua comunidade cristã tem se
posicionado diante de um governo belicista e contrário aos avanços sociais no
Brasil?
· Como podemos evitar polêmicas religiosas parciais
e estéreis, mas sem abandonar a necessária dimensão política da fé?
· Você tem medo dos conflitos provocados pela
atuação profética dos cristãos em nome do Evangelho? Por que?
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