As relações de igualdade são essenciais
para a família cristã | 443 | 16.08.24 | Mateus 19,3-12
Há alguns dias estamos lendo e meditando as
orientações de Jesus para a encarnação da novidade do Reino de Deus nas
relações comunitárias e sociais. Hoje, a atenção se volta para as relações no
interior da família, especialmente para as relações conjugais. A reflexão é
oportunizada por mais uma pergunta provocadora vinda da boca dos fariseus, que
se posicionam como adversários de Jesus.
O ensino de Jesus é, antes de tudo, uma contundente
defesa da dignidade das mulheres, no contexto de uma cultura patriarcal, na
qual o marido tem direito de vida e de morte sobre a mulher. A família nascida
da cruz de Jesus e reconfigurada pelo Reino de Deus rejeita de forma inequívoca
as relações patriarcais, que eram aceitas como normais e normativas no mundo
cultural romano e judaico.
Para Jesus, o matrimônio deve ser entendido em
outra perspectiva, sem o domínio da figura masculina. Os fariseus tinham
dificuldades de entender e aceitar isso. Para eles, a mulher fazia parte das
propriedades do homem, e a ele deveria ser submissa. Mas, para Jesus, as
relações matrimoniais devem ser pautadas pela igualdade, pela reciprocidade,
pela solidariedade e pela unidade. Este é o querer de Deus sobre o casal. Esta
é a família tradicionalmente cristã!
No enfrentamento com Jesus e no ensino ao povo, os
fariseus e doutores da lei fazem uma leitura interesseira e distorcida da Lei,
e dizem que é ordem para todos aquilo que Moisés permitiu apenas como exceção.
Mesmo fazendo essa concessão à dureza dos homens, Moisés pediu garantias à
mulher divorciada, limitando o “direito ao despejo”. Jesus, por sua vez, propõe
uma releitura da vida conjugal a partir da vontade original de Deus,
sublinhando que homem e mulher se tornam uma unidade profunda, e nada deve
desfazê-la.
Isso escandaliza os discípulos, contaminados também eles pela ideologia
patriarcal. Jesus não se incomoda com o desconforto deles, e radicaliza ainda
mais: além de tomarem como modelo as crianças, seus discípulos podem também se
espelhar nos eunucos, outro grupo de pessoas desprezadas e marginalizadas pela
excludente cultura patriarcal. Agindo e falando assim, Jesus só poderia escandalizar
muita “gente de bem”, desde o tempo dele e até hoje.
Meditação:
· Como você vive a vocação de ser uma só carne
(comunhão, reciprocidade e solidariedade) na vida conjugal?
· Em que medida vocês conseguem superar as
relações ditadas pelo patriarcalismo e pelo individualismo?
· Você tem conseguido superar uma compreensão
machista e excludente da Palavra de Deus?
· Como são tratadas as mulheres, as crianças e as
pessoas homo afetivas na sua família e na sua Igreja?
Nenhum comentário:
Postar um comentário