A cruz diz
que Deus continua amando o mundo e tudo o que nele existe | 472 | 14.09.2024 | João
3,13-17
O texto que é
proposto à nossa meditação está relacionado com a festa litúrgica de hoje: a
exaltação da Santa Cruz. Esta é uma celebração que vem desde o ano 335, quando
foi celebrada a dedicação de duas basílicas, na colina do Gólgota, em
Jerusalém: a basílica da Santa Cruz e basílica da Ressurreição.
Não deixa de ser estranho, ao menos do
ponto de vista histórico e sociológico, exaltar a cruz, recorrente instrumento
de tortura e morte usado pelo império romano contra seus “inimigos”. Seria como
exaltar e expor no centro dos nossos templos, ou carregar no peito ou
estampadas em nossas camisas, imagens do “pau de arara”, de um fuzil ou de um
revólver. Alguns até gostariam, como nos revelam algumas imagens que marcaram
as últimas campanhas eleitorais...
Mas, para os cristãos, mesmo que
pareça paradoxal, a cruz não é memória da violência, do sofrimento ou da
derrota, mas uma expressão simbólica clara e contundente do amor sem limites de
Deus pela humanidade. Pregado na cruz, Jesus é a imagem de um Deus apaixonado
pelas suas criaturas, o protótipo do ser humano maduro e livre como o quis
Deus, criado à sua imagem e semelhança, dinamizado pelo seu Sopro Vital.
Na cruz é como que assinada a aliança
de Deus com a humanidade: sua vontade é totalmente positiva (que todos tenham
vida em abundância), universal (inclui todas as pessoas e todos os grupos
humanos) e irreversível (ele não volta atrás em sua paixão pela humanidade). Um
Deus crucificado exclui todo resquício ou ameaça de indiferença ou de punição,
mesmo contra errantes e pecadores.
Na vida de Jesus, mesmo sendo uma
imposição dos poderes constituídos, a cruz é a efusão da compaixão de Deus, e
não um acontecimento inesperado ou passageiro. Ela toma o lugar da lei,
torna-se ponto de partida e de convergência da vida cristã, e expressa a
presença permanente e libertadora de Deus no mundo, e não apenas no coração das
pessoas. “Nossa glória é a cruz”, exclama São Paulo.
A cruz traz a
assinatura de Deus: ele continua amando o mundo e o que nele existe, e exclui
de seu horizonte punições e castigos. Aderir a um Deus crucificado por amor
significa afirmar o amor, e não o poder, o sucesso ou as armas, como princípio,
como meta e como caminho, custe o que custar.
Fora disso, nossa fé seria vazia, e nossos símbolos seriam falsos, ou então
armas letais disfarçadas de piedade.
Meditação:
· Retome cada palavra e
expressão, em forma negativa ou em forma positiva, e deixe que ressoem em você
· Você ainda só consegue ver
na cruz dor, abandono e sofrimento, ou consegue fixar nela seu olhar e
contemplar o amor de Deus?
· O que significa a expressão
“Deus amou tano o mundo” (organização humana, humanidade), em vez de “Deus amou
tanto os indivíduos”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário