A “música” do
Evangelho desagrada a alguns e espanta a outros | 476 | 18.09.2024 | Lucas 7,31-35
A cena que
estamos meditando hoje está literariamente situada depois do elogio de Jesus ao
soldado romano que pediu sua intervenção em favor de um empregado seu (7,1-10)
e da devolução da vida ao filho da viúva de Naim (7,11-17), e em seguida às
perguntas de João Batista sobre Jesus e de seu comentário elogioso a ele
(7,18-30), episódio omitido pela sequência da liturgia diária. A parábola e o comentário
de Jesus no texto de hoje estão ligados a figura do Batista.
Para desmascarar as resistências e
contradições daqueles que resistiam à sua proposta (principalmente os fariseus
e mestres da lei), Jesus apresenta uma cena pitoresca e muito popular em
pequenas cidades interioranas: um grupo de crianças que brincam na praça, umas
tocando música e outras indiferentes ao que as primeiras fazem e transmitem. As
crianças-artistas tocam músicas alegres e as outras não dançam; tocam músicas
tristes, e ninguém chora ou entoa lamentações.
Os dois estilos de música são uma
alusão aos diferentes caminhos de salvação oferecidos por João Batista e por
Jesus. As crianças indiferentes que brincam na praça são os judeus, que nunca
estão satisfeitos ou de acordo com aquilo que ouvem. A referência é clara: a
mensagem de João Batista não foi aceita porque era muito dura e exigente (jejum
e penitência); e Jesus é criticado por parecer-lhes muito permissivo (come e
bebe, partilhando a mesa com pecadores e gente suspeita). São duas perspectivas
diversas que enfrentam a mesma resistência à mudança.
Mas essa resistência não é
exclusividade dos fariseus e doutores da lei, nem eventualmente dos cristãos
das primeiras gerações. Os discípulos resistem à novidade anunciada e
inaugurada por Jesus, e até se atrevem a propor reparos. Pensam que o amor aos
inimigos seria uma proposta inocente e inadequada, e que há gente que não
merece o perdão, ao menos um perdão sem limites, como nos lembrava a pergunta
de Pedro a Jesus no evangelho do último domingo.
Jesus arremata seu questionamento em
linguagem parabólica com uma afirmação um pouco obscura: “Mas a sabedoria foi
justificada por todos os seus filhos”. Os filhos da sabedoria, as pessoas que ouvem
e compreendem Jesus, são os pobres e pecadores, e não os fariseus, os doutores
da lei ou a casta sacerdotal. E nós, como reagimos hoje ao ensino libertário de
Jesus? Podemos dizer que reconhecemos e aceitamos de fato à sua proposta do
Reino de Deus?
Meditação:
§ Retome a cena pitoresca
proposta por Jesus e procure relacioná-la com os diferentes grupos de cristãos
que você conhece
§ Você não se vê, às vezes,
desejando propor reparos em aspectos essenciais da proposta de Jesus? Quais?
§ Leia algo sobre a vida dos
santos Cornélio e Cipriano, cuja memória celebramos hoje, e procure
relacioná-la com o evangelho de hoje
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