terça-feira, 17 de setembro de 2024

A “música” do Evangelho desagrada a alguns e espanta a outros

A “música” do Evangelho desagrada a alguns e espanta a outros | 476 | 18.09.2024 | Lucas 7,31-35

A cena que estamos meditando hoje está literariamente situada depois do elogio de Jesus ao soldado romano que pediu sua intervenção em favor de um empregado seu (7,1-10) e da devolução da vida ao filho da viúva de Naim (7,11-17), e em seguida às perguntas de João Batista sobre Jesus e de seu comentário elogioso a ele (7,18-30), episódio omitido pela sequência da liturgia diária. A parábola e o comentário de Jesus no texto de hoje estão ligados a figura do Batista.

Para desmascarar as resistências e contradições daqueles que resistiam à sua proposta (principalmente os fariseus e mestres da lei), Jesus apresenta uma cena pitoresca e muito popular em pequenas cidades interioranas: um grupo de crianças que brincam na praça, umas tocando música e outras indiferentes ao que as primeiras fazem e transmitem. As crianças-artistas tocam músicas alegres e as outras não dançam; tocam músicas tristes, e ninguém chora ou entoa lamentações.

Os dois estilos de música são uma alusão aos diferentes caminhos de salvação oferecidos por João Batista e por Jesus. As crianças indiferentes que brincam na praça são os judeus, que nunca estão satisfeitos ou de acordo com aquilo que ouvem. A referência é clara: a mensagem de João Batista não foi aceita porque era muito dura e exigente (jejum e penitência); e Jesus é criticado por parecer-lhes muito permissivo (come e bebe, partilhando a mesa com pecadores e gente suspeita). São duas perspectivas diversas que enfrentam a mesma resistência à mudança.

Mas essa resistência não é exclusividade dos fariseus e doutores da lei, nem eventualmente dos cristãos das primeiras gerações. Os discípulos resistem à novidade anunciada e inaugurada por Jesus, e até se atrevem a propor reparos. Pensam que o amor aos inimigos seria uma proposta inocente e inadequada, e que há gente que não merece o perdão, ao menos um perdão sem limites, como nos lembrava a pergunta de Pedro a Jesus no evangelho do último domingo.

Jesus arremata seu questionamento em linguagem parabólica com uma afirmação um pouco obscura: “Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”. Os filhos da sabedoria, as pessoas que ouvem e compreendem Jesus, são os pobres e pecadores, e não os fariseus, os doutores da lei ou a casta sacerdotal. E nós, como reagimos hoje ao ensino libertário de Jesus? Podemos dizer que reconhecemos e aceitamos de fato à sua proposta do Reino de Deus?

 

Meditação:

§  Retome a cena pitoresca proposta por Jesus e procure relacioná-la com os diferentes grupos de cristãos que você conhece

§  Você não se vê, às vezes, desejando propor reparos em aspectos essenciais da proposta de Jesus? Quais?

§  Leia algo sobre a vida dos santos Cornélio e Cipriano, cuja memória celebramos hoje, e procure relacioná-la com o evangelho de hoje

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