sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O acesso à alimentação é um direito humano

O acesso à alimentação é um direito humano anterior à propriedade | 465 | 07.09.2024 | Lucas 6,1-5

Na cena imediatamente anterior que meditamos ontem, Jesus afirma que seus discípulos devem viver a alegre e boa novidade do Reino de Deus, deixando de lado “velhas lições” e “velhos hábitos” rigorosos, que levam a formar guetos de pessoas que se consideram perfeitas e superioras às demais. Hoje, Jesus volta à questão: a pessoa e suas necessidades estão acima de toda lei e do culto.

É sábado e, desta vez, Jesus não está na sinagoga, mas se deslocando com seus discípulos pelos campos. Sentindo fome, eles colhem e comem espigas de trigo de uma plantação que não lhes pertence. Os fariseus observam que eles caminham e colhem num dia que não é permitido fazê-lo. E, além disso, percebem que eles não respeitam o “sagrado direito” da propriedade privada. Não se trata simplesmente de costumes religiosos, mas de leis econômicas que causam insegurança alimentar.

Por isso, segundo a mentalidade dos fariseus, os discípulos de Jesus cometem duas ilegalidades, ou pecados: não respeitam as proibições da lei que impõe repouso no sábado; roubam alimento da propriedade alheia. A segunda acusação não aparece claramente, mas é aludida no fato do Antigo testamento que Jesus cita para sua própria defesa: Davi e seus companheiros, estando famintos, se apossam e comem o pão reservado aos sacerdotes, demonstrando com isso que a vida tem prioridade, inclusive, sobre a “sagrada” lei da propriedade privada!

Jesus responde à acusação dos fariseus com duas críticas à postura deles: embora se apresentem como defensores da tradição e da lei de Deus, eles desconhecem o sentido mais profundo das escrituras (“acaso vós não lestes?”); eles resistem a reconhecer Jesus como o enviado autorizado e Filho de Deus, que é o legislador e, por isso, está acima das leis (“o Filho do Homem é Senhor também do sábado”).

Algumas leis e costumes, por mais importantes que pareçam aos olhos de alguns, se contrapõem ao Evangelho, são como tecido velho irrecuperável ou como barril danificado. Neste momento da história do Brasil, com polarizações e mentiras que enganam e embrutecem, a quem insista que a lei do equilíbrio fiscal é intocável. Se, por causa disso, o povo não tem acesso à cultura, morre de fome ou por falta de atendimento médico, isso pouco importa a eles.

 

Meditação:

§  Retome a cena, inserindo-se na caminhada de Jesus com seus discípulos, sob o olhar crítico dos fariseus

§  Procure entender com exatidão a crítica que as lideranças religiosas (fariseus) fazem aos discípulos e a Jesus

§  Como você se sente diante da afirmação de Jesus, de que ele é senhor das leis e instituições, e está acima delas?

§  Você ainda defende, ao menos na prática, a prioridade das leis e costumes sobre as necessidades e a dignidade das pessoas?

Nenhum comentário: