O acesso à alimentação é um direito humano anterior à propriedade | 465 | 07.09.2024 | Lucas 6,1-5
Na cena imediatamente anterior que meditamos ontem,
Jesus afirma que seus discípulos devem viver a alegre e boa novidade do Reino
de Deus, deixando de lado “velhas lições” e “velhos hábitos” rigorosos, que
levam a formar guetos de pessoas que se consideram perfeitas e superioras às
demais. Hoje, Jesus volta à questão: a pessoa e suas necessidades estão acima
de toda lei e do culto.
É sábado e, desta vez, Jesus não está na sinagoga,
mas se deslocando com seus discípulos pelos campos. Sentindo fome, eles colhem
e comem espigas de trigo de uma plantação que não lhes pertence. Os fariseus
observam que eles caminham e colhem num dia que não é permitido fazê-lo. E,
além disso, percebem que eles não respeitam o “sagrado direito” da propriedade
privada. Não se trata simplesmente de costumes religiosos, mas de leis
econômicas que causam insegurança alimentar.
Por isso, segundo a mentalidade dos fariseus, os
discípulos de Jesus cometem duas ilegalidades, ou pecados: não respeitam as
proibições da lei que impõe repouso no sábado; roubam alimento da propriedade
alheia. A segunda acusação não aparece claramente, mas é aludida no fato do
Antigo testamento que Jesus cita para sua própria defesa: Davi e seus
companheiros, estando famintos, se apossam e comem o pão reservado aos
sacerdotes, demonstrando com isso que a vida tem prioridade, inclusive, sobre a
“sagrada” lei da propriedade privada!
Jesus responde à acusação dos fariseus com duas
críticas à postura deles: embora se apresentem como defensores da tradição e da
lei de Deus, eles desconhecem o sentido mais profundo das escrituras (“acaso
vós não lestes?”); eles resistem a reconhecer Jesus como o enviado autorizado e
Filho de Deus, que é o legislador e, por isso, está acima das leis (“o Filho do
Homem é Senhor também do sábado”).
Algumas leis e
costumes, por mais importantes que pareçam aos olhos de alguns, se contrapõem ao
Evangelho, são como tecido velho irrecuperável ou como barril danificado. Neste
momento da história do Brasil, com polarizações e mentiras que enganam e
embrutecem, a quem insista que a lei do equilíbrio fiscal é intocável. Se, por
causa disso, o povo não tem acesso à cultura, morre de fome ou por falta de
atendimento médico, isso pouco importa a eles.
Meditação:
§ Retome a cena,
inserindo-se na caminhada de Jesus com seus discípulos, sob o olhar crítico dos
fariseus
§ Procure entender com
exatidão a crítica que as lideranças religiosas (fariseus) fazem aos discípulos
e a Jesus
§ Como você se sente diante
da afirmação de Jesus, de que ele é senhor das leis e instituições, e está
acima delas?
§ Você ainda defende, ao
menos na prática, a prioridade das leis e costumes sobre as necessidades e a
dignidade das pessoas?
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