O que nos
afasta de Deus é nosso preconceito e falta de misericórdia | 477 | 19.09.2024 | Lucas 7,36-50
No final da parábola que antecede o
texto de hoje, a passagem que meditamos ontem, Jesus sentenciava: “A sabedoria
foi justificada por todos os seus filhos”. Os filhos da sabedoria são as
pessoas que entendem Jesus, os pobres e pecadores, e não os mestres da lei ou
os fariseus. Isso é reforçado no episódio de hoje.
Estamos diante de uma obra-prima da arte narrativa que
usa de forma exuberante tons de simpatia e delicadeza. O fariseu Simão recebe
Jesus em sua própria casa, e está cercado de gente do seu círculo de amizade
num clima de cumplicidade e confraternização. Mas eis que aparece do nada uma
visita embaraçante, que se dirige a Jesus com um gesto profundamente desconcertante.
A cena é esta: uma mulher conhecida como pecadora (não
quer dizer que o seja de fato!) entra na sala, se coloca atrás de Jesus
chorando, lava os pés dele com suas lágrimas, enxuga-os com seus próprios cabelos,
beija-os e unge-os com perfume. Jesus aparentemente não faz caso disso, e até
aprova o gesto da mulher. Ele entende o sentido do gesto, mas Simão abre a boca
contra Jesus, mesmo sem pronunciar palavras. Ele se pergunta que tipo de
profeta é Jesus se aceita coisas desse tipo.
O mais surpreendente e eloquente da cena é que Jesus
não se preocupa com a situação da mulher, mas com a atitude preconceituosa e
excludente de Simão e seus colegas. Enquanto os fariseus e doutores da lei
consideram o gesto da mulher inoportuno e ambíguo, para não dizer condenável, Jesus
o vê positivamente, como reconhecimento da misericórdia que Deus vem
manifestando nas suas ações. Este da mulher é um gesto de amor agradecido. Ela
diz tudo sem palavras.
O pensamento crítico de Simão é próprio de quem
esquece ou esconde que é pecador, e revela que seu conceito de profecia não é
correto. Para Jesus, o gesto da mulher não tem nada de ambíguo, e, mediante a
parábola dos dois devedores perdoados, afirma que quem está em pecado e não foi
perdoado é o próprio fariseu e aqueles que pensam e agem como ele: são mais
preconceituosos que religiosos.
Simão não reconhece sua condição de
pecador e, com isso, se fecha ao perdão e à gratidão. E a mulher, porque
perdoada, expressa sua confiança e gratidão a Jesus. Eis que o modelo a ser
imitado não é o fariseu, mas a mulher pecadora. É ela que vive uma fé que tem
força libertadora e regeneradora. E nós, com quem nos parecemos?
Meditação:
·
Retome, em todos os delicados detalhes e nuances, a
cena que se desenvolve na casa do fariseu Simão
·
Visualize as reações dos diferentes sujeitos, entre
na parábola de Jesus, e deixe-se ensinar por seu gesto e sua palavra
·
Você se reconhece serenamente como pecador/a
perdoado/a, como profundamente amado/a por Deus, se relaciona com as pessoas
sem preconceitos, e é capaz de mostrar gratidão?
Um comentário:
Amém eu creio que assim seja Amém
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