sábado, 28 de setembro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 29.09.2024

ELES SÃO DOS NOSSOS!

O evangelista Marcos descreve um episódio em que Jesus corrige de forma contundente uma atitude equivocada dos Doze. Não deveremos ouvir também hoje a sua advertência?

Os Doze procuram impedir a atividade de um homem que expulsa demônios, ou seja, alguém dedicado a libertar as pessoas do mal que as escraviza, devolvendo-lhes a sua liberdade e a dignidade. É um homem preocupado em fazer o bem às pessoas. Inclusive atua «em nome de Jesus». Mas os Doze observam algo que, na opinião deles, é muito grave: «Não é um dos nossos».

Os Doze não toleram a atividade libertadora de alguém que não está com eles. Parece-lhes inadmissível. Pensam que somente através da adesão ao seu grupo se pode levar a cabo a salvação que oferece Jesus. Não se fixam no bem que faz aquele homem. Só se preocupam que não esteja com eles.

Jesus, pelo contrário, reprova de forma rotunda a atitude dos seus discípulos. Quem desenvolve uma atividade humanizadora já está, de alguma forma, vinculado a Jesus e ao seu projeto de salvação. Os seus seguidores não precisam nem podem monopolizar a salvação de Deus.

Os Doze querem exercer controle sobre a atividade de alguém que não pertence ao seu grupo, porque vêm nele um rival. Jesus, que só procura o bem do ser humano, vê nele um aliado e um amigo: «Quem não está contra nós é por nós».

A crise que sofre hoje a Igreja é uma oportunidade para os seguidores de Jesus recordarem que a nossa primeira tarefa não é organizar e desenvolver com sucesso a nossa própria religião, mas ser o fermento de uma humanidade nova.

Por isso não devemos viver com receios, condenando posições ou iniciativas que não se ajustam aos nossos desejos ou esquemas religiosos. Não é muito típico da Igreja de Jesus estar sempre a ver inimigos em toda a parte. Pelo contrário, Jesus convida-nos a alegrar-nos de pessoas e instituições fora da Igreja possam estar a fazer para um desenvolvimento mais humano da vida. São dos nossos porque lutam pela mesma causa: um ser humano mais digno da sua condição de filho de Deus.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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