Os
mensageiros do Evangelho são sempre hóspedes, e não podem exigir nada | 489 | 01.10.2024 | Lucas 9,51-56
O breve texto do evangelho de hoje é uma espécie de
dobradiça que une as duas partes do Evangelho segundo Lucas. Ele nos diz que
“estava chegando o momento de Jesus ser elevado” (na cruz) e que, percebendo
isso, Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A primeira parte
apresenta o anúncio do reino de Deus e a formação dos discípulos, e a segunda,
o desfecho da sua missão, em Jerusalém.
Lucas
usa palavras que revelam uma decisão tanto brusca quanto solene por parte de
Jesus. “Subir” a Jerusalém, “ser elevado” na cruz, “descer aos infernos” e “ser
elevado ao céu” são expressões que apontam para o único e mesmo projeto
predominante na caminhada de Jesus. A decisão firme (“rosto retesado”) denota a
percepção e consciência de Jesus sobre os conflitos e das tensões que o
esperavam.
Tendo
tomado esta decisão em plena consciência, e tendo que atravessar a Samaria,
Jesus envia seus discípulos à frente para preparar sua passagem nas vilas e
povoados. Desta vez, eles não são encarregados de anunciar nada, mas recebem a
responsabilidade de organizar a hospedagem da caravana. Como havia previsto, a acolhida
e a hospedagem foi rejeitada quando os samaritanos souberam que Jesus estava se
dirigindo a Jerusalém. Eles eram desprezados pelos judeus, e pensaram que, por
estar peregrinando a Jerusalém, ele fosse um judeu ortodoxo.
Lucas
quer chamar a nossa atenção para a atitude dos discípulos, e não para a
rejeição por parte dos samaritanos. A reação de Tiago e João (que haviam
participado com Pedro da cena da transfiguração) é uma reedição daquela que
esboçaram diante de uma pessoa que expulsava demônios em nome de Jesus, mas não
os seguia. Em ambas, a atitude condenável é a intolerância.
O
desejo de fazer descer fogo do céu e destruir os samaritanos, já discriminados historicamente
tão desprezados pelos judeus, é uma reação ilustrativa de quem ainda não havia
entendido o caminho de Jesus, e esperava dele apenas triunfo e glória. É uma
visão fanática e uma atitude integrista, como está em moda de novo hoje, e não
apenas no Brasil. Jesus repreende Tiago e João, e todos os que esperam dele
apenas triunfo e glória. Ele não nos chamou e enviou para antecipar o castigo,
mas para preparar espaços para acolhê-lo. Diante da rejeição, não cabe a
violência.
Meditação:
§ Contemple
com a razão e com o coração a cena, e perceba a firmeza estampada no semblante
de Jesus
§ Observe
também os sinais de intolerância e raiva chispando nos olhos de João e Tiago, e
dos demais discípulos
§ Será
que também nós ainda vemos e esperamos em Jesus apenas glória e triunfo, e
desejamos fugir do rebaixamento e da cruz?
§ Em que medida também nós pensamos que somos enviados
para julgar e punir, e não para preparar espaços para Jesus
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