segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Os anunciadores do Evangelho são sempre hóspedes

Os mensageiros do Evangelho são sempre hóspedes, e não podem exigir nada | 489 | 01.10.2024 | Lucas 9,51-56

O breve texto do evangelho de hoje é uma espécie de dobradiça que une as duas partes do Evangelho segundo Lucas. Ele nos diz que “estava chegando o momento de Jesus ser elevado” (na cruz) e que, percebendo isso, Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A primeira parte apresenta o anúncio do reino de Deus e a formação dos discípulos, e a segunda, o desfecho da sua missão, em Jerusalém.

Lucas usa palavras que revelam uma decisão tanto brusca quanto solene por parte de Jesus. “Subir” a Jerusalém, “ser elevado” na cruz, “descer aos infernos” e “ser elevado ao céu” são expressões que apontam para o único e mesmo projeto predominante na caminhada de Jesus. A decisão firme (“rosto retesado”) denota a percepção e consciência de Jesus sobre os conflitos e das tensões que o esperavam.

Tendo tomado esta decisão em plena consciência, e tendo que atravessar a Samaria, Jesus envia seus discípulos à frente para preparar sua passagem nas vilas e povoados. Desta vez, eles não são encarregados de anunciar nada, mas recebem a responsabilidade de organizar a hospedagem da caravana. Como havia previsto, a acolhida e a hospedagem foi rejeitada quando os samaritanos souberam que Jesus estava se dirigindo a Jerusalém. Eles eram desprezados pelos judeus, e pensaram que, por estar peregrinando a Jerusalém, ele fosse um judeu ortodoxo.

Lucas quer chamar a nossa atenção para a atitude dos discípulos, e não para a rejeição por parte dos samaritanos. A reação de Tiago e João (que haviam participado com Pedro da cena da transfiguração) é uma reedição daquela que esboçaram diante de uma pessoa que expulsava demônios em nome de Jesus, mas não os seguia. Em ambas, a atitude condenável é a intolerância.

O desejo de fazer descer fogo do céu e destruir os samaritanos, já discriminados historicamente tão desprezados pelos judeus, é uma reação ilustrativa de quem ainda não havia entendido o caminho de Jesus, e esperava dele apenas triunfo e glória. É uma visão fanática e uma atitude integrista, como está em moda de novo hoje, e não apenas no Brasil. Jesus repreende Tiago e João, e todos os que esperam dele apenas triunfo e glória. Ele não nos chamou e enviou para antecipar o castigo, mas para preparar espaços para acolhê-lo. Diante da rejeição, não cabe a violência.

 

Meditação:

§  Contemple com a razão e com o coração a cena, e perceba a firmeza estampada no semblante de Jesus

§  Observe também os sinais de intolerância e raiva chispando nos olhos de João e Tiago, e dos demais discípulos

§  Será que também nós ainda vemos e esperamos em Jesus apenas glória e triunfo, e desejamos fugir do rebaixamento e da cruz?

§  Em que medida também nós pensamos que somos enviados para julgar e punir, e não para preparar espaços para Jesus

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