Algumas
preocupações em torno do Ano da Fé
Em artigo publicado
anteriormente (http://itacir-brassiani.blogspot.it/2012/08/ano-da-fe-1_27.html) já tive
oportunidade de manifestar minhas preocupações sobre a proposta de celebrar um ‘ano
da fé’ para lembrar os 50 anos do Concílio
Ecumênico Vaticano II. Naquela oportunidade escrevia que “há algo de errado
e triste quando, por causa de tendências de restaurar instituições e formas de
vida que ignoram ou contestam o Concílio, nos vemos na obrigação de lutar
aguerridamente para defender posturas e declarações de meio século atrás”, e
expressava o desafio de “celebrar a memória
agradecida dos 50 anos do Concílio Vaticano II sem menosprezar ou trair suas
intuições fundamentais”.
Se este ‘ano
da fé’, cuja abertura solene terá lugar no próximo 11 de outubro, quiser
favorecer “a alegre redescoberta e o renovado testemunho da fé”, não pode se
deter em iniciativas anacrônicas e inoportunas, como a preparação de subsídios
populares de caráter apologético contra as seitas e contra o relativismo,
sugerida pela Nota pastoral. Penso que a nacessidade
que temos como Igreja não é apenas ensinar a crer em Jesus Cristo, mas crer
como Jesus Cristo. Afinal, ele é o autor e o consumador da fé (cf. Hb
12,2).
Algumas indicações pastorais da Nota (06.01.2012) que a Congregação para a Doutrina da Fé
apresenta para a celebração do ‘ano da fé’
confirmam meus temores: depois do Sínodo
dos Bispos, a primeira iniciativa sugerida em âmbito universal é o
encorajamento às “peregrinações dos fiéis aos pés de Pedro, para professar a fé
no Pai, no Filho e no Espírito Santo, unindo-se com aquele que hoje é chamado a
confirmar a fé dos seus irmãos”! Na mesma direção, pede-se que seja promovida uma
recepção mais atenta e uma adesão mais cordial às homilias, catequeses,
discursos e intervenções diversas do Sucessor de Pedro...
É verdade que no referido Documento pastoral podemos encontrar
também algumas propostas relativamente interessantes, como: promoção de simpósios
para dar voz às autênticas testemunhas da fé em Jesus Cristo e aprofundar seu
conteúdo; publicações populares e sessões de aprofundamento dos Documentos do Concílio Vaticano II; realização
de seminários sobre o diálogo e a cooperação entre a fé e a razão; promoção de encontros
de diálogo de alto nível com não-crentes; celebrações ecumênicas da fé comum;
promoção de missões populares nas paróquias. E ainda outras, a critério das
Conferências Episcopais, Dioceses, Paróquias e demais Instituições.
Mas infelizmente isso não consegue
esconder o objetivo nem mudar o DNA da estratégia pastoral proposta pelo Papa
Bento XVI e incubada na Cúria Romana. Gostaria de estar enganado, mas é difícil
não ler nas entre-linhas o desejo de enfatizar mais o conteúdo dogmático que o
dinamismo emancipador da fé, de destacar mais a adesão institucional à Igreja
católica que a adesão à fé e à práxis de Jesus de Nazaré. Penso não entender
mal quando digo que o projeto do Ano da
Fé está mais interessado em fazer memória dos 20 anos da publicação da Catecismo da Igreja Católica que dos 50
anos do Concílio Ecumênico Vaticano II.
Vejamos, a título de exemplo, algumas
sugestões de atividades relativas ao Catecismo
que apresenta a Nota: (1) No âmbito universal: aprofundar seu
estudo; (2) No âmbito nacional: republicá-lo e traduzi-lo nas línguas nas quais
ainda não foi publicado; avaliar a consonância dos estudos teológicos com ele; (3)
No âmbito das dioceses: adequar a ele
os catecismos das Dioceses; verificar a presença dos seus conteúdos nos planos
de formação dos presbíteros; promover jornadas diocesanas para estudá-lo; escrever
Cartas Pastorais sobre a sua importância;
verificar sua recepção nas Igrejas locais; promover jornadas de formação do
clero em torno dos seus temas centrais; (4) No
âmbito das paróquias: preparar homilias sobre ele; organizar grupos de
catequistas para aprofundá-lo; distribuí-lo às famílias...
O que podemos fazer para que não se envolva
as principais lideranças das Comunidades e não gaste tempo e dinheiro, hoje tão
escassos, na simples defesa da combalida instituição eclesiástica? O que fazer
para evitar uma nova recaída no dogmatismo e na apologética católica? O que
fazer para que os católicos não passem ao largo dos homens e mulheres, que
clamam caídos à beira da estrada, para chegar de mãos limpas ao templo? O que
podemos fazer para que creiamos como Jesus Cristo, ou seja: reconhecendo Deus
no coração da história que geme em dores de parto e empenhando todas as
energias na dinamização do seu Reino?
Itacir Brassiani msf
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