Nossa caminhada missionária em Moçambique
Dos
dias 9 a 22 de outubro visitei, em nome da Coordenação Provincial, nossa missão
em Moçambique, na província de Nampula, mais precisamente no núcleo sede do
distrito de Mecubúri, onde atuam nossos confrades Pe. Elmar, Pe. Neiri, Pe.
Pedro Léo e Ir. Edilson).
Algumas informações
Mecubúri
tem uma população estimada em 25.000 habitantes, a grande maioria residente no
meio rural. A ocupação econômica prioritária desta população é a agricultura de
subsistência e o comércio (estilo camelô). Pessoas empregadas são funcionários
públicos (administração e ensino). Alguns encontram serviços ocasionais. Os
jovens que concluem a escola elementar e secundária não encontram possibilidade
de emprego. Raros são aqueles que podem seguir seus estudos. É comum encontrar
jovens que concluíram o ensino médio mas são semi-analfabetos.
No
dia 12 se outubro fui convidado e participei das comemorações alusivas ao Dia
do Professor, em Muiti. Constatei pessoalmente carências de todos os tipos no
sistema educacional, desde a parte física da escola até a qualificação dos
professores. O diretor do estabelecimento observou que era isso o que tinham
para oferecer aos estudantes. Outro aspecto importante a destacar, que é muito
comum, é a ausência dos estudantes em sala de aula, especialmente por causa da
malária.
As
famílias são numerosas, a maioria com mais de 10 filhos. A carência e a pobreza
são enormes. Basta verificar o IDH (índice de desenvolvimento humano)do país: Moçambique
ocupa um dos últimos lugares no ranking dos países membros da ONU. Além das
carências econômicas, é notória a baixa auto-estima da população.
A
cultura local do povo macúa, fortemente marcada pelo machismo, está arraigada
em hábitos que sobrecarregam as mulheres: cuidado direto dos filhos, cozinhar
(pilar alimento, buscar água), serviço de machamba (roça, exceto a derrubada de mato, já bem raro, feito pelo
homem, que também participa da colheita).
No
primeiro ano de vida, as crianças permanecem sempre junto das mães, na capulana
(peça de pano que fica junto ao corpo da mãe, onde a criança é carregada),
mesmo no serviço da machamba. Depois de desmamadas, quando as mães engravidam
novamente, passam para um segundo plano.
Nos
últimos anos, os jovens foram beneficiados por alguns progressos, embora limitados.
Nos ltimos 20 anos, houve um aumento da escolaridade, e as disparidades de
gênero diminuíram. Os jovens são cerca de 36,9% da população ativa da África,
muitos deles desempregados, consequências ligadas à reforma do ensino e a uma generalização
de oportunidades.
A
principal causa de morte dos jovens africanos é o HIV, responsável por mais de
53%, dos óbitos (além de 1,7% causados por outras doenças sexualmente
transmissíveis), seguida da tuberculose, com 4,5%, e da malária com 1,5%. O
relatório “Perspectivas Econômicas da África 2012”, afirma que o grande
desafios para os governos africanos é a geração de emprego para jovens, uma vez
que são mais 40 milhões de desempregados nesta faixa etária.
O trabalho missionário realizado pelos confrades nessa
realidade é louvável. Depois de quase cinco anos de presença e trabalho na
região de Mecubúri já são visíveis muitos avanços, fruto do empenho dos
missionários que estão lá e daqueles que já atuaram lá, das entidades e pessoas
parceiras e das lideranças das comunidades eclesiais.
Destaco especialmente três aspectos: o trabalho
pastoral, a escola familiar rural e a formação de lideranças.
Trabalho
pastoral
São 236 comunidades eclesiais, divididas em 35 zonas, às quais se somam
vários grupos de oração. As
distâncias são grandes e as estradas muito precárias. Nossos confrades se dedicam
à celebração dos sacramentos, à formação de lideranças eclesiais e aos diversos
setores e administração paroquial.
No tempo das chuvas, o atendimento prossegue apenas nas comunidades mais
acessíveis. O Pe. Neiri é o pároco, e conta com a colaboração dos colegas Elmar
e Pedro Léo como vigários paroquiais. Normalmente, eles atendem as comunidades de
forma coletiva e alternada, mesmo tendo uma subdivisão de áreas entre eles.
Escola Familiar Rural
A estrutura física da escola está praticamente concluída, faltando
apenas alguns detalhes. Neste ano de 2012, a escola acolheu a primeira turma de
alunos. Os alunos, que são em torno de 30, recebem aulas teóricas e práticas
sobre agricultura familiar, que vai desde a preparação da roça até a colheita
do produto, além do manejo e cuidado de animais.
É importante destacar que a escola está sob a responsabilidade do Ir. Edilson,
que é seu diretor. Nossos missionários investiram muito tempo e suor na
construção do complexo físico e burocrático da escola, sempre com a colaboração
de muitos ajudantes e funcionários. No ano de 2013, a escola acolherá duas
turmas de alunos, que ficam 15 dias na escola e 15 dias nas próprias famílias.
Haverá alternância entre as duas turmas: enquanto uma fica “em casa” a outra vive
na escola.
Formação de lideranças
Este é um trabalho continuo, que aos poucos vem ganhando mais força. Já
existem grupos de estudos bíblicos, formação para animadores de zona, SAV
(Serviço de animação vocacional), Pastoral da juventude, formação litúrgica e
de grupos de canto, entre outros. Para 2013 está previsto um trabalho de
formação sistemática com crianças, especialmente com meninas.
De modo geral, os confrades que estão presentes e atuantes em nosso nome
na missão em Mecubúri estão muito bem, animados com a caminhada e muito
empenhados no trabalho missionário. Buscam superar as dificuldades e limites,
colocando seus dons a serviço do Povo de Deus.
Pe. Maicon Rodrigo Rossetto msf
(Texto editado por Itacir Brassiani)
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