segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Por uma evangelização nova (6)


Nova Evangelização: quem a fará?

Nas reflexões anteriores abordamos três questões: em que consiste a evangelização; qual é o objetivo da ação evangelizadora; como renovar o método de evangelizar. É claro que na abordagem destas questões, mesmo no tratamento sumário que o espaço nos impôs, já tocamos no tema que nos ocupará hoje: quais são os sujeitos que podem desenvolver um processo de evangelização que seja nova no ardor, na expressão e no método.
O Instrumentum Laboris do Sínodo sobre a Nova Evangelização diz explicitamente que “o objetivo da nova evangelização é a transmissão da fé”, um processo complexo que une a fé dos cristãos e a vida da Igreja à revelação de Deus (IL, 90). É um pouco estranho, porque nada se diz sobre o despertar da fé, sobre o diálogo com as diversas experiências de fé (que hoje é frequentemente expressa num registro leigo e secularizado) e a tradução da fé em atitudes e ações sociais. A ênfase não é colocada no dinamismo da fé (método), mas no seu conteúdo (doutrina).
Positivamente, o Documento acima referido afirma que a transmissão da fé não é tarefa de um grupinho de eleitos e iluminados, mas dom oferecido a toda pessoa que responde ao chamamento da fé. “A transmissão da fé não é uma ação reservada a um indivíduo singular deputado propositadamente para isso. É tarefa de todo cristão e de toda a Igreja, que nesta ação redescobre continuamente a sua própria identidade...” (IL, 92). E é claro que esta tarefa pede uma adequada articulação das dimensões da caridade, do testemunho, do anúncio e da celebração.
Eis aqui uma questão absolutamente importante: o Evangelho é notícia boa, nova e merecedora de crédito quando é vivido, testemunhado, celebrado e anunciado por uma comunidade cristã concreta. E não é dispensável recordar aqui que, na maioria das regiões do mundo, as Igrejas particulares ou dioceses, e mesmo muitas paróquias, carecem de identidade eclesial e de dinamismo de comunhão, de modo que não podem ser consideradas propriamente sujeitos da evangelização. A fé só pode ser vivida e transmitida convenientemente por Comunidades primárias unidas na fé, na esperança e na caridade.
E o que dizer quando a vida e as estruturas da Igreja deixam dolorosamente visíveis desigualdades, discriminações, autoritarismos, exclusões, indiferenças? Às vezes chego a pensar que a nossa Igreja não conseguirá jamais superar práticas, posturas e estruturas monárquicas, elitistas, patriarcais, machistas e hierárquicas. Até as pequenas comunidades e os movimentos são frequentemente reféns de lutas e competições intestinas pouco evangélicas. Com que credibilidade esta Igreja pode transmitir a fé aos homens e mulheres de hoje e fazer com que o Evangelho penetre no coração da cultura?
O Instrumentum Laboris identifica, no interior da comunidade cristã, alguns sujeitos específicos a quem competiria prioritariamente o anúncio do Evangelho de um modo novo: os/as catequistas, os diáconos, as mulheres. A família é indicada como “lugar exemplar de evangelização” (cf. IL, 110-113), enquanto que da Vida Consagrada se espera que dê um contributo essencial. Mas os grupos e movimentos eclesiais são reconhecidos e incensados como dom da Providência à Igreja e apontados como modelos exemplares da prática de uma nova evangelização: por sua capacidade de motivar as próprias opções de vida; pela profissão pública e sem pudor da fé; pelo destaque aos momentos de comunhão e oração; pela paixão pelas novas gerações; e pela “preferência espontânea pelos pobres e excluídos” (sic!).
De qualquer modo, deseja-se que os leigos e leigas sejam os protagonistas da nova evangelização. Assim, “a primeira prioridade” (cf. IL, 118) da Igreja seria despertar a identidade batismal de cada cristão, para que esteja em condições de dar as razões da própria fé e de testemunhar o Evangelho. Mas isso deve ser feito numa atitude de diálogo e de respeito com as diversas experiências de fé; de compromisso com a dignidade da pessoa humana; de serviço à causa da emancipação humana; de respeito e cuidado da biodiversidade.  Mas isso não será viável se a Igreja não investir pesadamente para assegurar aos leigos e leigas uma sólida formação teológica e espiritual e oferecer a eles autênticas comunidades e amplos espaços eclesiais. E, desculpem-me a irreverência, isso não se faz propondo uma nova apologia, sempre velha, mesmo quando vem qualificada como suave e respeitosa (cf. IL, 119).
Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: