segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Santa Teresa de Avila


Hoje é dia de Santa Teresa de Avila, mística, reformadora e doutora da Igreja. Para registrar a importância dessa data, transcrevo um breve texto de Eduardo Galeano e um dos belos poemas desta santa mulher.

"Teresa de Ávila havia entrado no convento para se salvar do inferno conjugal. Mais valia ser escrava de Deus que serva de macho.
Mas São Paulo tinha outorgado três direitos às mulheres: obedecer, servir e calar. E o representante de Sua Santidade o Papa condenou Teresa “por ser fêmea inquieta e andarilha, desobediente e contumaz, que, a título de devoção, inventa doutrinas más contra São Paulo, que mandou que as mulheres não ensinassem”.
Teresa tinha fundado na Espanha vários conventos onde as monjas davam aula e tinham autoridade, e muito importava a virtude e nada a linhagem, e de nenhuma era exigida limpeza de sangue.
Em 1576, foi denunciada diante da inquisição, porque seu avô dizia ser cristão velho, mas era judeu convertido, e porque seus transes místicos eram obra do diabo metido em corpo de mulher.
Quatro séculos depois, Francisco Franco se apoderou do braço direito de Teresa, para se defender do diabo em seu leito de agonia. Por uma dessas estranhas reviravoltas da vida, naquele momento Teresa já era santa e modelo da mulher ibérica, e seus pedaços tinham sido enviados a vrias Igrejas da Espanha, exceto um pé, que foi parar em Roma." (Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 135-136)



VIVO SEM EM MIM VIVER

Vivo sem em mim viver / e tão alta vida espero / que morro por não morrer.
Vivo já fora de mim / depois que morro de amor, / porque vivo no Senhor, /
que me quis só para Si: / dei meu coração a Ti / e pus nele o dizer / que morro por não morrer.

Esta divina prisão / do amor em que sempre vivo / fez de Deus o meu cativo / e livre meu coração. /
Causa em mim tanta paixão / Deus meu prisioneiro ser, / que morro por não morrer.

Ai! Que longa é esta vida! / Quão duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros / em que a alma esta metida!
Só de esperar a saída / me causa tal padecer / que morro por não morrer.

Ai! Como a vida é amarga / sem o gozo do Senhor!
Do Pai tão doce é o amor, / e a esperada hora tão longa!
Tire-me Deus esta carga, / Este aço não vou poder, / que morro por não morrer.
Vivo com uma confiança: / qualquer hora hei de morrer, / pois morrendo hei de viver.

(Traduzido por Wanderson Lima)

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