Como
propor a fé como algo relevante e atrativo?
O objetivo do próximo Sínodo dos Bispos é avaliar o caminho feito pela Nova Evangelização e traçar linhas
orientadoras e comuns para as Igrejas locais. O Instrumentum Laboris, resultado da contribuição enviada por
Dioceses, Conferências de Bispos e de Religiosos e por outros organismos
eclesiais, recomenda várias questões à reflexão da assembléia sinodal. O Sínodo
é, por definição, dis Bispos. Mas creio que não é proibido que leigos/as,
religiosos/as e padres, teólogos/as ou não, participemos dessa reflexão. Somos
parte viva da Igreja, povo de Deus, e a evangelização é missão que também nos
toca.
Uma das questões encomendadas à reflexão dos bispos
sinodais é formulada do seguinte modo: “se interrogar para descobrir as razões
profundas dos limites de diversas instituições eclesiais em mostrar a
credibilidade das próprias ações e do próprio testemunho, em tomar a palavra e
fazer-se escutar enquanto portadores do Evangelho de Deus” (IL, § 32). Em
outras palavras, trata-se da da dificuldade de fazer com que a experiência de
fé (cristã) seja vista como significativa, seja transmitida frutuosamente pelos
cristãos e seja acolhida pelos homens e mulheres de hoje.
O próprio Documento oferece algumas pistas. Penso que o ponto de partida é compreender e viver o Evangelho de Jesus Cristo
como algo que ilumina, transfigura, liberta e potencializa integralmente o ser
humano, o mundo e a história (cf. IL, §
31). Mas isso pressupõe várias coisas, e a primeira é que a fé e a adesão ao Evangelho faz de nós pessoas renovadas à imagem
de Jesus Cristo: pessoas autenticamente humanas, dispostas a colaborar na
realização das utopias autenticamente humanas, prontas a participar da aventura
da busca do sentido da vida. O núcleo da revelação em Jesus Cristo é que Deus se faz companheiro e avalista das mais
profundas buscas humanas, e isso define nosso modo de evangelizar: fazer-se
companheiros/as das pessoas e dos povos na busca do sentido e da verdade.
Como cristãos, cremos que o
Espírito de Deus está ativo no coração dos homens e mulheres e na raiz dos
movimentos de libertação, sejam de explícita inspiração cristãs ou não. Por
isso, nossa primeira ação não é anunciar a pessoa de Jesus Cristo mas, como
ele, tentar identificar no coração dos
desejos e movimentos de emancipação a presença germinal do Reino de Deus e
engajar-se neles. É no interior desse engajamento grauito e fraterno que
descobrimos novas expressões e novas possibilidades da presença viva de Jesus
Cristo e podemos pronunciar uma palavra que mereça crédito.
Ora, essa via dificilmente
passa por uma palavra hegemônica e indiscutível, ensinada como única verdade e
imposta como lei. O caminho para uma evangelização autêntica e um testemunho
digno de fé passa pelo diálogo assumido
como mística, como método e como meta. Um diálogo de experiências de fé feitas no interior de diferentes
culturas e expressas em horizontes e linguagens diversas. Neste sentido, “tomar
a palavra”, significa dizer uma
palavra, propor um sentido, partilhar
uma experiência de fé considerada
importante. Não é realista, nem mesmo cristão, um projeto que queira restaurar o
catolicismo como a palavra verdadeira, o sentido único, a
experiência de Deus. Para que sejamos ouvidos e respeitados, os cristãos
precisamos abandonar ‘aquela velha opinião formada sobre tudo’ e descer à arena
na qual se debatem e se aventuram os buscadores de Deus.
Um segundo pressuposto
fundamental é que o Evangelho de Jesus Cristo é um bem para a humanidade, mas
sem passar apressadamente desta convicção de fé ao discutível projeto de
‘converter’ o maior número possível de homens e mulheres ao catolicismo. O
Evangelho é bom para o ser humano porque afirma que todas as pessoas,
independemente de pertença religiosa ou política, do grau de estudo e da
cultura, de idade ou de ideologia política, podem alcançar a salvação. A dura
experiência de errar o alvo almejado ou de ficar aquém da meta estabelecida,
deficiência que a teologia chama de pecado, é perdoada e curada por Deus que
vem gratuitamente ao nosso encontro na nossa carne vulnerável. Deus nos salva
porque diz que essa carência, que às vezes se mostra como vazio doloroso, não
precisa ser preenchida, pois é bela e boa, nossa mais autêntica humanidade. Eis
a boa nova que partilhamos.
Itacir Brassiani msf
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