sábado, 6 de outubro de 2012

Mês das missões


Tempo de afagar a terra e conhecer seus desejos
Envio de Edina (Paroq. Divino Espirito Santo, Goiani)
São palavras que ouvimos dos lábios de Jesus: “Felizes os olhos que vêem o que vós estais vendo! Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram.” (Lc 10,23-24). E o poeta canta: “Afagar a terra; conhecer os desejos da terra; cio da terra, propícia estação; e fecundar o chão...”
Que felicidade ver uma Igreja constituídas de comunidades unidas na fé em Jesus Cristo, promotoras corajosas da solidariedade, anunciadoras proféticas da dignidade dos pobres; de comunidades radicalmente missionárias que enviam homens e mulheres como testemunhas de uma fraternidade que desconhece fronteiras; de comunidades ministeriais animadas e dirigidas por homens e mulheres, brancos e negros, letrados e pouco letrados; comunidades que testemunham discretamente o Evangelho, dialogando rerspeitosamente com todas as religiões e culturas, acolhendo as riquezas que Deus nelas semeia abundantemente e desde sempre...
Pena que esse é apenas um sonho, e é preciso acordar para a realidade... Mas, graças a Deus, este é um sonho que ninguém pode matar. Um sonho que vai deixando cair gotas de luz e sementes de ousadia à beira das estradas, sobre terrenos pedregosos, em meio a espinhos e também em terra boa. Um sonho que já oferece frutos generosos e saborosos, embora em pequena quantidade, aqui e acolà. Um sonho que desafia a velha passividade e inocula a criatividade num corpo eclesial demasiadamente cansado, marcado pelo passado e ergado sob o peso de leis e hierarquias.
O mês de reflexão e oração pelas missões se abre como memória agradecida e brecha de esperança, e deixar entrar ao menos um raio do sonho que nos move. Édina, leiga militante da Pastoral da Juventude de Goiás, vem acariciando um sonho com cores missionárias, e se entusiasma com seu crescimento. Ela escrevia no início do ano: “Tenho aprofundado a aproximação com o projeto de missão... Me alegra essa possibilidade. Creio que o Nazareno me provoca em seus diversos sinais de presença, juntos aos/as empobrecidos/as.”
Edina, na Casa da Juventude (Goiania), onde trabalha.
Pouco tempo mais tarde, confidenciava, como quem acaricia uma semente a fim de que possa germinar: “Estou em profunda preparação cotidiana para essa possibilidade de estar em terras africanas. Ainda não temos nada definido, nem data, mas eu sei e sinto que eu vou... Estou muito provocada a assumir esse chamado que está mais forte a cada dia... Que seja um encontro com o verdadeiro ressuscitado no meio do povo!”
Mais recentemente, tendo já programado sua primeira visita missionária ao solo africano, possivelmente em Moçambique, escreveu com um entusiasmo que não pode e não quer esconder: “Esses dias têm sido de intensa e amável experiencia de Deus. A decisão de ir como missionária para o solo africano colocou-me em ‘outra dimensão’. Cada dia é como se eu estivesse mais dentro da África, e posso dizer que me sinto mais perto dos que estão longe...”
As Comunidades de Goiás não querem deixá-la partir sozinha. Ela parte em nome de um espírito comunitário que a fez madura e generosa. “Ontem foi a celebração de envio na Paróquia Divino Espirito Santo, aqui em Goiânia. Uma experiência única. Comunidade acolhedora e fraterna... Era como se eu fosse da comunidade há anos! Todo cuidado em preparar o envio, garantindo elementos africanos que me colocaram dentro da missão em si. No próximo domingo será o envio em minha comunidade de origem, lá em Rio Verde. Comunidade Nossa Senhora Aparecida, minha Mãe e protetora!”
Nesta semana Édina partiu rumo a Mecuburi, diocese de Nampula, interior de Moçambique. Por enquanto, a missão tem caráter de iniciação ou estágio missionário, como aquele narrado por Lucas, no capítulo 10 do seu evangelho. “Essa seria uma espécie de pré-missão. Vou ficar um mês e contribuir mais diretamente na formação de lideranças. Teremos encontros de formação nos finais de semana. Durante a semana faremos os trabalhos diários nas comunidades... A minha intenção (ainda não definida com maiores detalhes) é que nos próximos anos eu consiga me organizar (em termos de tempo, trabalho e recursos) para ficar por lá um tempo maior.”
Édina, sempre negra e linda naquilo que é, naquilo que diz e naquilo que faz, afagou a terra. Escutou seus cantos, gemidos e apelos. Compartilhou seus desejos mais profundos. E percebeu que chegou a esttação de fecundar esse chão e deixar-se fecundar pelo Espírito missionário. Felizes os olhos que têm o privilégio de ver e os ouvidos que têm a graça de ouvir testemunhos como esse. Assim, o mês de outubro vai muito além da oração pelas missões.
Itacir Brassiani msf

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