Tempo de afagar a terra e conhecer seus
desejos
Envio de Edina (Paroq. Divino Espirito Santo, Goiani) |
São
palavras que ouvimos dos lábios de Jesus: “Felizes os olhos que vêem o que vós
estais vendo! Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que
estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram.”
(Lc 10,23-24). E o poeta canta: “Afagar a terra; conhecer os desejos da terra;
cio da terra, propícia estação; e fecundar o chão...”
Que
felicidade ver uma Igreja constituídas de comunidades unidas na fé em Jesus
Cristo, promotoras corajosas da solidariedade, anunciadoras proféticas da
dignidade dos pobres; de comunidades radicalmente missionárias que enviam
homens e mulheres como testemunhas de uma fraternidade que desconhece
fronteiras; de comunidades ministeriais animadas e dirigidas por homens e
mulheres, brancos e negros, letrados e pouco letrados; comunidades que
testemunham discretamente o Evangelho, dialogando rerspeitosamente com todas as
religiões e culturas, acolhendo as riquezas que Deus nelas semeia abundantemente
e desde sempre...
Pena
que esse é apenas um sonho, e é preciso acordar para a realidade... Mas, graças
a Deus, este é um sonho que ninguém pode matar. Um sonho que vai deixando cair
gotas de luz e sementes de ousadia à beira das estradas, sobre terrenos
pedregosos, em meio a espinhos e também em terra boa. Um sonho que já oferece
frutos generosos e saborosos, embora em pequena quantidade, aqui e acolà. Um
sonho que desafia a velha passividade e inocula a criatividade num corpo eclesial
demasiadamente cansado, marcado pelo passado e ergado sob o peso de leis e
hierarquias.
O
mês de reflexão e oração pelas missões
se abre como memória agradecida e brecha de esperança, e deixar entrar ao menos
um raio do sonho que nos move. Édina, leiga militante da Pastoral da Juventude
de Goiás, vem acariciando um sonho com cores missionárias, e se entusiasma com
seu crescimento. Ela escrevia no início do ano: “Tenho
aprofundado a aproximação com o projeto de missão... Me alegra essa
possibilidade. Creio que o Nazareno me provoca em seus diversos sinais de
presença, juntos aos/as empobrecidos/as.”
Edina, na Casa da Juventude (Goiania), onde trabalha. |
Pouco tempo mais tarde, confidenciava, como quem
acaricia uma semente a fim de que possa germinar: “Estou em
profunda preparação cotidiana para essa possibilidade de estar em terras
africanas. Ainda não temos nada definido, nem data, mas eu sei e sinto que eu vou... Estou muito provocada a assumir esse
chamado que está mais forte a cada dia... Que seja um encontro com o verdadeiro
ressuscitado no meio do povo!”
Mais recentemente, tendo já programado sua primeira
visita missionária ao solo africano, possivelmente em Moçambique, escreveu com um
entusiasmo que não pode e não quer esconder: “Esses dias têm sido de
intensa e amável experiencia de Deus. A decisão de ir como missionária para o
solo africano colocou-me em ‘outra dimensão’. Cada dia é como se eu estivesse
mais dentro da África, e posso dizer que me sinto mais perto dos que estão longe...”
As
Comunidades de Goiás não querem deixá-la partir sozinha. Ela parte em nome de
um espírito comunitário que a fez madura e generosa. “Ontem foi a celebração de
envio na Paróquia Divino Espirito Santo, aqui em Goiânia. Uma experiência
única. Comunidade acolhedora e fraterna... Era como se eu fosse da comunidade
há anos! Todo cuidado em preparar o envio, garantindo elementos africanos que
me colocaram dentro da missão em si. No próximo domingo será o envio em minha
comunidade de origem, lá em Rio Verde. Comunidade Nossa Senhora Aparecida, minha
Mãe e protetora!”
Nesta
semana Édina partiu rumo a Mecuburi, diocese de Nampula, interior de
Moçambique. Por enquanto, a missão tem caráter de iniciação ou estágio
missionário, como aquele narrado por Lucas, no capítulo 10 do seu
evangelho. “Essa seria uma espécie de pré-missão.
Vou ficar um mês e contribuir mais diretamente na formação de lideranças.
Teremos encontros de formação nos finais de semana. Durante a semana faremos os
trabalhos diários nas comunidades... A minha intenção (ainda não definida com
maiores detalhes) é que nos próximos anos eu consiga me organizar (em termos de
tempo, trabalho e recursos) para ficar por lá um tempo maior.”
Édina,
sempre negra e linda naquilo que é, naquilo que diz e naquilo que faz, afagou a
terra. Escutou seus cantos, gemidos e apelos. Compartilhou seus desejos mais
profundos. E percebeu que chegou a esttação de fecundar esse chão e deixar-se
fecundar pelo Espírito missionário. Felizes os olhos que têm o privilégio de
ver e os ouvidos que têm a graça de ouvir testemunhos como esse. Assim, o mês
de outubro vai muito além da oração pelas missões.
Itacir
Brassiani msf
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