Evangelização:
como fazê-la nova e autêntica?
A Igreja Católica
Apostólica Romana está em compasso de Sínodo. A pergunta que orienta os bispos
sinodais (infelizmente, leigos e religiosos são presença absolutamente
minoritária, convidados/as especiais) representantes da Igreja dos cinco
continentes, é esta: como anunciar o
Evangelho de Jesus Cristo de modo novo e adaptado aos homens e mulheres de hoje?
Seria desejável que esta pergunta não fosse a inquietação apenas da Sede
Apostólica, mas ocupasse um lugar central na pauta de todas as assembléias
pastorais, paroquiais ou diocesanas.
Há exatamente 20
anos, o Papa João Paulo II lançava, no contexto dos 500 anos de presença do
cristianismo na América Latina e quase que à queima-roupa, a expressão ‘nova
evangelização’. Em diversas ocasiões, e com poucas variações, o Papa voltou à
questão e deslindou seu significado: uma evangelização nova no seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões. Com o
passar do tempo, segundo o Instrumentum
Laboris do Sínodo dos Bispos, amadureceu a convicção de que a nova evangelização
é um processo di discernimento que
soa como exigência e estímulo para toda a
Igreja.
As reflexões feitas
nas Dioceses, Conferências Episcopais e Institutos religiosos centros
Teológicos em preparação a este Sínodo coincidem na compreensão de que “a nova
evangelização é a capacidade da Igreja em viver de modo renovado a própria
experiência comunitária de fé e de anúncio num contexto de novas situações
culturais que despontaram nestes últimos decênios” (IL, 47). A proposta ressoa
como um apelo que a Igreja faz a si mesma
para concentrar suas energias e se empenhar de forma propositiva neste ambiente
culturalmente novo.
Para que esse
projeto seja viável, há um ponto de
partida irrenunciável: uma leitura
crítica e interdisciplinar que ajude a compreender a complexidade do tempo que
se chama hoje, suas encruzilhas e possibilidades, as estruturas de pecado e
os movimentos de emancipação, os centros de poder e os sujeitos emergentes,
enfim: as sensibilidades, necessidades e as reivindicações mais significativas
dos homens e mulheres de hoje, das suas religiões, movimentos e organizações. E
aqui é preciso ter muito cuidado com leituras simplórias e pessimistas, como se
no mundo tudo fosse maldade e pecado, e a Igreja tivesse o único remédio
verdadeiro.
Em segundo lugar,
para desenvolver uma nova evangelização a
Igreja precisa rever sua atitude de fundo diante de um mundo e de uma cultura que conquistaram sua maioridade. O mundo
de hoje desconfia de uma pessoa ou instituição que se apresenta como portadora
de uma verdade – moral, intelectual, religiosa – definitiva e inquestionável e
com a pretensão de impô-la a tudo e a todos. Uma evangelização realmente nova deve estar disposta a estabelecer um diálogo
com interlocutores adultos e respeitáveis, pronta a propor e a acolher, a
buscar conjuntamente aquilo que é melhor para promover o bom-conviver de todos.
Um terceiro
aspecto, pressuposto nas observações acima, é a necessária renovação do método de evangelizar. Numa chave negativa: é
totalmente inócuo um método que ignore os desejos e necessidades das pessoas de
hoje e parta da moral e da doutrina; não é viável uma evangelização que
priorize as celebrações, realizadas quase que exclusivamente nas paróquias;
produz poucos frutos ou se mostra estéril uma estratégia centrada nos
sacramentos; são frustrantes os resultados de um projeto de evangelização que
tenha no clero seu agente protagonista. Em chave positiva: o método deve
assegurar o diálogo respeitoso com sujeitos de fé adultos; partir das
experiências, desejos e perguntas dos homens e mulheres de hoje; focalizar mais
a vida que a doutrina; procurar mais os aspctos e experiências que unem e
aproximam que os elementos que divergem e se opõem.
Por isso, estou
apreensivo com este Sínodo sobre a nova evangelização. Depois de ter lido os
dois Documentos de preparação, fiquei
com algumas impressões que me inquietam: a leitura da realidade é eurocêntrica
e claramente negativa; os novos sujeitos sociais que emrgem no cenário do mundo
não recebem a devida atenção; a dimensão social da fé aparece de forma muito
marginal; a Igreja se pensa dona da verdade; não se percebe qualquer tentativa
de renovar o método. Espero ser desmentido!
Itacir Brassiani
msf
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