sábado, 20 de outubro de 2012

Sinodo dos Bispos


O risco do fechamento

Agora está claro. Não há mais dúvida. Quando a Cúria Romana e o Sínodo dos Bispos falam de nova evangelização atribuem a esta expressão um sentido muito específico. Não pensam em anunciar o Evangelho de Jesus Cristo com novos métodos e novas expressões, em sintonia com o mundo de hoje, mas em revitalizar a fé dos fiéis católicos.

Em princípio este não é propriamente um problema. Penso que todos/as estamos de acordo sobre a necessidade de dar um dar dinamismo e eficácia pública à fé que celebramos nos templos e aprofundamos nos centros de estudo de teologia e de catequese. Mas reduzir a nova evangelização a isso não equivaleria a sequestrar e trair o sentido original da expressão? E com isso não estaria a Igreja caindo na tentação de dar as costas ao mundo e voltar-se ‘para dentro’?

Minha impressão é de que, com o Sínodo dos Bispos ora em curso, a diversidade das Igrejas locais – com seu contexto, desafios e iniciativas concretas – está sendo reconduzida à uniformidade romana. Os problemas do mundo rico são considerados problemas de todo o mundo. Os medos de uma Igreja que é questionada ou considerada irrelevante, que murcha e se fecha defensivamente apegando-se a picuinhas doutrinais e apologias ultrapassadas, são simplesmente tomados como se fosse a situação da Igreja como um todo.

Ora, isso significa o sepultamento definitivo, com pompas e circunstâncias, da novidade do Concílio Vaticano II. Nele a Igreja afirmou a legitimidade das Igrejas locais, fez as contas com o mundo, abriu-se ao Espírito que atua e fala mediante os sinais dos tempos, acolheu com boa vontade seus progressos, ousou o diálogo e assumiu o desafio de fazer-se presente nele, testemunhando e anunciando de forma serena e convicta o Evangelho de Jesus Cristo.

Esse sequestro semântico da nova evangelização significa também o cínico e mortal esquecimento dos gritos dos pobres e da criação inteira. Como o sacerdote e o levita da conhecida parábola (cf. Lc 10,25-37), salvo honrosas exceções, os homens da hierarquia desviam o olhar e os passos dos filhos e filhas de Deus assaltados e abandonados à beira da estrada. Para aqueles, as margens das estradas e os porões do mundo não existem, e a questão do sentido da vida e da ortodoxia da fé são absolutamente prioritárias. Professar corretamente a fé é preciso, viver não é preciso.

Espero sincera e ansiosamente que minhas sombrias percepções sejam desmentidas. E rezo para que os clamores do Espírito encontrem ouvidos abertos e corações de carne. Ou a Igreja perderá definitivamente o trem da história, com o consequente abandono das vítimas e uma mutilação irremediável do Evangelho.
Itacir msf

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