quinta-feira, 2 de julho de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 05.07.2020


APRENDER COM AS PESSOAS SIMPLES

Jesus não teve problemas com as pessoas simples dos povoados. Sabia que O entendiam. O que o preocupava era se algum dia os líderes religiosos, os especialistas da lei, os grandes mestres de Israel chegariam a captar a sua mensagem. Cada dia era mais evidente: o que ao povo simples enchia de alegria era recebido por eles com indiferença.
Os camponeses, que viviam defendendo-se da fome e dos grandes proprietários de terras entendiam Jesus muito bem: Deus queria vê-los felizes, sem fome nem opressores. Os doentes confiavam Nele e, encorajados pela fé, voltavam a acreditar no Deus da vida. As mulheres que se atreviam a sair de sua casa para O escutar intuíam que Deus tinha que amar como dizia Jesus: com as entranhas de uma mãe. As pessoas simples do povo sintonizavam com Ele. O Deus que lhes anunciava era aquele que desejavam e necessitavam.
A atitude dos “sábios e entendidos” era diferente. Caifás e os sacerdotes de Jerusalém viam-No como um perigo. Os mestres da lei não aceitavam que Ele se preocupasse tanto com o sofrimento das pessoas e se esquecesse das exigências da religião. Por isso, entre os seguidores mais próximos de Jesus, não havia sacerdotes, escribas ou mestres da lei.
Um dia, Jesus mostrou a todos o que sentia no Seu coração. Cheio de alegria, orou assim a Deus: “Dou-Te graças, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas de sábios e entendidos e as revelaste às pessoas simples.”
É sempre assim. O olhar das pessoas simples é geralmente mais límpido. Não há no seu coração tanto interesse distorcido. Vão ao essencial. Sabem o que é sofrer, sentir-se mal e viver sem segurança. São os primeiros a entender o Evangelho.
Estas pessoas simples são o melhor que temos na Igreja. Deles devem aprender bispos, teólogos, moralistas e entendidos em religião. A eles Deus mostra algo que a nós nos escapa. Nós, eclesiásticos, corremos o risco de racionalizar, teorizar e complicar demasiado a fé.
Por que há tanta distância entre a nossa palavra e a vida das pessoas? Por que a nossa mensagem parece sempre mais obscura e complicada do que a de Jesus?
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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