A perseverança na prática do amor honra a nossa humanidade!
As parábolas do trigo
e do joio, da semente de mostrada e do fermento estão situadas na parte do
evangelho de Mateus que trata do dinamismo do Reino de Deus. Os discípulos se
perguntavam se o Reino proposto por Jesus Cristo é realmente uma boa semente,
se tem força e futuro. A experiência mostra que, apesar de todos os esforços e
bons propósitos, o resultado do nosso empenho é sempre confuso e insuficiente.
Tudo parece marcado pela ambiguidade e pela contradição. As coisas começam bem,
mas depois se desviam do rumo...
A ambivalência tem
suas raízes nas dimensões inconscientes do ser humano, faz parte da condição
humana e coexiste com as boas iniciativas. Sempre existiram forças que se opõem
ao processo de humanização. Jesus não se preocupa em pesquisar e debater a
origem desse mal que contamina todas as iniciativas, projetos e instituições
humanas e sociais. Ele simplesmente diz
que numa noite, “quando todos dormiam”, um adversário semeou joio no meio do
trigo. Ele é lucido ao constatar que o mal faz parte da condição humana.
É interessante
perceber que, conforme a parábola, é apenas quando a boa semente do Reino se
desenvolve que a ambivalência aparece. O mal que se opõe à justiça do Reino não
é uma força absoluta, congênita, comparável ou superior ao bem. É uma força
sempre relativa, identificável no confronto com os valores e práticas de Jesus
Cristo e seus discípulos. Ela provoca confusão e nos rouba forças que poderiam
ser empenhadas noutras coisas, mas não é original e nem tem futuro. Ela não é
indestrutível!
O zelo pela projeto de
Deus às vezes provoca em nós uma santa ira, e nosso desejo é pegar foices e
facões e extirpar da sociedade a injustiça e da Igreja a ambiguidade, acusando
pessoas e cortando o mal pela raiz. Esta seria uma solução relativamente fácil
se o joio estivesse apenas fora de nós, nas estruturas, e se fôssemos pessoas
incorruptíveis, sem ambivalências e sem contradições. Mas o integrismo costuma
se mostrar burro, irracional e violento. É preciso ter paciência e esperar que
as coisas amadureçam e fiquem mais claras.
Jesus propõe duas
outras parábolas, nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda
e do fermento ao arbusto frondoso e à massa levedada que produzem. Estas
parábolas são uma resposta às perguntas que frequentemente nos fazemos: será
que o amor, a ternura, a bondade e a compaixão não são ações insignificantes,
pequenas e demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que
nos contentar em ser sempre uma minoria que age apenas para reparar danos, sem
nunca chegar à vitória plena?
Para os grandes Roma,
de Jerusalém e de todos os centros de poder, inclusive Brasília, a semente ou o
fermento do Reino de Deus é insignificante e não tem futuro. Não faltam pessoas
e grupos que, em nome da eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte e
potente, capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a
proposta de Jesus é outra: crer e confiar na força dos fracos, na fecundidade
invencível do amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do
testemunho.
A pergunta, porém,
ressurge insistente: isso não é apenas romantismo inconsequente, sonho de adolescente?
Jesus responde a este questionamento chamando nossa atenção para o mundo
doméstico e feminino. Precisamos aprender da ação silenciosa, escondida e
demorada do fermento que a cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria
afirmar que a ação do fermento é ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do
Reino de Deus precisa entrar em contato com a farinha e perder-se na massa,
esperar.
Esta parábola do Reino
completa o que naturalmente falta às anteriores. Cada parábola quer evidenciar
um aspecto do dinamismo do Reino de Deus. Aquela do trigo e do joio e a outra
da rede nos chamam à paciência e ao discernimento. A história da semente de
mostarda nos ensina a confiança nos meios aparentemente pequenos e frágeis. E a
parábola do fermento nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a
gastar-se na ação de solapar as bases dos impérios que ameaçam, intimidam, excluem
e matam.
Jesus de Nazaré,
incansável pregador do Reino de Deus, teimoso construtor de um Novo Mundo!
Ensina-nos a atuar como o fermento, a “corromper” o tecido social que mantém o
reino dos mais fortes, a criar micro-organismos portadores de uma nova ordem
social, geradores de novos homens e novas mulheres. Dá-nos a coragem de
perdermo-nos na luta, com a força do teu Espírito e da tua Palavra, sem medos e
sem integrismos. E ajuda-nos a descobrir o infinito e fecundo valor da
pequenez, da minoridade. Assim seja!
Amém!
Itacir Brassiani msf
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