A VIDA É MAIS DO QUE
SE VÊ!
Em geral, tendemos a procurar Deus nos
acontecimentos espetaculares não nos pequenos e insignificantes. Por isso, resultava difícil aos galileus acreditar em
Jesus quando lhes dizia que Deus já estava atuando no mundo. Onde se poderia
sentir o Seu poder? Onde estavam os sinais extraordinários de que falavam os
escritores apocalípticos?
Jesus teve que ensiná-los a captar a presença
salvadora de Deus de outra forma. Mostrou-lhes a Sua grande convicção: a vida é mais do que aquilo que se vê.
Enquanto vamos vivendo de uma forma distraída, sem captar nada de especial,
algo misterioso está a acontecer no interior da vida.
Jesus vivia com essa fé: podemos não experimentar nada de extraordinário, mas Deus está
trabalhando no mundo. A Sua força é irresistível. É necessário tempo para
ver o resultado final. É necessário, sobretudo, fé e paciência para olhar profundamente
a vida e intuir a ação secreta de Deus.
Talvez
a parábola que mais os surpreendeu tenha sido a da semente de mostarda. É a
mais pequena de todas, como a cabeça de um alfinete, mas com o tempo
converte-se num belo arbusto. Em abril, todos podem ver bandos de pintassilgos
abrigando-se nos seus ramos. Assim é o reino de Deus.
A
perplexidade deve ter sido geral. Os profetas não falavam assim.
Ezequiel comparava-o com um cedro magnífico, plantado numa montanha elevada e
excelsa, que lançaria uma ramagem frondosa e serviria de abrigo a todos os
pássaros e aves do céu. Para Jesus, a
verdadeira metáfora de Deus não é o cedro, que faz pensar em algo grandioso e
poderoso, mas a mostarda, que sugere o pequeno e insignificante.
Para seguir Jesus, não é necessário sonhar com
coisas grandes. É um erro que os seus
seguidores procurem uma Igreja poderosa e forte que se imponha sobre os outros.
O ideal não é o cedro no cimo de uma montanha alta, mas o arbusto de mostarda
que cresce junto aos caminho e acolhe os pintassilgos em abril.
Deus não está no sucesso, no poder ou na
superioridade. Para descobrir sua presença salvadora, temos de estar atentos ao
pequeno, ao comum e ao cotidiano. A vida não é apenas o que se vê. É muito mais!
Assim pensava Jesus.
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel
Álvarez Perez)
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