O Espírito nos vem como dinamismo de ação que liberta.
O envio do
Espírito por Jesus é a culminância da experiência pascal. Reunimo-nos
como assembleia de chamados/as para pedir que o Espírito renove em nós os
prodígios que realizou no início do cristianismo, esperando que o Sopro de Deus
nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na
língua das diversas culturas, nos ajude a derrubar os muros que nossos medos e
prepotências ergueram, abra as portas das nossas Igrejas sitiadas pelas leis e
dogmas, e nos empurre para fora, em ritmo de missão.
O Espírito
Santo atua e3m nós para que não sejamos como papagaios, que repetem palavras e discursos que não
entendem. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito Santo é uma palavra nova
e viva. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e começam a
falar. São palavras de protesto que saem da boca dos marginalizados, clamores
que reivindicam reconhecimento e respeito; palavras proféticas que denunciam as
injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia uma nova ordem social e
rompe com as velhas lições.
Mas o
Espírito suscita também palavras orantes e celebrativas, cânticos novos que
reconhecem e louvam a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e do
mundo. São palavras despertadas por uma compreensão espiritual das Escrituras,
não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra viva
e plena de sentido para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova,
suscitada pelo Espírito, assume a gramática das culturas e anuncia o Reino de
Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura.
O Espírito
também nos livra da ameaça de sermos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele
cria vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito é acolhido e
age, as pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo, nasce um povo
novo e peregrino. Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo,
pois o Espírito une pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica
e nacional, as pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória
de Jesus de Nazaré.
A presença do
Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem,
sob pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. Ele nos faz
pessoas livres, capazes de agir por iniciativa própria, inclusive na arena
política. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos filhos e
filhas de Deus! O Espírito nos é dado para superar a condição de escravos e
alcançar a condição de filhos e filhas maiores, livres de todas as tutelas,
herdeiros do Reino de Deus. Onde está o Espírito, ali está a liberdade!
Esta
liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime, mas principalmente
‘liberdade para’ alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência
das forças da natureza, dos condicionamentos inconscientes, do poder de
persuasão dos meios de comunicação social, do constrangimento das instituições
e sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos. O Espírito nos
assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos em favor da vida
dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova, baseada na liberdade
e na cooperação.
O Espírito
Santo impede ainda que sejamos mortos-vivos,
pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com
o individualismo narcisista e com a passividade omissa. Ele é a força de Deus
na história, a força libertadora de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado
como dinamismo missionário, como capacidade de agir no plano do homem novo:
partilhar o pão, curar as doenças, perdoar e acolher os pecadores, anunciar a
Boa Notícia aos pobres, desarmar para amar, percorrer o êxodo missionário.
“Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra...”
Vem Espírito Santo, e
suscita em nós o desejo de sermos dom, de engajar-nos na luta para que todos
tenham vida. Não permita que te aprisionemos na intimidade do coração ou no
silêncio dos templos. Faz que nossa vida seja semente de liberdade,
solidariedade e eternidade. E que o Filho do Homem ungido por ti, seja o
Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que aspiramos
ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani
msf
Atos dos Apóstolos 2,1-11 | Salmo 103 (104) | 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios 12,3-13 | Evangelho de São João (20,19-23)
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