166 | Ano A | 32ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas 17,7-10
14/11/2023
Em nosso exercício de meditação de ontem buscávamos
um sentido atual para as advertências de Jesus sobre a inevitabilidade e a
gravidade dos escândalos no interior das comunidades cristãs. Jesus insiste na
necessidade do perdão e da reconciliação, sem os quais a vida comunitária é
impossível. Mas não significa relativizar a responsabilidade quando
escandalizamos os pobres.
Mas cultivar e manter a reconciliação não é nada
fácil, e leva os discípulos a pedir que Jesus lhes aumente a fé. Somente ela
pode nos ajudar a transpor os empecilhos. Depois de ilustrar a força (e não a
quantidade) da fé, Jesus conta a parábola de hoje. A história é muito
verossímil, pois trata de uma experiência amplamente conhecida e tolerada no
mundo escravagista antigo: o escravo deve tudo ao seu dono, e não goza de
nenhum direito frente a ele.
Jesus não elogia o patrão, nem compara Deus com um
proprietário de escravos. O foco da parábola é a atitude de empenho, serviço e
gratuidade que deve caracterizar todas as dimensões da vida dos discípulos e
discípulas. A fé é obediência e serviço ativo e desinteressado, sem nenhuma
pretensão de cobrar vantagens, dividendos e méritos. A fé nos faz incansáveis
no serviço aos outros, não significa apenas esperar um milagre.
Assim foi Jesus, e assim ele espera que sejamos
nós, seus discípulos e discípulas. O Concílio Vaticano II já dizia que a fé
ilumina a nossa inteligência para que sejamos capazes de criar soluções
concretas para os problemas humanos concretos. A fé não pode ser reduzida na
aceitação resignada de uma doutrina, ou na crença desesperada que Deus poderá
fazer um milagre.
É verdade que há situações para as quais não
visualizamos nenhuma solução, e diante delas nos sentimos impotentes e
derrotados/as. Muitas vezes perguntamo-nos: Será que vale a pena ser correto e
compreensivo, tolerante e engajado, sonhador e construtor de fraternidades sem
fronteiras? Nesses casos, depois de tentar tudo com insistência e santa
teimosia, podemos dizer: “Fizemos o que devíamos fazer. Somos dispensáveis!”
Mas, por isso mesmo, continuamos nossa busca de sentido para viver.
Meditação:
§ Leia
e releia a parábola, meditando sobre ela, sem levar em conta o horizonte
escravagista no qual a história está situada
§ Como
você se sente quando, depois de ter feito tudo o que era possível, não
conseguiu bons resultados, nem reconhecimento?
§ Você
não acha que às vezes caímos na tentação de exigir méritos, créditos e
benefícios de Deus pela vivência da fé?
§ Como
nossa fé pode ser luz e força, por exemplo, diante do enorme e indecente
problema da pobreza, da fome e da guerra?
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