domingo, 26 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (179)

179 | Ano A | 34ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 21,1-4

27/11/2023

Uma interpretação muito comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da viúva: ela simbolizaria a atitude de todos os pobres, daquelas pessoas que entregam tudo a Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam dos ricos, que o são porque só confiam em si mesmos e são pouco generosos no dar a Deus ou à Igreja.

Uma interpretação correta deve partir da constatação de que Jesus, em sua missão profética, nunca alimenta nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem que o templo se tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Ele recém havia expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E, minutos antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, pois eles “devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.

Ao que parece, estando no templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento de sacrifícios, mas observa atentamente o que fazem os ricos e que os pobres devem fazer no templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os doutores da lei, agindo no templo com aparente piedade e retidão, devoram os poucos bens das viúvas. Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei, que dirigem o templo!

Observando tanto a viúva como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a viúva depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos doutores da lei e dos fariseus, ela acabando entregando ao templo “tudo quanto tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As palavras de Jesus condenam a exploração da viúva.

Interpretando o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário, desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos “apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja são boa notícia aos pobres, e não uma alfândega sem coração, direcionada ao enriquecimento de quem já tem muito.

 

Meditação:

§   Releia com paciência e demoradamente esta cena, assim como os versículos que a antecedem

§   As palavras de Jesus são um elogio para a viúva pobre ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?

§   Você observa algo semelhante nas igrejas e templos de hoje?

§   O que fazer para que, ensinando que todos são iguais perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?

§   Como evitar que o dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em uma prática injusta?

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