179 | Ano A | 34ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 21,1-4
27/11/2023
Uma
interpretação muito comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da
viúva: ela simbolizaria a atitude de todos os pobres, daquelas pessoas que
entregam tudo a Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam
dos ricos, que o são porque só confiam em si mesmos e são pouco generosos no
dar a Deus ou à Igreja.
Uma
interpretação correta deve partir da constatação de que Jesus, em sua missão
profética, nunca alimenta nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem que
o templo se tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Ele recém havia
expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E, minutos
antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, pois eles
“devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.
Ao
que parece, estando no templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento
de sacrifícios, mas observa atentamente o que fazem os ricos e que os pobres
devem fazer no templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os
doutores da lei, agindo no templo com aparente piedade e retidão, devoram os
poucos bens das viúvas. Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei,
que dirigem o templo!
Observando
tanto a viúva como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a
viúva depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos
doutores da lei e dos fariseus, ela acabando entregando ao templo “tudo quanto
tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As
palavras de Jesus condenam a exploração da viúva.
Interpretando
o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário,
desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e
humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos
“apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja são boa notícia aos pobres, e
não uma alfândega sem coração, direcionada ao enriquecimento de quem já tem
muito.
Meditação:
§
Releia com paciência e demoradamente
esta cena, assim como os versículos que a antecedem
§
As palavras de Jesus são um elogio para
a viúva pobre ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?
§
Você observa algo semelhante nas
igrejas e templos de hoje?
§
O que fazer para que, ensinando que
todos são iguais perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?
§ Como
evitar que o dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em
uma prática injusta?
Nenhum comentário:
Postar um comentário