A difícil e exigente luta
pela Paz
Acabo de
chegar da Vigília pela Paz no Mundo, especialmente
no Oriente Médio e na Síria que está ocorrendo na Praça São Pedro. Lá
permanecem em torno de cinquenta mil pessoas que atenderam à convocação em
regime de urgência feita pelo Papa Francisco no último domingo. Uma bela prova
de liderança do Papa e de abertura do povo cristão.
Mas a paz
é possível? Sim, é possível, respondeu Francisco. Como um outro mundo é
possível, e necessário se faz lutar sem tréguas para construí-lo, também a paz
é tão possível quanto necessária. Mas é um bem demasiadamente precioso para ser
vendido no mercado globalizado ou ser deixado nas mãos dos prepotentes de
plantão. A paz, pobre paz, é, ao mesmo tempo, amada e desprezada.
Você já
se deu conta quantas vezes nós pedimos a paz numa única missa? Ao menos quatro
vezes! Começamos pedindo “paz na terra” no hino de glória. Depois da oração do
Pai-Nosso, pedimos “dai-nos hoje a vossa paz”. Em seguida, pedimos a Jesus
Cristo “a paz e a unidade” para a Igreja. E depois, pedimos ao Cordeiro de Deus:
“dai-nos a paz”.
Infelizmente,
estes repetidos pedidos de paz que recitamos na missa nem sempre são expressão
de uma consciência e de um desejo profundo. E na maioria das vezes, estamos
pensando na tranquilidade do coração dos indivíduos. Ou, no máximo, nas
condições para que Igreja seja implantada e cresça, ou talvez na paz do próprio
país. Mas dificilmente a assembléia litúrgica vai além disso. As situações concretas
de violência e de injustiça não costumam aparecer em nossas liturgias...
A
multidão que se reuniu hoje na praça São Pedro foi sacudida por um contundente
apelo do Papa Francisco. A releitura do breve sermão que ele fez no domingo
passado e um pronunciamento preparado para hoje tocaram consciências e
corações. A paz é um caminho possível e necessário. É um grito que precisa
encontrar eco na humanidade de hoje. E é uma urgência quase desesperadora.
Um dos
textos bíblicos meditados na vigília foi o de Isaías 2,1-5. “Ele (o Senhor) nos
vai mostrar a sua estrada, e nos vamos trilhar por seus caminhos. Às nações ele
dará a sentença, decisão para povos numerosos: devem fundir suas espadas para fazer pás de arado, fundir as lanças
para fazer foices. Nenhuma nação pegará em armas contra a outra e nunca
mais se treinarão para a guerra.”
É um
sonho bonito e um desafio provocador. Mas como esquecer que o próprio
cristianismo foi, durante muitos séculos, promotor e sustentador de guerras?
Quantas mortes e rapinas provocaram as cruzadas, patrocinadas mais ou menos
oficialmente pela autoridade da Igreja? Quantas vítimas fez a inquisição
medieval? E quantas feridas deixaram os exércitos dos Estados Pontifícios? Sem
esquecer o papelão que a diplomacia do Vaticano fez recentemente ao apoiar
golpes de estados na América Latina...
Ainda bem
que as coisas mudaram, e a Igreja se tornou paladina da paz. Mas não pude
deixar de esboçar um riso quando escutei a proclamação do texto do profeta
Isaías. Pouco antes, na abertura da Vigília, um grupo de soldados da Guarda Suíça levou em procissão a imagem
de Nossa Senhora. Fazia parte do traje destes soldados longas e vistosas
espadas. É resquício das cruzadas, saudade do tempo dos estados pontifícios ou
falta de fundição para transformá-las em instrumento de cultivo de alimentos? A
paz ainda não conquistou totalmente nem mesmo a Igreja...
Itacir Brassiani msf
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