Miguel Ignacio Lillo não estudou na universidade; mas
soube reunir, livro atrás de livro, uma biblioteca científica que ocupava a
casa inteira.
No dia 25 de
setembro de 1905, alguns estudantes tucumanos passaram a tarde inteira
nessa casa de livros, e quiseram saber como dom Miguel fazia para conservá-los
tão bem. “Meus livros tomam ar”, explicou o sábio. “Eu abro meus livros. Abro e
pergunto. Ler é perguntar.”
Dom Miguel perguntava aos livros, e muito mais
perguntava à terra.
Pelo prazer de andar perguntando, percorreu a cavalo
todo o norte argentino, palmo a palmo, passo a passo, e assim conheceu segredos
que o mapa escondia, antigos dizeres e viveres, os cantos dos pássaros que as
cidades ignoravam, as farmácias silvestres que se ofereciam no campo aberto.
Não são poucas as aves e plantas que ele batizou...
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 305)
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