A
impagável alegria do pastor missionário
Regressei
ontem da visita pastoral à paróquia de Yauareté, na divisa com a
Colômbia. Devia falar em português e espanhol, porque os indios travessavam o
rio Papuri, que divide os países, e vinham celebrar conosco. Alguns eram
convidados para serem padrinhos pois pertencem às mesmas etnias.
O ano que
estive na Bolívia me proporcionou o aprendizado do espanhol, além da
convivência com os indígenas Inkas. Vou percebendo que Deus vinha me
preparando há muito tempo para assumir esta árdua e gratificante missão.
Passei
por cachoeiras assustadoras e perigosas. Para disfarçar o medo, e acima de
tudo, manifestar total e irrestrita confiança no Pai, fechava os olhos e
rezava a Oração do Abandono. Passado
o perigo, salmodiava: "Eu vos louvo, Senhor, porque da morte arrancaste a
minha vida e não deixastes os meus pés escorregarem, para que eu ande na
presença do Senhor, na presença do Senhor na luz da vida" (Sl 55,14).
Viajei na
companhia do Pe. Nilson, salesiano, pároco de Yauaretê, um casal da Pastoral
da Criança e o Seu Paulino, o motorista do barco (ou prático como dizem aqui) da
"voadeira" que conhece até onde estão escondidas as pedras
traiçoeiras até debaixo das águas. Ele transmitia segurança e confiança a todos
nós. Verdadeiro anjo da guarda.
Em
algumas comunidades houve batismos, crismas, casamentos e 1ª Eucaristia. Com o sacramento da reconciliação,
eram cinco sacramentos. Numa comunidade houve seis, porque administrei também a
unção dos enfermos.
A
fé, a alegria e a felicidade, que via estampadas no rostos de todos, me
emocionavam até às lágrimas. Depois das celebrações, que duravam horas, mas
ninguém arredava pé, havia festa e alegria com partilha de alimentos que
todas as famílias levavam. Tudo regado com os gostosos sucos (aqui chamam de
"vinho") de pupunha, de graviola, de cupuaçu, de bacaba, de
abacaxi e de açaí. Foram dez dias sem telefone, sem Internet, sem notícias. Os
índios mais pobres e isolados me ensinam a viver com muito pouco e a ser muito
feliz.
Boa
notícia é a chegada, nos próximos dias, de quatro médicos do Programa mais Médicos. Já que os médicos
brasileiros, formados às custas das verbas públicas, preferem permanecer nos
centros urbanos par enriquecer logo, vamos acolher agradecidos os médicos humanitários
generosos que vem de outros países. Já estão em Manaus. Quando chegarem em São
Gabriel da Cachoeira lhe darei mais notícias.
Na
próxima semana estarei em Manaus participando da Assembléia Pastoral do Regional
Norte 1, que abrange as dioceses do Amazonas e Roraima. Abraço e beijo
dominical no Amor misericordioso do Pai que nos acolhe sempre.
+ Edson Damian
Pobre bispo do povo do mato
(Bispo de São Gabriel da Cachoeira – AM)
Nenhum comentário:
Postar um comentário