São Vicente de Paulo,
apóstolo dos pobres
No dia 27
de setembro a Igreja nos propõe a memória de São Vicente de Paulo, religioso e
servidor dos pobres. Nascido em 1581 e
morto em 1660, viveu uma infância muito pobre, foi ordenado padre com apenas 19
anos de idade e fundou, em 1625, a Congregação da Missão, conhecida como
Lazaristas.
Fazendo
memória desta vida forjada pela caridade, homenageio os Vicentinos e as
Vicentinas, que levam adiante seu testemunho. E cito um trecho da exortação Vita
Consecrata, de João Paulo II, o qual, ao refletir sobre o serviço da
vida consagrada aos pobres, recorda explicitamente São Vicente de Paulo.
“Ao lavar os pés, Jesus revela a
profundidade do amor de Deus pelo homem: n'Ele, o próprio Deus põe-Se ao serviço dos homens! Mas revela ao mesmo
tempo o sentido da vida cristã e, com maior razão, da vida consagrada, que é vida
de amor oblativo , de serviço concreto e generoso.
No seguimento do Filho do homem que “não
veio ao mundo para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), a vida
consagrada, pelo menos nos períodos melhores da sua longa história,
caracterizou-se por este “lavar os pés”, ou seja, pelo serviço sobretudo aos
mais pobres e necessitados. Se, por um lado, aquela contempla o mistério
sublime do Verbo no seio do Pai (cf. Jo 1,1), por outro, segue o Verbo
que Se faz carne (cf. Jo 1,14), aniquila, humilha para servir os homens.
As pessoas que seguem Cristo pelo caminho
dos conselhos evangélicos também hoje se propõem ir até onde Cristo foi e fazer
o que Ele fez. Continuamente Jesus chama a Si novos discípulos, homens e
mulheres, para lhes comunicar, mediante a efusão do Espírito (cf. Rm 5,5),
a agape divina, o seu modo de amar, estimulando-os assim a servirem os
outros, no humilde dom de si próprios, sem cálculos interesseiros.
A Pedro que, extasiado pelo resplendor da
Transfiguração, exclama: “Senhor, é bom estarmos aqui” (Mt 17,4), é
dirigido o convite a regressar às estradas do mundo, para continuar a servir o
Reino de Deus: “Desce, Pedro! Desejavas repousar no monte. Desce! Prega a
Palavra de Deus, insiste a todo o momento, oportuna e inoportunamente,
repreende, exorta, encoraja com toda a paciência e doutrina. Trabalha, não
olhes a canseiras, nem rejeites dores ou suplícios, a fim de que, pela candura
e beleza das boas obras, tu possuas na caridade aquilo que está simbolizado nas
vestes brancas do Senhor”.
O olhar fixo no rosto do Senhor não
diminui no apóstolo o empenho a favor do homem; pelo contrário, reforça-o,
dotando-o de uma nova capacidade de influir na história, para a libertar de
tudo quanto a deforma. A
busca da beleza divina impele as pessoas consagradas a cuidarem da imagem
divina deformada nos rostos de irmãos e irmãs: rostos desfigurados pela
fome, rostos desiludidos pelas promessas políticas, rostos humilhados de quem
vê desprezada a própria cultura, rostos assustados pela violência quotidiana e
indiscriminada, rostos angustiados de menores, rostos de mulheres ofendidas e
humilhadas, rostos cansados de migrantes sem um digno acolhimento, rostos de
idosos sem as mínimas condições para uma vida digna. A vida consagrada prova
assim, com a eloquência das obras, que a caridade divina é fundamento e estímulo
do amor gratuito e operoso.
Bem convencido disto estava S. Vicente de Paulo, quando indicava às Filhas da Caridade
este programa de vida: “O espírito da Companhia consiste em dar-se a Deus para
amar Nosso Senhor e servi-Lo na pessoa dos pobres material e espiritualmente,
nas suas casas e noutros lugares, para instruir as meninas pobres, as crianças,
e em geral todos aqueles que a divina Providência vos manda” (Vita Consecrata, 75).
“S. Vicente de Paulo gostava de dizer que, quando se tem de deixar a oração
para ir prestar assistência a um pobre em necessidade, na realidade a oração
não é interrompida, porque “se deixa Deus para ir estar com Deus”. Servir
os pobres é ato de evangelização e, ao mesmo tempo, selo de fidelidade ao
Evangelho e estímulo de conversão permanente para a vida consagrada,
porque — como diz S. Gregório Magno — “quando a caridade se debruça
amorosamente a prover mesmo às ínfimas necessidades do próximo, então é que se
alteia até aos cumes mais elevados. E quando benignamente se inclina sobre as
necessidades extremas, então mais vigorosamente retoma o voo para as alturas” (Vita Consecrata, 82).
Itacir
Brassiani msf
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