Já se passaram dois meses desde que nos
despedimos do Ceolin. A percepção da ausência dele é mais que viva e presente. Sua
vida é um tesouro que ele distribuiu em diferentes quotas e momentos aos seus
coirmãos e amigos, e todos/as, cada qual a seu modo, é responsável para que este
tesouro seja conhecido e frutifique. Aqui está uma pequena contribuição, que
partilho como homenagem e gratidão a este saudoso amigo.
A incrível força humanizadora
da fraqueza
Apesar do
nosso desejo de conjugar o verbo poder
em todos as pessoas, tempos e modos – e da tentação de materializá-lo como se
fosse substantivo substantivo! – a fragilidade
é uma das dimensões essenciais da vida, também da vida humana. Disso temos
experiências e demonstrações desde sempre e quase que cotidianas, mas a
ideologia da prosperidade, do sucesso e do domínio embotam nossa inteligência e
impedem que esta realidade aflore à consciência e receba o nome que lhe
corresponde.
A fragilidade
não é, porém, apenas um dado passivo ao qual temos que nos
resignar e contra o qual nada podemos fazer, como se fosse uma espécie de
defeito de origem ou código de falibilidade da vida, mas um princípio ativo que dinamiza e sustenta nosso processo de humanização. É uma
espécie de carência que nos abre aos demais, que inibe os processos de
entropia, enfim: que abre portas e janelas e estabelece conexões que tornam
possível nossa vida como indivíduos e como espécie.
Pe. Clemente (Provincial), Dom Alberto Etges e Pe. Ceolin (1966) |
Uma experiência que vem de
longe
Tanto a
experiência do povo de Israel como das comunidades cristãs, cada qual a seu
modo, confirmam este dadoantropológico. Celebrando a bênção materializada no filho
que se formou no seu ventre antes estéril, Ana grita em tom jubiloso e
provocador, que “ninguém triunfa pela própria força” (1Sm 2,9). Ou seja: afirma
de forma indicativa e reivindicatória que o verdadeiro triunfo é possibilitado
pela benevolência de Deus, que age naqueles/as que aparentemente não podem
contar com as forças tradicionais e institucionais.
O povo de
Israel, cuja experiência está na base da palavra do salmista, afirma, também em
tom de desafio: “O rei não se salva por um forte
exército, nem o herói por seu grande
vigor. O cavalo não ajuda a
vencer, com toda a sua força não
poderá salvar” (Sl 33,16-17). E sentencia, provocando, que Deus não aprecia o
vigor do cavalo, nem a agilidade do homem, pois “agradam ao Senhor os que o
temem, os que esperam na sua bondade” (Sl 147,10-11). Ou seja: é a experiência
dos limites próprios e institucionais que abrem à pessoa o acesso a um patamar
de vida mais plena e emancipada.
Na vida
de Jesus de Nazaré, a fraqueza e a impotência se tornam realidade palpável e
duradoura e boa notícia libertadora. Assumindo definitivamente a vulnerabilidade
da carne humana, Jesus dá ao ser humano a possibilidade de renascer. Descendo
ao inferno e fazendo sua a condição humana humilhada, ele a eleva. Abrindo mão
de uma pretensa condição privilegiada e superior, se faz solidariamente igual a
nós, é alistado entre os escravos, entre aqueles que não são e não valem nada,
e, nessa condição, revela a maioridade e a dignidade humanas. Não podendo
descer da cruz e salvar a si mesmo, torna-se fator de salvação universal.
A experiência e a visão de
Paulo
Partindo
desse núcleo teológico, Paulo elabora provocadoras e exigentes linhas orientadoras
para a vida cristã. Polemizando com o apreço que os coríntios nutriam pelas
coisas portentosas e pelo saber erudito, Paulo pede que eles recordem a própria
realidade e descubram nela o querer de Deus: “Reparai em vós mesmos, os
chamados: não há entre vós muitos sábios
de sabedoria humana, nem muitos poderosos,
nem muitos de família nobre. Mas o
que é para o mundo loucura, Deus escolheu para envergonhar os sábios, e o que
para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar os fortes. Deus escolheu no mundo o que não tem nome
nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são
alguma coisa” (1Cor 1,26-28). Na lógica de Deus, a fragilidade não tem
apenas força regeneradora, mas também força para anular aquilo que parece
onipotente!
Noutro
momento, depois de enumerar os apertos e sofrimentos pelos quais passara, em aberta
polêmica com os pregadores que ostentavam os próprios privilégios e méritos,
Paulo dirá: “Se é preciso gloriar-se, é
de minhas fraquezas que eu me gloriarei” (2Cor 11,30). E, referindo-se à
sua fraqueza como um misterioso espinho na carne, proclama confiante que “é na fraqueza que a força se realiza
plenamente”. E afirma: “Por isso, de bom grado me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo
habite em mim; e me conprazo nas fraquezas, nos insultos, nas dificuldades, nas
perseguições e nas angústias por causa de Cristo. Pois, quando estou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,9-10).
Pe. Jovino (de pé) e Pe. Ceolin (sentado, à direita) |
Um testemunho histórico
concreto
Esse
paradoxo da força humanizadora da fragilidade se mostrou claramente na vida e
na história do nosso querido e saudoso Pe. Rodolpho Ceolin. Talvez ele não esteja
entre os religiosos mais frágeis que conhecemos, mas certamente está entre
aqueles que fizeram questão de não esconder as próprias vulnerabilidades e
fraquezas. E não o fez por escrúpulo doentio, mas por prezar a autenticidade,
para não parar na estrada do crescimento e para contribuir no crescimento e na
humanização dos outros.
Como
jovem religioso, depois de uma breve e significativa experiência pastoral no
Rio de Janeiro, o Pe. Ceolin foi nomeado formador dos seminaristas na Escola Apostólica Sagrada Família, em
Santo Ângelo. Em seguida, já nos inícios da generalizada crise pós-conciliar,
passou a ser o responsável pela formação dos junioristas, em Passo Fundo. No
bojo da crise que se alastrava rapidamente, em meio a coirmãos que se dividiam
entre si e começavam a abandonar a vida religiosa e o minsitério, não sem dor e
angústia, aflorava no Pe. Ceolin uma aguda
consciência dos próprios limites.
Em julho
de 1966, demonstrando madura capacidade de auto-crítica, ele escrevia: “Na
reitoria do Escolasticado, deixo a disciplina correr frouxa. Houve confrades
que caridosamente disseram que, por este motivo, eu não sirvo para Reitor. Não me sinto com autoridade moral suficiente
para insistir junto aos demais confrades por um cumprimento mais zeloso da Vida
Religiosa, porque eu mesmo sou pior que os demais.” Pergunto-me se isso é
apenas sinal indicativo de crise e de confusão emocional de uma pessoa
demasiadamente escrupulosa e perfecionista, ou sintoma do desconforto de alguém
que já não aceita mais as regras de uma formação ultrapassada e sente
necessidade de confiar na liberdade e na consciência dos formandos? Em todos os
casos, é uma clara experiência de limite, de fraqueza.
Naquele
tempo, com pouco mais de trinta e seis anos de idade, o Pe. Ceolin foi o
primeiro dos três nomes indicados pela assembléia capitular para assumir a
missão de Superior Provincial. Tendo presentes a própria experiência como
formador e a realidade mais geral, que ele caracterizava como “tempos difíceis,
de muitas transformações, em que divergem as mentalidades e a confusão toma
conta de muitos”, o Pe. Ceolin escreveu ao Superior Geral, manifestando o desconcerto e a angústia que a indicação do seu nome deflagrou nele: “Os Padres
Capitulares estiveram mui equivocados a
meu respeito, ainda bem que nem todos. Votaram
num mau religioso, por demais
imperfeito.”
Reconhecendo
que os tempos difíceis e a necessidade de renovar a Congregação exigiam que a
direção provincial fosse assumida por “homens de Deus”, o jovem Pe. Ceolin
confessava: “Isso (homem de Deus) eu não o sou. Isto eu afirmo com tristeza e raiva de mim mesmo e de
outros. Minha consciência acusa-me de
ser mau religioso, um escândalo para os demais confrades. Em vista disso, vivo uma vida triste, sentindo-me um
sacerdote infeliz, quase fracassado. (...) Minha consciência me diz que
para ocupar um cargo de tamanha responsabilidade eu deveria ser bem mais perfeito.” Por isso, o Pe. Ceolin se
sentia, usando suas próprias palavras, “perturbado
e confuso, quase sem saber o que dizer a respeito e que atitude tomar”.
Este são apenas
alguns registros, aos quais poderíamos agregar tantos outros acontecimentos
e
processos históricos que ele viveu, assim como depoimentos sobre sua própria
condição de fragilidade: o sentimento de desamparo e de falta de saídas diante
dos muitos coirmãos que deixavam a vida consagrada, entre os quais o primeiro foi
seu próprio assistente provincial, Pe. Humberto Lucca; a desolação diante da crise
de vocações, que fez o número de internos no Seminário de Santo Ângelo cair, em
seis anos, de 215 para 15; a primeira crise vocacional pessoal, no final dos
anos ’70; a segunda crise (existencial, vocacional e espiritual), no início dos
anos ’90; as várias tentativas infrutíferas de superar a dependência do
cigarro; etc.
Pe. Ceolin na missa de exéquias do Pe. Sausen (10.06.2013) |
Extrair forças da própria
fraqueza
Penso que
os condicionamentos históricos e sociais não fazem mais que ajudar a aflorar
algo que é fundamental e essencial, uma espécie de constante antropológica: a experiência de não se pertencer, de não
poder, de carência e vulnerabilidade. O Ceolin gostava de mencionar aquilo que
sua mãe havia dito ao dá-lo à luz: “Você não me pertence, é mais filho de Deus
que filho meu...” E falava genericamente da “solidão do coração” como uma das
marcas da sua personalidade que emergiram durante o período de formação. Estes
não seriam indícios desta realidade, mais intuição que experiência, que descrevemos
como vulnerabilidade, incompletude ontológica, abertura e busca?
É claro
que a consciência aguda da própria fragilidade não leva automaticamente ao crescimento.
Às vezes pode levar a baixar auto-estima, à dificuldade de reconhecer as
próprias capacidades e até à depressão. Na referida carta, o Pe. Ceolin
escreve: “Muitos se enganam a meu
respeito, vendo só as aparências e a periferia do meu ser. Se tenho bom
humor e sou brincalhão, isso não traduz felicidade interna. Não raro, o humor não passa de uma
compensação pela insatisfação interior e descontentamento comigo mesmo.”
Como
podemos perceber, aqui não está ausente o risco que mencionamos. Mas podemos
compreender estas palavras no contexto da apreensão de um jovem de trinta e
seis anos, que está diante da grande responsabilidade de ser o primeiro
Superior provincial brasileiro de um grande e diversificado grupo de religiosos,
num tempo em que a crise se generalizava. Numa carta anterior (14.11.1965), na
qual queria ajudar o Superior Geral a entender algumas tensões surgidas na
Província, o Pe. Ceolin revela uma visão muito positiva, bem longe de um
caráter depressivo. “Eu acredito muito nos padres de amanhã. Os seminaristas
têm muito mais dinamismo e ideal que nós no passado. Eu tenho muita fé nos
seminaristas. Eu quisera ter sido no passado o que eles são no dia de hoje...”
Quem toma
consciência dos próprios limites e da essencial fragilidade humana, não se
assusta com as sombras e a vulnerabilidade que o habitam, acaba descobrindo
também que elas não são obstáculos para o encontro com Deus, para o
amadurecimento humano. Ao contrário: são caminhos, se bem que não
necessariamente fáceis, para realizá-los. A descoberta de que não somos nem
puro espírito, nem espírito puro, abre as portas para uma experiência muito mais
profunda e humanizadora: a experiência de que o Espírito de Deus foi derramado
em nossos corações, invade todas as dobras do nosso ser e nos torna ser
filhos/as amados/as de Deus, irmãs/os de Jesus, servidores do seu sonho e projeto
de vida abundante para todos/as.
A extrema fragilidade (junho de 2013) |
Alguns testemunhos
Efetivamente,
a serena e profunda consciência da própria fragilidade e ambiguidade fez do Pe.
Ceolin uma pessoa humilde e generosa, condições essenciais para ser um exímio
formador e um competente acompanhante espiritual. Eu tive a graça de tê-lo como
reitor e formador no primeiro ano de seminário (1980), como mestre no ano de
noviciado (1983) e como diretor espiritual (2002-2004). Na verdade, a gente nem
esperava dele muitas palavras, ou doutrinas profundas: a serenidade e a atenção
da sua escuta já eram suficientes, mas vinham sempre coroadas com um dado da
própria experiência e um conselho humilde e sábio.
Muitos
lembram a sinceridade e transparência com que ele falava das crises pessoais
recém terminadas e de como a graça de Deus agiu e ele mesmo colaborou, não sem
heroísmo, para compreendê-las e superá-las. O ex-juniorista Antônio Dari Ramos
escreveu que o dia em que o Ceolin foi ao noviciado, em 1996, para partilhar
com os noviços suas crises e batalhas históricas foi o dia mais significativo
de todo aquele ano de noviciado.
Clecimar
Zaparolli, ex-juniorista, testemunha: "A vida me
presenteou quando Pe. Ceolin foi meu amigo e formador. Foi colo de pai nas
crises da juventude. Foi coração de mãe e sabedoria de vida às quais recorro
até hoje quando preciso. O Pe. Ceolin foi tão humano que só pode ser sido Divino.
Não queria que minhas filhas perdessem a oportunidade de conhecer esse homem,
que é uma riqueza que a história produziu..."
Odailso
Berté, ex-Irmão religioso, com quem o Ceolin teve enfrentamentos duríssimos,
reconhece: “Abençoado
Pe. Ceolin: exigente, compassivo, impulsivo, doce, (pa) terno, profeta... Das
pessoas que mais nos marcam, ele deixa impressos, na memória afetiva, traços
peculiares. Homem bom, que soube amar e compreender de tantos jeitos... Imenso
carinho e gratidão pelas tantas (trans) formações que este homem me
possibilitou.”
Esta
amostra entre os muitos testemunhos que poderíamos recolher é pequena mas suficiente
para ilustrar como a consciência em
relação à própria fraqueza pode se transformar em força humanizadora, tanto
naquele que a vive como naqueles que o cercam. O Pe. Ceolin demonstrou de forma
clara e viva que, mesmo não eliminando tensões, desequilíbrios e
agressividades, a consciência das próprias debilidades não leva necessariamente
a uma vida amarga e desesperada, mas pode se transformar em oportunidade e
força de crescimento, em capacidade de compreensão generosa, em pedagogia
espiritual, enfim, em sinal e quociente de santidade.
Um humor que era mais que simples fachada... |
Um belo e positivo balanço
final
Na
trajetória de vida do Pe. Ceolin, o sereno riacho da consciência da própria fragilidade
e dos limites pessoais desembocou num caudal de águas que fertilizou as terras
por onde passou. Sua proverbial humildade e mansidão descansava sobre o
conhecimento profundo e crítico de si mesmo. Serenamente consciente das
próprias ambivalências e debilidades, o Pe. Ceolin aprendeu a ser prudente e
lento ao julgar os outros, e assim permaneceu por toda a vida. Ao mesmo tempo,
levou-o a não se sentir superior ou melhor que os demais, e a não reinvindicar
ou ostentar méritos pessoais. E despertou
nele um oceânico sentimento de gratidão pelo bem que as pessoas lhe
manifestavam.
É
impossível aqui não lembrar de novo algumas das suas últimas palavras. À
manifestação de carinho da Ir. Milagros, umas das religiosas que teve a graça
de tê-lo como orientador espiritual, ele disse: “Menina, você me fez chorar... Eu não mereço tanto... Você exagerou...”
A mim mesmo, depois de receber uma carta de agradecimento por tudo o que
ele foi e fez por mim, pela Província e pelo povo, ele escrevia: “É demais!..
Não passo de um mortal como todo ser humano. O que fui e sou, devo-o unicamente
ao bom
Deus e a vocês confrades e a tantos amigos (as) que Ele
colocou na minha vida!” (os destaques são dele). Não é divinamente humano
receber as manifestações de carinho e gratidão como imerecidas, exageradas, ‘demais’?!
Mas os
frutos maduros desse longo, sofrido e exigente processo de reconhecimento e
aceitação da própria vulnerabilidade aparecem de forma inequívoca nas palavras
que o Pe. Ceolin escreveu para serem sua voz nas próprias exéquias. Ele qualifica
os longos e exigentes dez meses de tratamento de saúde e de convivência com
coirmãos doentes e idosos na Casa dos Idosos como uma “fase tão rica, humana e
espiritualmente, que o Deus da Vida me proporciona”. E diz ter feito,
neste período nada fácil, “a experiência mais bela da vida”: a experiência de
que “Deus
é todo amor, é Pai deverasmente misericordioso, é pastor em busca da ovelha
amada.” (os destaques são dele)
Por isso,
a frase que ele ouviu da mãe no leito de morte e repetiu qual refrão que
sintetiza sua experiência espiritual no momento derradeiro da sua rica e
tribulada existência: “Como é bonito morrer sem ódio e sem rancor,
cercado de amor!” E como ele sempre gostava de concretizar as coisas,
assinalou claramente onde e como esse amor de Deus se manifestou: no
amor dos familiares, parentes, amigos (as) de tantos lugares; no amor dos
coirmãos de toda a Província; nos últimos tempos, na delicadeza e no amor dos
coirmãos Passo Fundo e de Santo Ângelo; no amor serviçal dos funcionários (as)
do Lar de Nazaré; no amor das “queridas irmãs Carmelitas”, do Pe. Jacinto e do
Pe. Marcos, dos funcionários (as) da casa Paroquial e do povo da Paróquia
Sagrada Família (as)...
“É na fraqueza que a força
se realiza plenamente...”
Como
entender esta afirmação paulina, ou aquela do salmista, segundo o qual ninguém
se salva pelas próprias forças? A busca e o exercício destemperado do poder dá
a sensação de elevar quem o detém, de nos transformar em super-homens, mas de
fato acaba nos afastando das demais pessoas e esvaziando ou anulando nossa
humanidade. Isso porque a busca desmedida e a experiência irrefletida do poder pressupõe
e estimula a competição, se alimenta engolindo a liberdade e a dingidade dos
outros.
Por sua
vez, a consciência e a acolhida da própria fragilidade nos abre aos outros, nos
ajuda a reconhecê-los como irmãos e irmãs, nos aproxima deles. Quem é capaz de
assumir a fragilidade como dado e como princípio torna-se desejoso e capaz de
aliança e de cooperação, e é isso que suscita e sustenta o processo de
humanização. E então acabamos descobrindo e experimentando uma força, uma
bondade e uma beleza que não conhecíamos, percebemos que tudo é graça e dom que
não vem unicamente de nós mesmos. E é essa experiência de sermos envolvidos e
invadidos por uma beleza e uma bondade inexplicáveis que nos leva a chorar com
facilidade (como o Ceolin, no final da vida). A isso chamamos de epifania da
salvação e resgate do humano. E daqui para o engajamento na construção de uma
sociedade fraterna e solidária é apenas um passo.
Abrindo a nova sede provincial (Rua da Floresta 1043) |
Termino com mais uma citação do Pe. Ceolin. Ainda jovem,
em 1965, depois de analisar uma difícil e tensa situação que existia na sua
comunidade religiosa, ele escrevia estas palavras memoráveis: “Os homens
competentes e dotados muitas vezes esquecem que são meros instrumentos de Deus,
que não passam de ‘Apolos’ e que Deus é quem dá incremento (cf. 1Cor 3,1-9).
Aqueles que se julgam mais e superiores aos outros, verão chegar a hora – e
isso é certo – em que seu pedestal de barro começará a ruir. (...) Ao passo que
os espezinhados, os perseguidos, os que suportaram com paciência e humildade, serão as pedras angulares que firmam o
edifício de Deus.” Proféticas e sábias palavras... Assim seja, agora e sempre!
Itacir Brassiani msf
Um comentário:
Mt boa, padre Itacir, essa sua reflexão sobre a longa e bela experiência de vida do grande padre Ceolin! Ela serve de ajuda e orientação para todos que a lerem. E como nos lembra o papa Francisco, a humildade e a simplicidade são a base de toda vida crista e religiosa.
Parabéns por esse testemunho-depoimento sobre seu coirmão padre Rodolfo Ceolin!
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