sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Fatos & Personagens: o fim de Anastasio Somoza

O filho de Somoza

Anastasio Somoza
“Santa Marta, Santa Marta tiene tren”, musiqueiam os musiqueiros, bailam os bailadores de León (Nicarágua); “Santa Maria tiene tren pero non tiene tranvia”. E em plena festa, (no dia 21 de setembro de 1956) Rigoberto López Pérez, poeta, dono de nada, derruba com quatro tiros o dono de tudo.

Um avião norte-americano leva o moribundo Anastasio Somoza para um hospital norte-americano, na zona norte-americana do Canal do Panamá, e em leito norte-americano ele morre. Depois o enterram na Nicarágua, com as honras de Príncipe da Igreja.

Somoza estava havia vinte anos no poder. A cada seis anos levantava por um dia o estado de sítio e celebrava eleições que o confirmavam no trono. Luís, o filho mais velho, o herdeiro, é agora o homem mais poderoso e rico da América Central. O presidente Eisenhower o felicita, de Washington.

Luis Somoza
Luís Somoza se inclina frente à estátua de seu pai, herói de bronze que galopa, imóvel, em pleno centro de Manágua. À sombra das patas do cavalo, pede conselho ao fundador da dinstia, guia do bom governo, multiplicador de cárceres e negócios; e depois cobre de flores sua tumba monumental.

Burlando a vigilância da guarda de honra, a mão de alguém, mão de todos, rabiscou apressada este epitáfio sobre o mármore da tumba: “Aqui jaz Somoza, um pouco mais podre que em vida”.


(Eduardo Galeano, O século do vento (Memórias do Fogo, vol. I), L&PM, 2010, p. 222)

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