A Maria da
hierarquia, tão diferente da nossa.
Uma das
grandes descobertas científicas do século XX gira em torno do papel
desempenhado pela comunicação em situações estressantes – a noção de que o
estilo de comunicação de uma pessoa pode suavizar ou endurecer o conflito,
dependendo de como ele seja usado; a ideia de que simplesmente a quantidade de
informação fornecida em situações cruciais afeta o tom, a eficácia e os
resultados das negociações. Como resultado dessas descobertas, corporações
inteiras mudaram os seus processos de tomada de decisão e de disseminação de informações.
Então, com
isso em mente, as pessoas esperaram obter informações sobre o andamento da visitação vaticana (à Coneferência das Religiosas dos EUA) a partir do encontro deste ano, em Orlando,
na Flórida. Dado o fato de que não
veio nenhuma informação, as pessoas tiraram as suas próprias conclusões.
Eu, por outro
lado, fui buscar o único fragmento de dados que a assembleia conseguiu produzir
sobre o assunto, a homilia que Dom Sartain proferiu aos seus membros. E era um claro fragmento
de comunicação.
Nessa homilia, Maria é "quieta",
"dócil", submete a si mesma e não tem nenhum "desejo ou necessidade
de entender as coisas ou de resolvê-las para a sua própria satisfação
pessoal". Não havia – nos é dito aqui – nenhum "não" ou
"meu" nela. A Maria dessa homilia é um receptáculo passivo do que ela
entende ser a Palavra de Deus.
Bem, talvez.
Mas pode ser bom pensar um pouco sobre tudo isso à luz das outras coisas que
nós também sabemos sobre Maria.
O meu objetivo
aqui não é analisar o que o bispo disse sobre Maria na
festa da Assunção. Ao contrário, eu
prefiro olhar para o que ele não disse sobre ela, porque, parece-me, o que ele deixou de fora dessa homilia diz
muito sobre o que se espera das mulheres na Igreja Católica.
Por exemplo, Maria responde à declaração
do anjo a ela questionando-o. Um anjo! Alguém de uma posição muito mais
elevada, ao que parece, do que até mesmo os delegados apostólicos. E só então
ela responde com uma resposta "Seja feita a sua vontade" a uma
situação em que, aparentemente, um "não" era uma resposta viável.
Caso contrário, por que se incomodar conversando?
Ainda mais
importante, talvez, é a consciência de que, apesar da seriedade – até mesmo do
perigo – da sua situação, Maria não recorreu a homem
algum – aos sumos sacerdotes do templo, ao rabino local, ao seu pai ou
mesmo aJosé – para obter instruções
sobre o que deveria fazer. Ao invés, ela
recorreu a outra mulher em busca da sabedoria que ela precisava e seguiu-a.
Aqui não houve “visitações” (vaticanas).
Em outro
exemplo, nas bodas de Caná, Maria dá
o seu próprio conjunto de ordens apostólicas a ninguém menos do que o próprio Jesus, assim como para a
equipe de servidores, dizendo: "Vão e façam o que ele lhes disser".
A própria Maria questionou
a conveniência daquilo que Jesus estava
fazendo no templo com os anciãos e, posteriormente, fez parte de uma
multidão de familiares e de amigos que estavam até preocupados que Jesus
pudesse estar "perdendo o juízo".
E, finalmente,
se alguém quiser saber como Maria foi
uma figura influente e importante para o desenvolvimento da Igreja primitiva, a
própria ideia de ela fazer parte da reunião dos apóstolos em Pentecostes,
quando cada um deles foi ungido no discipulado pelo Espírito Santo, deveria ser
suficiente para dissipar a noção de que o que temos aqui é uma mulher sem um
forte senso de si mesma.
A Maria não mencionada nessa
homilia sobre a Assunção era uma mulher não intimidada pela Encarnação, que não
devia nada a respostas masculinas, não intimidada a dar orientações sobre o que
deveria ser feito, que tinha um alto senso de responsabilidade pessoal e que
não tinha nem um pouco de dúvida sobre o seu lugar na hierarquia da Igreja.
Essas, penso
eu, são precisamente as qualidades que vemos nas mulheres do nosso próprio
tempo que estão abrindo espaço para aquilo que algumas partes da Igreja chamam
agora de "feminismo radical".
Do meu ponto
de vista, esse é um triste mau uso da linguagem e até mesmo um caso mais triste
de cegueira espiritual.
Ir. Joan Chittister osb
Um comentário:
Boa reflexão, necessaria, evangélica, corajosa e comprometida.
Eli Bernardete Schneider
Postar um comentário