Hoje, 25 de novembro, seria a celebração dos 57 anos de ministério presbiteral do Pe. Rodolpho Ceolin msf, interrompidos (?) no último 3 de julho, quando ele celebrou sua páscoa definitiva. Como memória deste acontecimento e homenagem a quem nos deixou uma herança humana e espiritual incalculável, partilho estas linhas, escritas em agosto passado.
O que devo fazer para que minha
vida tenha sentido?
Procuro
teu vulto porque me sinto órfão de humanidade. Ajunto pedaços da tua memória e
objetos que estiveram contigo porque me descubro mendigo de espiritualidade.
Vazio, inquieto, errante e sedento, bato à tua porta e, pendente da palavra que
espero dos teus lábios e das indicações que tua vida pode me oferecer, te
pergunto, meu bom amigo e grande mestre: “Que devo fazer de bom para possuir a
vida eterna?”
Conheço e
guardo com apreço e reverência as palavras sinceras que já me disseste, e que
são frutos de uma vida que amadureceu no sofrimento e na busca: “Não passo de
um mortal como todo ser humano. O que fui e sou, devo-o unicamente ao bom Deus
e a vocês, confrades e a tantos amigos (as) que Ele colocou na minha vida! Por
que me chamas de bom?” Não imagino que me remetas aos mandamentos, porque isso
nunca fez teu estilo.
Retirei
cuidadosamente alguns objetos entre as poucas coisas que nos deixaste, na
esperança de que me ajudem a intuir o que pode me conduzir a uma vida que valha
a pena. Mas dize-me: de onde vem aquele velho e surrado terço preto, e o que
está a me dizer? E em que podem me ajudar aquelas secas canetas douradas,
lembrança de meio século de ministério? E para onde me pedem para olhar aqueles
óculos velhos e enferrujados?
Na
verdade, meu amigo, estou à procura daquilo que me falta, não daquilo que
acumulei e que me pesa. Busco ardentemente aquilo que em ti floresceu com
naturalidade, como se não existissem espinhos e tempos difíceis. E porque não
posso dizer que sempre tenho observado todas as coisas e porque muito daquilo
que é essencial à vida cristã continua me escapando, te pergunto: “Que devo
fazer de bom para possuir a vida eterna?”
“Seja
você mesmo, apenas mas sempre!” Já me
pediram algo semelhante há 26 anos atrás, mas vejo que é isso que eu preciso
mesmo. Uma vida que valha a pena ser vivida e que seja portadora de uma alegria
tão serena quanto indestrutível depende mesmo da capacidade de escutar-se com
profundidade e manter-se coerente com a voz das profundezas; da coragem de ser
autêntico e não se curvar para agradar os outros e ser bem-sucedido. Sim, meu
amigo, tua bela e exigente vida me ensina isso!
“Doe-se
por inteiro àqueles/as amas e àquilo que fazes!” A boca
calada, o relógio parado, o coração atento e os ouvidos abertos a quem te
procurava sempre me impressionou. É claro que isso te fazia sofrer, mas também
te proporcionava aquela serenidade que teus olhos, teu rosto e tua postura
geralmente demonstravam. Então ajuda-me a superar a ansiedade dos projetos por
realizar, a superficialidade de quem pensa que só tem a ensinar, a indiferença
de quem não sabe escutar senão a si mesmo. E muito obrigado por essa lição!
“Aceite o
despojamento do amor e evite a inflação do saber!” Nunca
lamentaste teus poucos diplomas, mas foste um incansável aprendiz no caminho
dos mistérios da vida. E neste caminho, o mesmo amor que te despojava de tantos
ornamentos também enriquecia aqueles que te encontravam. Vejo que tenho andado
afoito atrás de livros e cursos, encho meus dias de palavras e discursos, subo
os degraus e pavimentos, e me vejo cada vez mais vazio e insatisfeito. A
primazia do amor, em gestos e verdade... Assim seja!
“Seja o
próximo dos últimos e sonhe o futuro sem medo!” Tu
viveste o presente como penhor do futuro que sonhavas. Sabias que a vida deveria
ser bem melhor, mas celebraste agradecido a beleza do presente. E mesmo com
teus muitos anos, gostavas de estar ao lado dos pobres e injustiçados e
defendê-los com teu timbre de galo. Por isso tua vida não foi em vão e as tuas
generosas sementes foram acolhidas pela terra e germinam. Aceito esta indicação
e te peço ajuda constante, para que seja este meu caminho e meu tesouro.
Creio que
é isso mesmo que me falta. Tenho tantas outras coisas, mas me falta isso, e
isso é muito. Sei que é por aqui que passa o convite a desfazer-me do que me
ocupa, a dar o que tenho aos pobres e a seguir Jesus para participar do
precioso tesouro do Reino de Deus. Os óculos me ajudarão a ver o mundo sob o
prisma do Evangelho. As canetas me ajudarão a escrever minha nova história. O
terço me aproximará dos humildes. Mas vem em meu socorro, meu amigo, para que a
estas palavras eu não volte para casa triste e desiludido.
Itacir
Brassiani msf
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