POR QUE TENTAM FERIR LETALMENTE O PT?
De saída quero dizer
que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a
Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios
populares.
Há um provérbio popular
alemão que reza: “você bate no saco, mas pensa no animal que carrega o saco”.
Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “mensalão”. Você bate nos
acusados, mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o
grosso da mídia está dando à questão mostra que o grande interesse não se
concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de
morte o PT.
Reconheço com dor que
quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do
poder e cometeram irregularidades inaceitáveis. Muitos sentimo-nos
decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível
resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um
exercício ético do poder na medida em que este poder reforçaria o poder do povo
que assim se faria participativo e democrático.
Lamentavelmente houve a
queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda
não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação
histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais
consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão
inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se
reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.
Por que muitos resistem
e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto apenas duas
decisivas. A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente
temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soía
repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que
garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como
escreveu o historiador José Honório Rodrigues, elas “negaram seus direitos,
arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a
sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que
continuam achando que lhe pertence”.
Ora, o PT e Lula vem
desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites
tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como presidente.
Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula presidente representa uma
virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu
tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de
seus analistas, amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a
propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se
propõem apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.
A segunda razão está em
seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo
tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem
se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos, ao senhor que
hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise
de degeneração. Difamaram a coragem de um presidente que mostrou a autoestima e
a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo,
orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem
um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.
Por fim, temos
esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas
republicanas inauguradas pelo PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a
Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a
Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.
Muitos jovens
empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia
neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos
aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno,
abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário,
suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e
decência.
Essa utopia mínima é
factível. O PT se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em
razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais
pelo tanto de suor e de sangue que custou.
Leonardo Boff
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