quarta-feira, 24 de março de 2021

ANO B | TEMPO QUARESLMAL | DOMINGO DOS RAMOS | 28.03.2021

Jesus, humilde e servidor, é exemplo e caminho para a Igreja!

Abrem-se as portas de uma semana que vale uma vida. Com ramos, flores e cânticos, reunimo-nos nos templos, não para gritar que “bandido bom é bandido morto” ou para pedir a volta da AI-5 ou da ditadura militar, mas para aclamar nosso líder humilde e desarmado. “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” Só alguém infinitamente grande é capaz de fazer-se tão pequeno e tão próximo. Recordaremos mais uma vez que Jesus Cristo, para sublinhar que somos todos irmãos, nos oferece generosamente sua vida desdobrada em serviço, bebe o cálice do martírio num só golpe e realiza plenamente a vontade do Pai.

Para entender a entrada de Jesus em Jerusalém precisamos abandonar as fantasias de poder. Não há nada de triunfal. Jesus vem da Galileia e entra em Jerusalém montado num jumento. Nada de cortejos de honra ou de carreatas triunfais. Jesus chega como sempre foi: um servidor, um simples homem, esvaziado de interesses escusos e submisso às necessidades dos outros. A escolha do jumento é uma provocação aos líderes militares, passados ou esperados. A aclamação do povo da periferia, que o considera filho e herdeiro de Davi, contrasta com a fria acolhida que ele recebe do povo da capital e com o medo dos discípulos.

O povo que acompanha Jesus em sua entrada em Jerusalém aclama entusiasmado o despontar do reino messiânico inspirado em Davi, e a chegada do líder enviado por Deus. Jesus, porém, não realiza as ações poderosas que eles esperavam. Entrando na cidade, vai ao templo, olha tudo, e se retira em Betânia sem fazer nada.  Ele é o ouvinte da Palavra do qual fala o profeta Isaías, e dessa escuta o que brota é uma palavra que desperta os adormecidos e encoraja os acorrentados pela doença e pelo medo. Ele nos ensina que devemos resistir profeticamente contra os poderes que subjugam e escravizam (cf. Texto-Base da CF, § 132).

O entusiasmo suscitado naquele pequeno grupo de gente que vinha do interior não se sustentará por muito tempo. Os gritos de ‘hosana’ logo serão substituídos pelo insolente pedido ‘crucifica-o’, fruto da frustração das esperanças populares, manipuladas interesseiramente pelas autoridades. Os próprios discípulos, que haviam acompanhado Jesus e ouvido suas lições, apesar de uma renovada adesão a Jesus e seu Evangelho, sentem-se irremediavelmente desorientados e defraudados em suas expectativas. Mas nem a divisão que se cria entre os discípulos, nem a real possibilidade da traição fazem Jesus mudar seu plano.

É verdade que Jesus mostra-se abatido e chega a perguntar-se sobre o rumo que deve seguir. No momento crucial, depois da festa de acolhida e da ceia de despedida, ele enfrenta um discernimento difícil. Pede aos discípulos que fiquem com ele e vigiem. “Tudo é possível para ti. Afasta de mim este cálice”. Essa experiência permanece como um alerta para os discípulos e discípulas que aderem a ele esperando facilidades e sucesso. “Vigiem e rezem para não caírem em tentação”. Para Jesus, oração é o momento de confronto profundo com a vontade do Pai, com a missão escrita em caracteres semiapagados e exigentes.

Os discípulos não entendem nada e tem medo, enquanto que Pilatos escolhe o caminho mais fácil: lavar as mãos, fazer a vontade da maioria e, assim, receber o apoio popular que faltava ao seu poder despótico. É o fácil caminho da indiferença diante da dor dos outros, da rápida incriminação dos lutadores, da alegre bajulação dos poderosos, da arrogante pretensão de ser o único artífice do próprio destino. Aquele que o povo simples havia saudado na entrada da cidade como quem vinha e agia em nome de Deus, permanece fiel e acaba preso, abandonado pelos próprios discípulos, condenado e, finalmente, pregado na cruz.

A cruz era um lugar terrivelmente vazio da presença de Deus, a negação mais absoluta de qualquer forma de liderança, sinônimo de horror, de fracasso, de culpa, de impotência, de abandono. Tanto para os fiéis judeus como para os soldados romanos, mas até para os discípulos, a crucifixão representava a completa negação do ser humano, a mais radical falta de sentido. Por isso, compreende-se a provocação dos soldados: “O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz para que vejamos e acreditemos”. Jesus não desce, porque veio unir o que estava dividido, derrubar os muros que separam e ferem, estabelecer a paz e a fraternidade.

Deus Pai e Mãe, compassivo e misericordioso! Nós te louvamos e agradecemos pelo dom da filiação e da fraternidade. Em sua misericórdia, teu filho se fez irmão de todos/as, servidor dos empobrecidos e sofredores, e despertou neles a esperança de vida plena. Que o testemunho dele guie a tua Igreja e a converta, a fim de que seja cada vez mais ouvinte e servidora da tua Palavra, dialogal e testemunhal. E não se furte de lutar para que sejamos mais tolerantes, construindo pontes em vez de muros que separam. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 50,4-7 | Salmo 50 (51) | Carta de Paulo aos Filipenses  5,7-9 |  Evangelho  de São  Marcos 11,1-10

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