Jesus, humilde e servidor, é exemplo e caminho para a Igreja!
Abrem-se as portas de
uma semana que vale uma vida. Com ramos, flores e cânticos, reunimo-nos nos
templos, não para gritar que “bandido bom é bandido morto” ou para pedir a
volta da AI-5 ou da ditadura militar, mas para aclamar nosso líder humilde e
desarmado. “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” Só alguém infinitamente
grande é capaz de fazer-se tão pequeno e tão próximo. Recordaremos mais uma vez
que Jesus Cristo, para sublinhar que somos todos irmãos, nos oferece
generosamente sua vida desdobrada em serviço, bebe o cálice do martírio num só
golpe e realiza plenamente a vontade do Pai.
Para entender a
entrada de Jesus em Jerusalém precisamos abandonar as fantasias de poder. Não
há nada de triunfal. Jesus vem da Galileia e entra em Jerusalém montado num jumento.
Nada de cortejos de honra ou de carreatas triunfais. Jesus chega como sempre
foi: um servidor, um simples homem, esvaziado de interesses escusos e submisso
às necessidades dos outros. A escolha do jumento é uma provocação aos líderes
militares, passados ou esperados. A aclamação do povo da periferia, que o
considera filho e herdeiro de Davi, contrasta com a fria acolhida que ele
recebe do povo da capital e com o medo dos discípulos.
O povo que acompanha
Jesus em sua entrada em Jerusalém aclama entusiasmado o despontar do reino
messiânico inspirado em Davi, e a chegada do líder enviado por Deus. Jesus,
porém, não realiza as ações poderosas que eles esperavam. Entrando na cidade, vai
ao templo, olha tudo, e se retira em Betânia sem fazer nada. Ele é o ouvinte da Palavra do qual fala o
profeta Isaías, e dessa escuta o que brota é uma palavra que desperta os
adormecidos e encoraja os acorrentados pela doença e pelo medo. Ele nos ensina
que devemos resistir profeticamente contra os poderes que subjugam e escravizam
(cf. Texto-Base da CF, § 132).
O entusiasmo suscitado
naquele pequeno grupo de gente que vinha do interior não se sustentará por
muito tempo. Os gritos de ‘hosana’ logo serão substituídos pelo insolente
pedido ‘crucifica-o’, fruto da frustração das esperanças populares, manipuladas
interesseiramente pelas autoridades. Os próprios discípulos, que haviam
acompanhado Jesus e ouvido suas lições, apesar de uma renovada adesão a Jesus e
seu Evangelho, sentem-se irremediavelmente desorientados e defraudados em suas
expectativas. Mas nem a divisão que se cria entre os discípulos, nem a real
possibilidade da traição fazem Jesus mudar seu plano.
É verdade que Jesus mostra-se
abatido e chega a perguntar-se sobre o rumo que deve seguir. No momento
crucial, depois da festa de acolhida e da ceia de despedida, ele enfrenta um
discernimento difícil. Pede aos discípulos que fiquem com ele e vigiem. “Tudo é
possível para ti. Afasta de mim este cálice”. Essa experiência permanece como
um alerta para os discípulos e discípulas que aderem a ele esperando
facilidades e sucesso. “Vigiem e rezem para não caírem em tentação”. Para
Jesus, oração é o momento de confronto profundo com a vontade do Pai, com a
missão escrita em caracteres semiapagados e exigentes.
Os discípulos não
entendem nada e tem medo, enquanto que Pilatos escolhe o caminho mais fácil:
lavar as mãos, fazer a vontade da maioria e, assim, receber o apoio popular que
faltava ao seu poder despótico. É o fácil caminho da indiferença diante da dor
dos outros, da rápida incriminação dos lutadores, da alegre bajulação dos
poderosos, da arrogante pretensão de ser o único artífice do próprio destino.
Aquele que o povo simples havia saudado na entrada da cidade como quem vinha e
agia em nome de Deus, permanece fiel e acaba preso, abandonado pelos próprios
discípulos, condenado e, finalmente, pregado na cruz.
A cruz era um lugar
terrivelmente vazio da presença de Deus, a negação mais absoluta de qualquer
forma de liderança, sinônimo de horror, de fracasso, de culpa, de impotência,
de abandono. Tanto para os fiéis judeus como para os soldados romanos, mas até
para os discípulos, a crucifixão representava a completa negação do ser humano,
a mais radical falta de sentido. Por isso, compreende-se a provocação dos
soldados: “O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz para que vejamos e
acreditemos”. Jesus não desce, porque veio unir o que estava dividido, derrubar
os muros que separam e ferem, estabelecer a paz e a fraternidade.
Deus Pai e
Mãe, compassivo e misericordioso! Nós te louvamos e agradecemos pelo dom da
filiação e da fraternidade. Em sua misericórdia, teu filho se fez irmão de
todos/as, servidor dos empobrecidos e sofredores, e despertou neles a esperança
de vida plena. Que o testemunho dele guie a tua Igreja e a converta, a fim de
que seja cada vez mais ouvinte e servidora da tua Palavra, dialogal e
testemunhal. E não se furte de lutar para que sejamos mais tolerantes, construindo
pontes em vez de muros que separam. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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