quarta-feira, 17 de março de 2021

ANO B | TEMPO QUARESLMAL | QUINTO DOMINGO | 21.03.2021

 Nós cremos na força da semente: morrendo, alcançamos a vida!

Estamos entrando na última etapa da nossa caminhada de preparação para a grande festa da vitória da fraternidade sobre a intolerância, do serviço sobre a prepotência, do servo sobre o senhor. Como o grupo de gregos do evangelho deste domingo, nas quatro semanas que passaram, ouvimos falar de Jesus, procuramos conhecê-lo, e agora pedimos com insistência: “Queremos ver Jesus!” Estejamos pois muito atentos, sintonizemos bem nossos ouvidos e fixemos nosso olhar no mistério profundo da semente.

Jesus recém havia realizado um sinal que impressionara muita gente, devolvendo a vida ao amigo Lázaro. Quando voltou a Betânia, Marta, Maria e o próprio Lázaro ofereceram-lhe um jantar de agradecimento, e Maria ungiu seus pés com um perfume precioso. Em seguida, Jesus foi a Jerusalém e entrou na cidade montado num jumento, acompanhado de uma multidão que o aclamava como Messias libertador. “Todo mundo vai atrás de Jesus”. As autoridades religiosas estavam preocupadas com a crescente fama de Jesus.

É nesse contexto que alguns crentes de origem pagã, excluídos da plena cidadania de Israel, chegando a Jerusalém para a festa da páscoa, manifestam a Filipe o desejo de ver Jesus. Filipe não se sente em condições de dizer “venham e vejam”, e procura André, que, como ele, era discípulo de Jesus. Juntos, eles comunicam a Jesus o desejo daquele grupo de estrangeiros. Enquanto as autoridades religiosas procuram um jeito de prender Jesus, os pagãos, tratados como crentes de segunda classe, manifestam o desejo de conhecê-lo, e o evangelista faz questão de ressaltar esse paradoxo.

É interessante notar a reação de Jesus frente ao pedido desses judeus de origem pagã. Ele poderia aproveitar a oportunidade para aumentar sua fama, mas colhe o momento para desenvolver uma catequese profunda e exigente sobre o seu messianismo. Jesus responde declarando que sua Hora está próxima, e que logo mais sua Glória será plenamente conhecida. Essa Hora é a meta da sua vida, mas está envolta em mistério e provoca medo. A assinatura da nova aliança visualizada por Jeremias tem um custo que parece assustar o próprio Jesus. Sua Hora é a paixão por amor, sua Glória é a cruz.

A glória do Filho do Homem – assim como a glória dos filhos e filhas de Deus – está muito longe de se identificar com a fama e o sucesso. O brilho de Deus se assemelha ao mistério da semente. “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto”. A conquista da fama e do poder de comandar e ordenar, em vez de ser portadora de glória, é caminho para a esterilidade e a solidão. Só o dinamismo de um amor que leva à doação radical de si mesmo a fundo perdido tem futuro e é digna de louvor. Mas este caminho nunca foi e não é fácil.

O que impressiona é que, no exato momento em que sua fama ultrapassa os estreitos limites do judaísmo, Jesus acena para o mistério da semente, abre-nos seu coração e revela-nos sua vulnerabilidade. “Agora estou muito perturbado. E o que vou dizer? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, manifesta a glória do teu nome”. A possibilidade do martírio desestabiliza o próprio Filho de Deus, mas esse é o testemunho inequívoco de amor e o ápice da vida cristã. É o único caminho que nos conduz à verdadeira liberdade e a uma vida plena de sentido.

O Messias é vulnerável, e assumindo essa condição comum aos seres humanos, dá-lhes a salvação. A carta aos Hebreus diz sem rodeios: “Durante sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus em alta voz e com lágrimas ao Deus que o podia salvar da morte.” A assunção dessa condição humana encarna e exemplifica sua obediência e sua perfeição. E é assim que ele se torna fonte na qual também nós podemos beber liberdade, salvação e vida plena. Jesus Cristo é o Messias de Deus que, inspirado no mistério da semente, mergulha fundo na debilidade humana e a assume como caminho de humanização.

Jesus de Nazaré: também nós desejamos ver-te de perto, ouvir tua palavra, seguir teus passos. Tu és um profeta que se entrega sem reservas ao sonho de mudar o mundo e de revelar o rosto de um Deus que é pai e mãe. Por isso, assumes a vulnerabilidade e a conflitividade, desces ao fundo da condição humana e aceitas ser elevado na cruz, entre criminosos desprezados. Imprime tua força em nosso coração. Renova tua aliança conosco. Ajuda-nos a ser semente que aceita corajosamente a morte para frutificar abundantemente. Ensina-nos o que realmente significa obedecer ao Pai. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Jeremias 31,31-34 | Salmo 50 (51) | Carta de Paulo aos Hebreus 5,7-9 |  Evangelho  de São  João 12,20-33

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