UMA LEI PARADOXAL
Encontramos poucas frases no Evangelho tão desafiantes como estas
palavras que reúnem uma convicção muito de Jesus: “Garanto-vos que se o grão de
trigo não cai em terra e morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto”.
A ideia de Jesus é clara. Com a
vida acontece o mesmo que com o grão de trigo, que tem de morrer para libertar
toda a sua energia e um dia produzir fruto. Se “não morre”, fica em cima do
terreno. Pelo contrário, se “morrer”, volta a levantar-se, trazendo consigo
novos grãos e nova vida.
Com esta linguagem tão gráfica e cheia de força, Jesus deixa antever que
a Sua morte, longe de ser um fracasso, será precisamente o que dará fecundidade
à Sua vida. Mas, ao mesmo tempo, convida
os seus seguidores a viverem de acordo com esta mesma lei paradoxal: para dar
vida é necessário “morrer”.
Não podemos gerar vida sem dar a
própria. Não é possível ajuda a viver se não
estivermos dispostos a “desviver-nos” pelos outros. Ninguém contribui para um mundo mais justo e humano vivendo apegado ao
seu próprio bem-estar. Ninguém trabalha seriamente pelo reino de Deus e a Sua
justiça se não está disposto a assumir os riscos e rejeições, a conflitualidade
e a perseguição que Jesus sofreu.
Passamos a vida tentando evitar sofrimentos e problemas. A cultura do bem-estar obriga-nos a
organizar-nos da forma mais cômoda e agradável possível. É o ideal supremo.
No entanto, há sofrimentos e renúncias que é necessário assumir se queremos que
a nossa vida seja fecunda e criativa. O
hedonismo não é uma força mobilizadora; a obsessão com o próprio bem-estar apequena
as pessoas.
Habituamo-nos a viver fechando os
olhos ao sofrimento dos outros. Parece ser o mais inteligente e
sensato para sermos felizes. É um erro. Seguramente
conseguiremos evitar alguns problemas e dissabores, mas o nosso bem-estar será
cada vez mais vazio e estéril, a nossa religião cada vez mais triste e egoísta.
Entretanto, os oprimidos e afligidos querem saber se alguém se importa com a
sua dor.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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