quinta-feira, 4 de março de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 07.03.2021

AMOR NÃO SE COMPRA

Quando Jesus entra no Templo de Jerusalém, não encontra pessoas que procuram Deus, mas sim comércio religioso. A sua atuação violenta perante os vendedores e cambistas é a reação do Profeta que se encontra com a religião transformada em mercado.

Aquele Templo, chamado a ser o lugar onde se haveria de manifestar a glória de Deus e o seu amor fiel, converteu-se em lugar de enganos e abusos, onde reinava o desejo de dinheiro e comércio de interesses.

Quem conhece Jesus não estranha a Sua indignação. Se algo aparece constantemente no núcleo da sua mensagem, é a gratuidade de Deus, que ama os seus filhos e filhas sem limites, e só quer ver entre eles o amor fraterno e solidário.

Portanto, uma vida transformada em mercado, onde tudo se compra e vende – inclusive a relação com o mistério de Deus – é a perversão mais destruidora do que Jesus quer promover. É certo que a nossa vida só é possível a partir do intercâmbio e do serviço mútuo. Todos vivemos dando e recebendo. O risco está em reduzir as nossas relações a comércio interessado, pensando que na vida tudo consiste em vender e comprar, tirando o máximo proveito dos outros.

Quase sem nos darmos conta, podemos converter-nos em vendedores e cambistas que não sabem fazer outra coisa senão negociar. Homens e mulheres incapacitados de amar, que eliminaram das suas vidas tudo o que seja dar.

Então é fácil cair na tentação de negociar até mesmo com Deus: oferecer-lhe algum culto para ficar bem com Ele; pagar missas ou fazer promessas para obter Dele algum benefício; cumprir ritos para tê-lo a nosso favor. O mais grave é esquecer que Deus é amor, e o amor não se compra. Jesus diz que Deus “quer amor e não sacrifícios”.

Talvez o que precisamos fazer hoje, antes de tudo, é escutar na Igreja é o anúncio da gratuidade de Deus. Num mundo transformado em mercado, onde tudo é exigido, comprado ou ganho, só a gratuidade pode continuar a fascinar e surpreender, porque é o sinal mais autêntico do amor. Precisamos estar mais atentos/as em não desfigurar um Deus que é amor gratuito, fazendo-O à nossa medida: tão triste, egoísta e pequeno como as nossas vidas mercantilizadas.

Quem conhece a sensação da graça e já experimentou alguma vez o amor surpreendente de Deus, sente-se convidado/a a irradiar a sua gratuidade, e é provavelmente quem melhor pode introduzir algo bom e novo nesta sociedade onde tantas pessoas morrem de solidão, tédio e falta de amor.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: