sexta-feira, 22 de setembro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 24.09.2023

A BONDADE ESCANDALOSA DE DEUS

Provavelmente era outono, e nas cidades da Galileia vivia-se intensamente a vindima. Jesus via nas praças aqueles que não tinham terra própria, esperando ser contratados para ganhar o sustento do dia. Como ajudar a essas pobres pessoas a sentir a misteriosa bondade de Deus para com todos?

Jesus contou-lhes uma parábola surpreendente. Contou-lhes de um homem que contratou todos os trabalhadores que podia. Ele mesmo foi à praça da cidade uma e outra vez, em horários diferentes. Ao final do dia, embora o trabalho tivesse sido absolutamente desigual, a todos lhes deu um denário: o que as suas famílias precisavam para viver.

O primeiro grupo protesta. Eles não reclamam de receber mais ou menos dinheiro. O que os ofende é que o Senhor os «tratou os últimos como tratou a eles», ou seja: consolidou a igualdade entre eles. A resposta do homem ao porta-voz é admirável: «Tens inveja porque sou bom?».

A parábola é tão revolucionária que seguramente depois de vinte séculos ainda não nos atrevemos a levá-la a sério. É verdade que Deus é bom até para aqueles que mal conseguem ficar diante dele com méritos e obras? Será verdade que no coração do Pai não há privilégios baseados no trabalho mais ou menos meritório de quem trabalhou na sua vinha?

Todos os nossos esquemas são abalados quando aparece o amor gratuito e insondável de Deus. Por isso nos parece escandaloso que Jesus pareça esquecer os piedosos, carregados de méritos, e se aproxime precisamente dos que não têm direito a nenhuma recompensa de Deus: pecadores que não observam a Aliança, ou as prostitutas que não têm acesso ao templo.

Às vezes encerramo-nos nos nossos cálculos, sem permitir que Deus seja bom para todos. Não toleramos a sua bondade infinita para com todos: pensamos que há pessoas que não a merecem. Parece-nos que Deus deveria dar a cada um o que merece, e só o que merece. Ainda bem que Deus não é como nós. Do seu coração de Pai, sabe dar o seu amor salvador a essas pessoas que nós não sabemos amar.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito linda essa mensagem. Deveríamos amar a todos por igual. Com Deus ama.