sábado, 8 de junho de 2024

O Evangelho da igualdade deve estar no centro da vida em família

O Evangelho da igualdade deve estar no centro da vida em família | 375 | 09.06.24 | Marcos 3,20-35

O ressurgimento das práticas de exorcismo pode nos induzir a pensar que o núcleo do evangelho deste domingo seja o combate ao demônio. Na verdade, Jesus faz é explica e radicaliza o conflito entre a sua prática libertária e o fechamento ideológico das elites religiosas, agarradas à defesa do seu poder. Precisamos distinguir entre a realidade e a linguagem: a linguagem é apocalíptica, mas o conflito é político e social.

Diante da ação solidária e libertadora de Jesus, os escribas contra-atacam tentando neutralizar sua ação e identificar Jesus com o próprio diabo, protótipo dos inimigos do ser humano. Pretendendo ser os únicos representantes de Deus, os escribas e doutores da lei dizem que aquele que os desmascara é guiado e motivado por um espírito diabólico. Jesus se defende “atacando com as armas dos próprios adversários”. Jesus diz que se agisse mesmo em nome do diabo, o reino de satanás estaria dividido e fadado à ruína.

O clímax dessa disputa está na afirmação indireta de que os verdadeiros pecadores são os próprios escribas e doutores da lei, a elite religiosa que desqualifica a ação de Jesus dizendo que é diabólica. Esse grupo é culpado de um pecado eterno, está coberto de impureza e envolvido numa cegueira que não permite que veja com clareza. Os líderes religiosos pecam contra o Espírito Santo, iludem a si mesmos e aos outros dizendo que é mau aquilo que na realidade é bom e libertador.

É no quadro deste conflito que compreendemos a tensão entre Jesus e seus familiares, que haviam tomado conhecimento daquilo que Jesus fazia e dizia, sentiram-se importunadas pela multidão que invadia sua casa, e começou a temer pela integridade do próprio Jesus e pelo bom nome da família. Eles têm a nítida impressão de que Jesus enlouqueceu. Dão até a impressão de compartilhar da visão dos escribas, e tentam fazer Jesus interromper ou desistir da sua missão.

A família patriarcal era um dos anéis da corrente da dominação, uma célula de reprodução da sociedade excludente e intolerante. Jesus avança na superação desse sistema de opressão, mas não se detém na crítica destruidora das instituições, dos modelos de relacionamento. Ele coloca Deus no lugar da autoridade patriarcal, substitui a estreiteza dos laços de sangue pelos vínculos que brotam da condição humana. Para Jesus, Deus e o seu Reino são absolutos, e todas as instituições e autoridades, inclusive a família, são relativas e transitórias.

 

Meditação:

·    Deixe-se envolver na cena tensa, dê atenção aos diversos personagens que contracenam, naquilo que fazem e dizem

·    Será que também nós, para defender nossos pontos de vista, nossos interesses e nossas ideologias, não chamamos de “mal” o que é “bom”?

·    Em que medida as relações no interior de nossas comunidades e famílias estariam reproduzindo as relações violentas e dominadoras?

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