O Evangelho da igualdade deve estar no
centro da vida em família | 375 | 09.06.24 | Marcos 3,20-35
O ressurgimento
das práticas de exorcismo pode nos induzir a pensar que o núcleo do evangelho
deste domingo seja o combate ao demônio. Na verdade, Jesus faz é explica e
radicaliza o conflito entre a sua prática libertária e o fechamento ideológico
das elites religiosas, agarradas à defesa do seu poder. Precisamos distinguir
entre a realidade e a linguagem: a linguagem é apocalíptica, mas o conflito é
político e social.
Diante da ação solidária e libertadora
de Jesus, os escribas contra-atacam tentando neutralizar sua ação e identificar
Jesus com o próprio diabo, protótipo dos inimigos do ser humano. Pretendendo
ser os únicos representantes de Deus, os escribas e doutores da lei dizem que
aquele que os desmascara é guiado e motivado por um espírito diabólico. Jesus se
defende “atacando com as armas dos próprios adversários”. Jesus diz que se
agisse mesmo em nome do diabo, o reino de satanás estaria dividido e fadado à
ruína.
O clímax dessa disputa está na
afirmação indireta de que os verdadeiros pecadores são os próprios escribas e
doutores da lei, a elite religiosa que desqualifica a ação de Jesus dizendo que
é diabólica. Esse grupo é culpado de um pecado eterno, está coberto de impureza
e envolvido numa cegueira que não permite que veja com clareza. Os líderes
religiosos pecam contra o Espírito Santo, iludem a si mesmos e aos outros
dizendo que é mau aquilo que na realidade é bom e libertador.
É no quadro deste conflito que
compreendemos a tensão entre Jesus e seus familiares, que haviam tomado
conhecimento daquilo que Jesus fazia e dizia, sentiram-se importunadas pela
multidão que invadia sua casa, e começou a temer pela integridade do próprio
Jesus e pelo bom nome da família. Eles têm a nítida impressão de que Jesus
enlouqueceu. Dão até a impressão de compartilhar da visão dos escribas, e
tentam fazer Jesus interromper ou desistir da sua missão.
A família
patriarcal era um dos anéis da corrente da dominação, uma célula de reprodução
da sociedade excludente e intolerante. Jesus avança na superação desse sistema
de opressão, mas não se detém na crítica destruidora das instituições, dos
modelos de relacionamento. Ele coloca Deus no lugar da autoridade patriarcal,
substitui a estreiteza dos laços de sangue pelos vínculos que brotam da
condição humana. Para Jesus, Deus e o seu Reino são absolutos, e todas as
instituições e autoridades, inclusive a família, são relativas e transitórias.
Meditação:
· Deixe-se envolver na cena tensa, dê atenção aos diversos
personagens que contracenam, naquilo que fazem e dizem
· Será que também nós, para defender nossos pontos de vista,
nossos interesses e nossas ideologias, não chamamos de “mal” o que é “bom”?
· Em que medida as relações no interior de nossas comunidades e
famílias estariam reproduzindo as relações violentas e dominadoras?
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