Deus não pode ser invocado para legitimar relações desiguais e injustas | 371 | 05.06.24
| Mc 12,18-27
Depois que Jesus desmonta a armadilha montada para
ele cair pelos fariseus e herodianos, são os saduceus que pegam em armas e
continuam a batalha. Os saduceus são um grupo social composto pela aristocracia
sacerdotal e leiga de Israel, gente que detém o poder econômico, político e
religioso, e que divulga uma ideologia tanto conservadora quanto pragmática. Em
geral, os saduceus são aliados dos invasores romanos, de olho em possíveis
vantagens econômicas. Eles não têm ideologia política nem religiosa; apenas
perseguem vantagens econômicas.
Atenção, porque podemos nos enganar pensando que os
saduceus estão interessados em discutir com Jesus sobre a ressurreição dos
mortos, que eles negavam. Na verdade, o grupo dos saduceus está interessado na
manutenção da posse dos bens (mediante a descendência) e da estrutura família
patriarcal. Na história ridícula que eles imaginam e propõem a Jesus não
transparece um pingo de preocupação com a figura da mulher, ferida pela
esterilidade, que eles consideravam uma maldição. O problema deles não é moral
ou teológico, mas econômico.
Chama a atenção a repetida afirmação de Jesus de
que eles estão enganados, que eles não sabem ler nem interpretar as escrituras.
E isso obviamente não se refere apenas ao tema específico da ressurreição dos
mortos, mas também à leitura ideológica e interesseira das escrituras que eles
fazem e ensinam para defender o patriarcalismo e o patrimonialismo. Para Jesus,
a ressurreição, que eles negam, é uma afirmação de novas e possíveis relações
igualitárias. Deus se recusa a perpetuar as relações desiguais do patriarcado
na eternidade, e, assim, as deslegitima!
Neste debate, Jesus recoloca a libertação e do
respeito à dignidade das pessoas no centro da revelação. Deus é o Deus dos
vivos, dos humanos, dos iguais, do homem e da mulher que se unem e formam uma
só carne, sem predomínio de um sobre o outro. E tanto o homem como a mulher são
chamados a colaborar com a obra criadora e libertadora de Deus, cuidando da
criação e das gerações humanas, deixando em segundo plano as questões menores
que são a propriedade e a herança. No projeto de Deus não há espaço para o
patriarcalismo nem para o patrimonialismo. Aquilo que sempre foi não será,
precisa ser mudado, transformado.
Meditação:
· Situe-se no interior da cena, diante de Jesus e
em meio aos saduceus e seus mal-disfarçados interesses
· Você consegue perceber hoje, por detrás dos
discursos que defendem a família tradicional, interesses ideológicos e projetos
de violência?
· Estaríamos nós sendo tentados a uma
identificação cômoda do Evangelho com o patriarcalismo e com o capitalismo?
· Quais são as atitudes e práticas que revelam a
conivência de setores e Igrejas cristãs com projetos de dominação e acúmulo?
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