terça-feira, 4 de junho de 2024

Deus não pode ser invocado para legitimar relações desiguais

Deus não pode ser invocado para legitimar relações desiguais e injustas | 371 | 05.06.24 | Mc 12,18-27

Depois que Jesus desmonta a armadilha montada para ele cair pelos fariseus e herodianos, são os saduceus que pegam em armas e continuam a batalha. Os saduceus são um grupo social composto pela aristocracia sacerdotal e leiga de Israel, gente que detém o poder econômico, político e religioso, e que divulga uma ideologia tanto conservadora quanto pragmática. Em geral, os saduceus são aliados dos invasores romanos, de olho em possíveis vantagens econômicas. Eles não têm ideologia política nem religiosa; apenas perseguem vantagens econômicas.

Atenção, porque podemos nos enganar pensando que os saduceus estão interessados em discutir com Jesus sobre a ressurreição dos mortos, que eles negavam. Na verdade, o grupo dos saduceus está interessado na manutenção da posse dos bens (mediante a descendência) e da estrutura família patriarcal. Na história ridícula que eles imaginam e propõem a Jesus não transparece um pingo de preocupação com a figura da mulher, ferida pela esterilidade, que eles consideravam uma maldição. O problema deles não é moral ou teológico, mas econômico.

Chama a atenção a repetida afirmação de Jesus de que eles estão enganados, que eles não sabem ler nem interpretar as escrituras. E isso obviamente não se refere apenas ao tema específico da ressurreição dos mortos, mas também à leitura ideológica e interesseira das escrituras que eles fazem e ensinam para defender o patriarcalismo e o patrimonialismo. Para Jesus, a ressurreição, que eles negam, é uma afirmação de novas e possíveis relações igualitárias. Deus se recusa a perpetuar as relações desiguais do patriarcado na eternidade, e, assim, as deslegitima!

Neste debate, Jesus recoloca a libertação e do respeito à dignidade das pessoas no centro da revelação. Deus é o Deus dos vivos, dos humanos, dos iguais, do homem e da mulher que se unem e formam uma só carne, sem predomínio de um sobre o outro. E tanto o homem como a mulher são chamados a colaborar com a obra criadora e libertadora de Deus, cuidando da criação e das gerações humanas, deixando em segundo plano as questões menores que são a propriedade e a herança. No projeto de Deus não há espaço para o patriarcalismo nem para o patrimonialismo. Aquilo que sempre foi não será, precisa ser mudado, transformado.

 

Meditação:

·      Situe-se no interior da cena, diante de Jesus e em meio aos saduceus e seus mal-disfarçados interesses

·      Você consegue perceber hoje, por detrás dos discursos que defendem a família tradicional, interesses ideológicos e projetos de violência?

·      Estaríamos nós sendo tentados a uma identificação cômoda do Evangelho com o patriarcalismo e com o capitalismo?

·      Quais são as atitudes e práticas que revelam a conivência de setores e Igrejas cristãs com projetos de dominação e acúmulo?

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